Nos últimos meses, o uso do GNV (gás natural veicular) e do biometano como alternativa sustentável para abastecer a frota do transporte coletivo brasileiro voltou a ganhar espaço nas discussões entre especialistas, autoridades e empresários e também na mídia especializada. Abundante, limpo, econômico – os ônibus a gás têm um preço similar aos a diesel – o combustível possui grandes chances de se tornar uma das tecnologias principais, ao lado dos elétricos, no processo de descarbonização do país. A dificuldade? Assim como ocorre com a eletrificação, faltam diretrizes nacionais claras e infraestrutura de abastecimento.
Infelizmente, essa história é antiga. Não é de hoje que o GNV é apontado como uma excelente opção para tornar a frota de ônibus menos poluente. A segunda edição da Technibus, em agosto de 1991, trazia uma reportagem sobre o assunto, com um título bastante significativo: “Gás Natural: uma ciranda de problemas”. A jornalista Lígia Maria Cruz apontava os desafios que cercavam essa solução:
“Para elas (empresas de ônibus que haviam aderido ao gás), há mais dúvidas que certezas, mais prejuízos que benesses e mais força de vontade do que apoio. Tudo isso por uma simples razão: falta uma política nacional que determine as regras, defina os preços e viabilize a produção em escala de veículos movidos à gás natural.”
A reportagem apresentava a situação de diversas empresas da região nordeste que, na década de 80, haviam adquirido ônibus movidos a gás. A empresa Cidade do Sol de Natal (RN), por exemplo, que contava com uma frota de 170 ônibus, sendo 10% movidos a gás, as queixas se acumulavam. “Para Eudo Laranjeiras (diretor da empresa), a proposta do gás é válida, muito interessante para o país em termos de redução na importação de petróleo e para a melhoria da vida nas cidades, mas faltam regras próprias para viabilizá-la. Por exemplo, o preço do gás hoje está 79,16°/o abaixo do diesel, mas nada impede que o governo aumente, visto que não há uma política específica”, relatava a Technibus nº 2.
Na capital de Pernambuco, Recife, a experiência do gás natural havia sido iniciada naquele ano de 1991 e já havia muitas críticas. A principal delas partia do diretor presidente da EMTU, Paulo Murilo Bandeira, que afirmava: “Hoje há 15 ônibus a gás operando no Recife e pretendemos chegar a 100 até 1992, porém não pretendemos converter toda frota porque o programa é ainda obscuro e não há confiabilidade na política energética.” A empresa Metropolitana, contava com três carros a gás 0 371 U, numa frota de 213 veículos. “Para a empresa, o gás é uma alternativa interessante que pode dar certo, desde que haja vontade política para viabilizá-la, o que não está ocorrendo”, dizia a reportagem.
A jornalista concluía reafirmando a viabilidade do gás, mas fazia uma importante ressalva, que é válida até os dias de hoje, passados mais de 30 anos. “Falta o estabelecimento de uma política específica, infraestrutura e escala de produção, o que barateará o produto e espantará o medo dos empresários em investir, pois assim estará garantido o mercado de revenda.”
E atualmente a situação é a mesma: sem essas diretrizes o gás será mais uma ideia interessante que não irá se consolidar de forma efetiva. Esperamos que os erros do passado não se repitam.
A segunda edição da Technibus ainda trazia outros temas importantes, como os 80 anos dos ônibus Scania e as principais novidades em manutenção que surgiam na época. Não deixe de ler!
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