TECHNIBUS – A prefeitura divulgou que irá contratar uma consultoria especializada para repensar a mobilidade na capital mineira. Como essa consultoria atuaria exatamente?
Guilherme Willer – A ideia é ampliar e modernizar o modelo de negócio da gestão da mobilidade de Belo Horizonte. Quando se pensa em mobilidade, considera-se desde a calçada, o estacionamento, os aplicativos, táxis, bicicletas até os ônibus. As grandes cidades do mundo tratam a mobilidade como um pacote integrado, um sistema de mobilidade. Esse é o objetivo do novo modelo: inserir o contrato de concessão de ônibus como parte de um sistema mais amplo e integrado. Planejamos buscar financiamento para desenvolver essa proposta, que acreditamos levará a mobilidade de Belo Horizonte a um novo patamar.
TECHNIBUS – Como será a revisão da atual rede de transporte coletivo prevista para 2025?
Guilherme Willer – O município de Belo Horizonte possui uma rede de transporte com bastante abrangência e acessibilidade espacial, no entanto, com algumas sobreposições, principalmente em relação ao transporte metropolitano. Dessa forma, entende-se como uma oportunidade a otimização da rede, com melhor aproveitamento da frota, redução de custos, fortalecimento de rotas prioritárias e preparação para para os projetos futuros de mobilidade, tais como o BRT Amazonas e a linha 2 do metrô.
TECHNIBUS – BH irá adquirir 100 ônibus elétricos pelo PAC Seleções. Além dessa aquisição, quais os principais destaques do Plano de Mobilidade Limpa? Há intenção de utilizar também outras tecnologias menos poluentes, além da eletrificação?
Guilherme Willer – A prefeitura planeja adquirir os ônibus elétricos e o edital já está pronto. Testamos veículos de quatro fabricantes, e esses testes nortearam nossas decisões. A compra será realizada em lotes de 20 veículos e as entregas serão fracionadas em cinco etapas, de modo a compatibilizar as instalações dos carregadores e a capacidade produtiva das montadoras dos veículos. O processo ocorrerá ao longo deste ano, dependendo da assinatura de contrato de financiamento, da licitação e dos prazos de entrega. Este é o começo de uma nova fase. O Plano Diretor tem como meta a substituição de 40% da frota atual por ônibus com energia limpa até 2030. Também é importante destacar que mais de 1.000 ônibus novos, recentemente integrados ao sistema, já possuem tecnologia sustentável Euro 6, que reduz em até 80% a emissão de poluentes.
TECHNIBUS – Em termos de tecnologia, quais devem ser os avanços no sistema de transporte coletivo de BH?
Guilherme Willer – A Sumob vem liderando iniciativas que colocam Belo Horizonte na vanguarda da mobilidade urbana inteligente. Em julho de 2023, foi criada a gerência de Pesquisa e Ciência de Dados, com o objetivo de consolidar uma área estratégica voltada à análise e uso de dados. Essa iniciativa visa a embasar decisões, promover a inovação e otimizar a gestão do transporte público, reforçando o compromisso com eficiência, transparência e modernização. Um marco nesse avanço é a implementação de um Data Lake, um projeto pioneiro na Prefeitura de Belo Horizonte. Essa plataforma centraliza dados operacionais e de especificação do sistema de transporte, criando um ecossistema ideal para análises avançadas. Isso permite integrar e processar grandes volumes de informações, sobrepondo diversas camadas de dados para análises mais profundas e precisas, aprimorando tanto o planejamento quanto a gestão operacional do transporte. Essa abordagem utiliza técnicas de computação em nuvem para gerar resultados mais rápidos e consistentes. Mais informações podem ser encontradas no portal DataBH.
(https://databh.pbh.gov.br/projetos/mobilidade-inteligente-por-meio-de-dados).
A estruturação do Data Lake começou com a apuração da Remuneração Complementar do Sistema de Transporte Público. Por meio de fluxos de dados integrados, é possível avaliar critérios operacionais, como o cumprimento de quadros de horários e itinerários (analisando dados de GPS), bem como aspectos relacionados à fiscalização, como o funcionamento adequado do ar-condicionado, condições dos veículos (validade de autorização de tráfego) e operação correta dos letreiros. Essa análise robusta assegura o cumprimento de padrões mínimos e permite determinar com precisão os valores da remuneração complementar. Além disso, a Sumob vem avançando na melhoria das metodologias para levantamento de dados como Origem e Destino de usuários, Embarque e Desembarque e o Fator de Rotatividade, utilizando a bilhetagem eletrônica como base. Também estão em curso estudos para identificar a velocidade média do transporte público por meio de dados de GPS, além de analisar o transporte individual com informações obtidas pelo programa Waze for Cities, em parceria com o aplicativo.
