Sonia Moraes
Technibus – Como a MWM avalia a nova política industrial aprovada pelo governo federal, o Mover, que substitui o Rota 2030?
José Eduardo Luzzi – O Mover mantém o bom princípio iniciado no Inovar Auto e continuado no Rota 2030 em buscar ganhos de eficiência energética nos veículos. Com a maior preocupação com os gases de efeito estufa a expansão do ciclo de controle para o poço à roda é uma decisão acertada, especialmente para o nosso perfil de maior uso de biocombustíveis. É claro que a busca não pode parar e já está previsto na próxima etapa do Mover considerar o ciclo do berço ao túmulo. O Mover mantém o foco de incentivar o processo de pesquisa e desenvolvimento, o que é muito importante para alavancar as soluções particulares que temos no Brasil.
Technibus – Qual o impacto que o Mover trará para a indústria de autopeças e a indústria automobilística?
José Eduardo Luzzi – Ter a separação entre os principais atores e suas respectivas obrigações mínimas de investimento em pesquisa e desenvolvimento torna o processo mais inclusivo para muitas autopeças. Ainda a busca por maior neoindustrialização é também um movimento importante descrito no Mover. Assim, além da modernização e maior inclusão tecnológica, teremos cada vez mais condições competitivas de nacionalização de motores, puxando a cadeia da indústria.
Technibus – Como está a programação de investimentos da MWM para este ano? Em que a empresa vai aplicar os recursos do Mover?
José Eduardo Luzzi – O caminho continua com o foco de descarbonização viável, isto é, buscar acelerar os processos de descarbonização aliados com processos competitivos economicamente. Um exemplo é a motorização à biometano junto de bioplantas em conexão com o agro. Ainda na mesma colaboração com agro, estamos desenvolvendo motor a etanol para tratores, que tiveram seus primeiros resultados apresentados na Agrishow deste ano. Além disso, temos puxado vários temas de pesquisa para motores como etanol de alta eficiência e ainda motorizações a hidrogênio, que será uma base competitiva importante para o Brasil, principalmente na próxima década. E, no suporte a eletrificação, estamos avançando com o nosso projeto inovador de reciclagem de minerais das baterias de íon lítio.
Technibus – Nesta jornada da descarbonização, a nacionalização de componentes é um dos principais de investimentos para estar de acordo com as exigências da nova política industrial?
José Eduardo Luzzi – Entendemos também assim, que a nacionalização não é só importante para diminuir a emissão de CO2 no tráfego de peças, mas também para potencializar o uso de energia renovável que temos no Brasil, proporcionando o foco de desenvolvimento dos motores para os combustíveis limpos que temos por aqui com alta eficiência. Ainda é um ponto estratégico para o país em termos de desenvolvimento nacional de uma indústria de competência global com certo nível de ociosidade.
Technibus – Quais são as metas da MWM em relação à pesquisa e desenvolvimento neste momento de transformação de toda a indústria automobilística?
José Eduardo Luzzi – Nossa principal meta é sermos o parceiro estratégico principal dos nossos clientes. Com a nossa posição única de realizar os trabalhos de fundição, usinagem, montagem e testes, podemos auxiliar os clientes e viabilizar produção local com melhores indicadores. Com isso, temos continuado nossos desenvolvimentos tecnológicos para suportar os clientes na jornada de descarbonização. Um exemplo é o nosso bloco de ferro de mesmo peso do alumínio, o Ultra Light Iron, que não só proporciona neutralidade em peso, mas aumenta a resistência à vibração, diminui custos e reduz emissões de gases de efeito estufa, sendo caminho ideal para motorizações híbridas com etanol.
Technibus – O que é essencial neste momento de transição energética para chegar ao novo modelo veículo, seja elétrico, híbrido, movido a gás natural ou biometano?
José Eduardo Luzzi – O importante nesse momento é mantermos no programa a neutralidade tecnológica como pilar principal como está. Estamos em processo de construção dos principais caminhos de descarbonização e certamente não haverá uma solução geral para tudo. Assim, é importante que o consumidor tenha liberdade para entender o compromisso e potencial de cada solução para sua realidade. E como dito anteriormente é importante que tenhamos um olhar holístico para avaliação, uma vez que há impacto quanto a emissão de CO2 na produção dos materiais, na produção do veículo, na produção da energia, no uso do veículo, na sua manutenção e nos processos de reciclagem ao final de vida.
Technibus – Qual o maior desafio a ser enfrentado pela MWM e toda a indústria de autopeças atualmente?
José Eduardo Luzzi – Claro que as oscilações de mercado são sempre um desafio, mas ao mesmo tempo são reflexo de outros aspectos macroeconômicos. Então do ponto de vista de atendimento de demandas, é vital conseguirmos combinar o acesso à tecnologia com o menor impacto econômico possível combinado com uso prioritário de fontes renováveis de energia. Dar ênfase para somente um dos critérios, econômico ou ambiental, será um caminho não promissor. Por isso indicamos que os processos de descarbonização devem ser economicamente viáveis para ganharem escala significativa ou mesmo serem acelerados como precisamos.
Technibus – Na sua avaliação, quanto tempo vai demorar para o veículo elétrico ter 100% de avanço no Brasil?
José Eduardo Luzzi – É muito difícil fazer essa previsão não só para o Brasil, mas também para o mundo como está a discussão atualmente. Vemos claramente no curto e médio prazo um caminho principal do uso de híbridos em veículos leves. Isso está alinhado com os benefícios da eletrificação em ciclo de cidade sem o impacto abrupto de custo e investimentos em infraestrutura de carregamento da versão puramente elétrica. Ainda a solução híbrida responde adequadamente a preocupação com autonomia. E cada vez mais esses híbridos otimizados com etanol podem ser uma solução perene muito interessante. Vemos ainda que é preciso organizar a cadeia de suprimentos e reduzir a pegada de carbono da produção das baterias como caminho chave para maior espaço de aplicação. Por isso temos no grupo, um projeto de reciclagem de baterias de íons de lítio com baixa pegada de carbono e alta taxa de recuperação. Estamos seguindo para a construção da planta demonstração e teremos em breve novidades para compartilhar.
Technibus – Como será a transição para o uso de outros combustíveis alternativos?
José Eduardo Luzzi – Novamente depende do impacto econômico desse caminho. É necessário entender como promover o uso de biocombustíveis de maneira econômica e sua disponibilidade nacionalmente. Atividades em torno do biometano tem começado seu consumo próximo das áreas de produção. Com o crescimento da sua geração é natural se conectar com os gasodutos para maior exploração dessa alternativa. No caso do etanol, já várias iniciativas de produção alternativa no sul do país e no sertão nordestino, que podem alavancar a oferta de etanol ampliando sua perspectiva econômica para mais usuários. Tanto etanol como biodiesel terão papel chave em misturas com os fósseis para que progressivamente haja a migração para solução de biocombustível, sempre com o cuidado de avaliações técnicas detalhadas para que o benefício não seja ofuscado por problemas de campo em algumas aplicações.