Durante uma das sessões do Seminário Nacional NTU 2025, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresentou alguns dos resultados de um estudo inédito sobre projetos de infraestrutura de mobilidade previstos em 21 regiões metropolitanas com mais de um milhão de habitantes.
Esse levantamento, desenvolvido em parceria com o ministério das cidades, traz uma visão estratégica para os próximos 30 anos, identificando, entre aproximadamente 400 projetos de transporte público coletivo de média e alta capacidade, um conjunto de 194 projetos com melhores condições de desenvolvimento, que deverão exigir mais de R$ 500 bilhões em investimentos potenciais.
Estão consideradas no estudo redes de metrô, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), BRT (sistemas rápidos de ônibus) e corredores exclusivos de ônibus. A concretização desses projetos significará dobrar a capacidade atual da malha hoje em operação no país. A intenção é elevar a cobertura e a eficiência do transporte público para as populações de baixa renda, tornando-o mais atrativo até mesmo para quem atualmente usa o transporte individual.
Especialistas
A apresentação central da sessão foi feita por Cleverson Aroeira, especialista da Área de Soluções para Cidades do Departamento de Mobilidade Urbana do BNDES.
Participaram dos debates Fabio Damasceno, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Transporte e Mobilidade (Consetram) e secretário de mobilidade e infraestrutura do governo do Espírito Santo; Wagner Colombini Martins, CEO da Logit Engenharia e Consultoria; e Marcos Daniel Souza dos Santos, diretor de regulação da mobilidade e trânsito urbano do ministério das cidades.
Os trabalhos foram moderados por Armando Guerra Júnior, membro do Conselho Diretor da NTU e presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Semove).
Ele ressaltou a urgência de frear a perda de passageiros no transporte coletivo — uma queda de até 60% em algumas regiões nos últimos dez anos — e destacou que o modelo atual precisa de uma reestruturação.
“A motorização individual, a pandemia, a violência urbana e o crescimento dos aplicativos contribuíram para a evasão. O passageiro quer um transporte eficiente, seguro e com qualidade”, afirmou Guerra Júnior, salientando a importância da reestruturação do setor para haver a recuperação da demanda.
Aspectos principais
Cleverson Aroeira destacou a importância da construção coletiva do estudo sobre as 21 regiões metropolitanas, esforço que envolveu estados, municípios e entidades do setor. Ele frisou que o estudo não se limita à análise de obras, mas busca estruturar soluções para os gargalos do setor, incluindo governança metropolitana, financiamento, subsídios, integração modal e tarifária, e prioridade operacional.
O estudo partiu de uma base de mais de 400 projetos mapeados em diferentes estágios de planejamento. Após confrontar esses dados com estimativas de demanda projetadas para as próximas três décadas, o BNDES selecionou 194 propostas com potencial real de viabilidade. Entre os critérios utilizados, destacam-se corredores com demanda superior a 40 mil passageiros por dia ou 5 mil por hora/pico.
As cidades contempladas, segundo o banco, foram ativamente envolvidas no processo. Em algumas regiões metropolitanas, os projetos originais foram revistos com base em sugestões locais. “Em Vitória, por exemplo, a equipe do secretário Fabio Damasceno discutiu detalhadamente a expansão da rede de sistemas de BRT, alinhando as expectativas regionais com as diretrizes do estudo nacional.”, disse Aroeira.
Acesso à mobilidade
Além de avaliar a viabilidade técnica e econômica dos projetos, o estudo inclui um diagnóstico sobre a desigualdade no acesso à mobilidade. A meta é priorizar eixos de transporte que beneficiem populações historicamente excluídas.
Simulações mostraram que, com uma combinação de redes ampliadas, tarifas acessíveis e medidas operacionais (como corredores com livre luxo nos semáforos), o transporte coletivo poderia dobrar sua participação na divisão modal em cidades como Brasília, Florianópolis e Rio de Janeiro.
Fichas técnicas
Um dos diferenciais do projeto é a criação de fichas detalhadas para cada um dos 194 projetos identificados. Essas fichas trarão informações sobre impacto socioambiental, estimativa de demanda, custos e fontes de financiamento, permitindo que os investimentos sejam priorizados com base em critérios objetivos.
A expectativa do BNDES é concluir o estudo até setembro de 2025. A partir daí, a próxima etapa será estruturar um primeiro pacote de projetos a serem viabilizados já em 2026. Segundo Aroeira, os documentos serão disponibilizados ao público no site do banco, no endereço www.bndes.gov.br/enmu, garantindo transparência e espaço para contribuições da sociedade civil e de outros atores do setor.
Com esse mapeamento, o BNDES espera não apenas destravar investimentos, mas também requalificar o transporte coletivo como uma opção viável, rápida e inclusiva. “Trazer de volta o passageiro para o transporte público é o nosso principal desafio. E isso só será possível com redes bem planejadas, operação eficiente e tarifa justa”, concluiu o representante do banco.
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