Outro diferencial é o compromisso com a abertura de dados. A Sumob tem contribuído para que Belo Horizonte se destaque nacionalmente, conquistando o 1º lugar em Mobilidade Urbana no Índice de Dados Abertos (ODI 2023). Entre as ações pioneiras está a criação de um feed GTFS exclusivo para o Carnaval 2024, que forneceu informações atualizadas sobre desvios, horários e alertas, facilitando a mobilidade dos usuários durante o evento. Essas iniciativas, ancoradas em tecnologia, conectividade e inteligência de dados, colocam Belo Horizonte em destaque como uma cidade que utiliza inovação para enfrentar os desafios da mobilidade urbana, garantindo mais eficiência e qualidade nos serviços de transporte coletivo.
TECHNIBUS – E em infraestrutura, quais as principais obras que impulsionarão o transporte coletivo?
Guilherme Willer – O grande projeto que transformará a mobilidade da capital é a construção do BRT Amazonas, que modificará o acesso das pessoas do Vetor Oeste da Capital e região metropolitana, atendendo às regionais Oeste e Barreiro e cidades importantes como Contagem e Betim. Ainda, com recursos do PAC serão implantados mais 64 km de faixas exclusivas para o transporte coletivo e preferenciais, mais 67 km de ciclovias e 800 paraciclos e cinco bicicletários nas estações de integração de ônibus.
TECHNIBUS – Poderia detalhar o projeto do BRT Amazonas?
Guilherme Willer – O sistema operará em faixas exclusivas à esquerda (junto ao canteiro central) no corredor Amazonas e na avenida Olegário Maciel, e à direita em vias do Barreiro e do município de Contagem. Ao todo, serão 39,67 km de vias, com estações de transferência similares às dos corredores Antônio Carlos, Cristiano Machado, Paraná e Santos Dumont. Além disso, será construída uma nova estação de integração na interseção das avenidas Amazonas e Tereza Cristina e serão realizadas melhorias nas estações Barreiro e Diamante. Esse é um projeto de grande escala e ainda está na fase de desenvolvimento.
TECHNIBUS – Sobre 2024, quais foram, na sua avaliação, os maiores avanços em mobilidade na capital mineira?
Guilherme Willer – A prefeitura de Belo Horizonte intensificou em 2024 os esforços para implantar melhorias no transporte coletivo da cidade, com foco na renovação da frota e ampliação da oferta de viagens. Um terço da frota foi renovada, totalizando 955 veículos novos. As linhas que atendem vilas e favelas receberam 21 micro-ônibus, e a renovação foi iniciada também no sistema Move, com a incorporação de 115 novos veículos. Somente neste ano, 400 ônibus novos foram integrados ao sistema, todos com ar-condicionado, suspensão a ar e tecnologia sustentável, baseada no sistema Euro 6, que reduz em até 80% a emissão de gases poluentes. Além disso, a prefeitura já garantiu, junto ao governo federal, R$ 317 milhões por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Seleções para a aquisição de cerca de 100 ônibus elétricos, que serão incorporados à frota municipal no próximo ano. O Plano Diretor e o Plano de Mobilidade Limpa da PBH preveem a substituição de 40% da frota atual por ônibus movidos a energia limpa até 2030, alinhando o município aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e reduzindo as emissões de carbono.
O sistema também passou por melhorias operacionais, com a inclusão de 1.300 viagens em 278 linhas de ônibus, especialmente nos horários de pico, reduzindo a lotação e aumentando o conforto dos passageiros. Atualmente, são realizadas 24.383 viagens por dia. Foram também criadas oito novas linhas e outras 13 tiveram seus itinerários modificados, para atender melhor a população que busca unidades de saúde. 86 novos abrigos de ônibus foram implantados e outros 129 passaram por manutenção. Na área central, um projeto de reorganização dos pontos de embarque e desembarque está agrupando as linhas de acordo com os destinos dos passageiros, reduzindo o tempo de espera e tornando o deslocamento mais eficiente para os usuários.
