Technibus – Pode nos contar como começou a história da empresa?
Sebastián Gómez – A empresa foi fundada em 2013, durante meu mestrado no MIT, nos Estados Unidos. Participamos de um programa de incubadora de negócios e percebemos, naquele momento, que a maioria das empresas de emissão online de passagens já havia começado a se digitalizar e que, claramente, o setor aéreo era o que mais obtinha vantagens, seguido dos setores hoteleiro, de cinemas, entre outros. Chamou-nos a atenção a demora do setor de transporte terrestre de passageiros em iniciar esse processo.
Começamos, então, a conversar com várias empresas de transporte terrestre de passageiros em diversos países e percebemos que, se uma empresa faturava, por exemplo, US$ 100 em passagens, só investia US$ 1 em tecnologia, enquanto, no setor aéreo, as companhias investiam US$ 5 de cada US$ 100 faturados. Percebemos que havia uma grande oportunidade de negócios.
Technibus – A empresa começou como um marketplace, correto?
Sebastián Gómez – Sim, foi no México e como um Decolar do transporte terrestre de passageiros. Mas, rapidamente, por meio de feedbacks do próprio mercado, percebemos que as empresas queriam não apenas canais de vendas, mas também fortalecer suas marcas no âmbito digital. Então, em 2018, nasceu nossa segunda unidade de negócios, que é a Reservamos SaaS, hoje nossa principal unidade e com a qual estamos fazendo a expansão internacional. Essa unidade de negócios, literalmente, funciona como um parceiro tecnológico para ajudar as empresas em sua transformação digital.
Technibus – Pode explicar melhor?
Sebastián Gómez – Com nossas soluções, buscamos incrementar a receita dos nossos clientes parceiros, e fazemos isso com produtos incrivelmente simples, que facilitam a compra das passagens. Estamos dedicando uma grande parcela de tempo e recursos para estudar e desenvolver estratégias que melhorem as taxas de conversão, aprimorem os fluxos de compra e eliminem qualquer tipo de atrito no processo. Temos nos inspirado em empresas como a Amazon, cujo sistema permite que, com poucos cliques, seja possível encontrar diversos produtos, e o que buscamos é adaptar essa experiência para o setor de transporte de passageiros.
Voltando à nossa história, montamos essa plataforma de comércio eletrônico e depois passamos a modularizar os serviços, pois percebemos que não há uma solução única para todos. Então, desenvolvemos a plataforma de Revenue Management e separamos uma solução, a ReservamosONE, que funciona como um Data Lake, um produto um pouco mais tecnológico, com o qual estamos trabalhando com o Grupo Comporte. Ele permite identificar o usuário e criar um histórico de seu comportamento, independentemente do canal de comunicação que ele tenha acessado, seja site, aplicativo, e-commerce etc. Estamos realmente muito entusiasmados com essa ferramenta, porque é uma forma de empoderar a equipe da Comporte com dados e informações que permitirão personalizar a experiência de cada um dos passageiros, com um grau de customização inédito para o setor.
Technibus – O setor de transporte terrestre de passageiros demorou a se digitalizar?
Sebastián Gómez – Na vertente da adoção da Inteligência Artificial, o setor de transporte rodoviário de passageiros sim, o que para nós é uma oportunidade enorme, porque criamos a empresa com o propósito de impactar milhões de pessoas que utilizam esse serviço diariamente.
Como empresa de tecnologia, somos apaixonados pelo assunto e testemunhamos o crescimento estratégico desse segmento para todos os eixos econômicos. Para se ter uma ideia, a consultoria McKinsey fez um levantamento de 2021 a 2023 que indicou um aumento de 8% no número de vagas de trabalho no setor de tecnologia, o que significa que o mundo está adotando cada vez mais tecnologia para reduzir custos, ser mais eficiente nas operações etc. Queremos oferecer ao setor de transporte terrestre de passageiros todas as vantagens que a tecnologia promove.