Uma das principais diretrizes para garantir a melhoria do transporte coletivo foi a intensificação da fiscalização. Em janeiro de 2024, a prefeitura adotou a política de “Tolerância Zero” em relação às empresas de transporte público, um conjunto de medidas voltadas a melhorar o atendimento ao cidadão e punir a má qualidade na prestação do serviço. Desde o início da política, foram realizadas 3.954 ações de fiscalização e 23.482 veículos dos sistemas convencional, MOVE e suplementar foram vistoriados (alguns mais de uma vez), resultando em uma média superior a 560 veículos fiscalizados por semana. Essas ações geraram 26.947 autuações, 997 Autorizações de Transporte (ATs) recolhidas e 23 veículos encaminhados ao pátio do Detran-MG.
A qualidade do serviço está assegurada pela Lei 11.458/2023, que modernizou o transporte público de Belo Horizonte e completou um ano em março. Com essa legislação, a Prefeitura passou a adotar um novo modelo de remuneração para o transporte coletivo suplementar e convencional, em que o poder público complementa a tarifa – até então paga exclusivamente pelos usuários. Para receber essa remuneração complementar, as concessionárias devem cumprir uma série de condicionantes, como segurança, limpeza, conservação dos ônibus, garantia de ar-condicionado em funcionamento, pontualidade, cumprimento da programação e respeito ao limite de passageiros. Outro destaque é que temos hoje a frota com a menor idade média entre as capitais do país, com cinco anos e quatro meses, sendo mais de 950 ônibus novos nos últimos dois anos. Todas as melhorias do transporte coletivo da capital se somam às ações diárias das equipes de fiscalização, que têm realizado um trabalho inigualável e único no Brasil.
Além disso, pensando em reduzir o tempo de viagem para as pessoas que utilizam o transporte coletivo, a prefeitura de Belo Horizonte tem implantado faixas prioritárias em vias da cidade. Em 2024, foram iniciadas as obras de implantação de 4,2 km de faixas preferenciais e exclusivas na avenida Afonso Pena, além do desenvolvimento de projetos executivos para a implantação de mais 64,3 km de faixas preferenciais e exclusivas. Esses projetos foram apresentados ao PAC 2023 e aguardam a liberação de recursos para execução. O projeto do BRT Amazonas segue o cronograma planejado e está na fase de elaboração de estudos técnicos de transporte e projetos de construção de faixas exclusivas e estações. O projeto prevê a construção de mais de 24 km de faixas exclusivas e 15,2 km de outros tratamentos, como bolsões de caminhabilidade e melhorias nos baixios de viadutos.
Em 2024, a prefeitura, em parceria com um empreendedor logístico, concluiu a implantação de uma faixa exclusiva na região do Barreiro, na avenida Waldyr Soeiro Emrich (Via do Minério), no trecho entre a avenida Joaquim de Oliveira e a rua Alfredina Amaral. Atualmente, Belo Horizonte possui 57,6 km de faixas ou pistas exclusivas e outros 19,9 km de faixas preferenciais, totalizando 77,5 km de priorização para o transporte coletivo.
A prefeitura promoveu ainda diversos benefícios para os taxistas, transporte escolar, além de melhorias para pedestres e ciclistas. Seguindo o exemplo de grandes capitais mundiais, Belo Horizonte investe continuamente em mobilidade ativa, implantando rotas seguras para pedestres, ciclovias e estações de bicicletas elétricas. O sistema de bicicletas elétricas compartilhadas, implementado em parceria com a Tembici, foi concluído com 51 estações e 550 bicicletas distribuídas pela Área Central e pela Orla da Lagoa da Pampulha. Em um ano de operação, foram realizados mais de 250 mil deslocamentos. A rede cicloviária da capital está sendo ampliada de forma integrada. Em 2024, foram implantados 8,8 km de ciclovias e requalificados cerca de 24 km. Além disso, projetos executivos para a implantação de mais 66,84 km de ciclovias foram apresentados ao PAC 2023 e aguardam a liberação de recursos. Para aumentar a segurança dos pedestres, de janeiro a outubro a prefeitura implementou 55 novas travessias semaforizadas e foram realizadas, no mesmo período, 22.700 operações de trânsito na cidade. As atividades incluíram fiscalização nas ruas para garantir a segurança, fluidez e o cumprimento das normas de trânsito.