Technibus – Pode citar casos de sucesso da aplicação das soluções da Reservamos?
Sebastián Gómez – O setor, historicamente, não investiu em sistemas que melhorem a etapa da precificação. Era tudo muito básico. Por exemplo, havia empresas que mantinham os preços fixos o ano todo, ou seja, comprar uma passagem para viajar amanhã custava o mesmo que comprar para viajar no dia 24 de dezembro, quando todo mundo quer viajar. Ou seja, não faz sentido. Em todos os segmentos do turismo existe a baixa e a alta temporada, com preços diferenciados de acordo com a demanda. E não se trata de mudar os preços apenas para ganhar mais, mas para captar diferentes segmentos de clientes e aumentar o número de passageiros. Um cliente nosso no México passou a utilizar nossa solução de precificação, que combina diversos padrões estatísticos e sugere diferentes estruturas de preços. Em um período de apenas um mês, essa empresa aumentou o faturamento em 11% e hoje está operando com índice de ocupação acima de 90%, o que está permitindo que tenha caixa para investir em mais veículos e na operação como um todo.
Technibus – Quais são os planos futuros para a Reservamos?
Sebastián Gómez – Gostamos de nos inspirar nas melhores empresas do mundo e, por exemplo, na China existe a TravelSky, que desenvolve soluções tecnológicas para o setor aéreo, com uma carteira de clientes de cerca de 400 companhias aéreas que utilizam sua tecnologia, muito similar ao que conquistou a Amadeus nesse setor, e a verdade é que admiramos a capacidade internacional que essas empresas têm e queremos conquistar o mesmo.
À medida que nos expandimos internacionalmente, vamos aprendendo que o nosso papel vai além da tecnologia, porque hoje estamos trabalhando com as principais empresas de transporte terrestre de passageiros de cada um dos mercados nos quais estamos presentes, e, com elas, vamos aprendendo a identificar as melhores práticas e fortalezas de cada um desses mercados. Assim, é possível criar um círculo virtuoso para o transporte terrestre de passageiros.
Technibus – A empresa tem planos de atuar em novos segmentos?
Sebastián Gómez – Nosso modelo de negócios cresce de três formas: a primeira é continuar expandindo nossa atuação em outros países para seguir crescendo na vertical de transporte intermunicipal, que é nosso core; a segunda é que temos um modelo de negócios no qual nosso crescimento está atrelado ao dos nossos clientes; e a terceira é como podemos utilizar a tecnologia que desenvolvemos para diferentes tipos de clientes. Por exemplo, estamos trabalhando em parceria com um cliente para desenvolver uma nova solução para o segmento urbano, no qual o padrão de consumo do passageiro é muito diferente, com alta frequência e viagens menos planejadas, como o metrô. Usam-se mais cartões eletrônicos para esse tipo de deslocamento.
Technibus – Como percebe o mercado brasileiro?
Sebastián Gómez – É realmente incrível. É um mercado reconhecido mundialmente, desenvolvido; as empresas são extremamente profissionais e os talentos que existem nessas empresas, em termos de conhecimento da operação e de serviço ao cliente, são realmente impressionantes. Percebo que o Brasil está muito avançado em comparação a outros países nos quais trabalhamos, no que se refere a diferentes formas de pagamento, como o PIX, que teve um forte efeito facilitador para que as empresas do setor avançassem no processo de digitalização. Países como México, Peru e Chile estão olhando para o Brasil para ver como podem replicar e implementar esses sistemas.
Uma oportunidade de negócios enorme é que hoje existe pouca interconectividade de sistemas, e todos os países das Américas estão um pouco atrasados nesse sentido. Os maiores investimentos aconteceram na Europa, e acredito que, com esse conceito de Mobility as a Service, no qual se vive a interconectividade dos meios de transporte, seja possível diminuir os atritos para o usuário, ou seja, diminuir as etapas e criar fluidez.