Por Sonia Moraes
Technibus – Como é a parceria do banco alemão KfW com a Desenvolve SP, agência de fomento do estado de São Paulo, que está vinculado à secretaria de desenvolvimento econômico?
Constantin Dellis – No quadro do projeto Mobilino que procura estender as atividades do KfW para o fomento da eletromobilidade, realizamos um acordo de cooperação com a Agência Desenvolve São Paulo. Por meio deste acordo, se contratou um estudo técnico para avaliar as possibilidades e alternativas para constituição de um fundo para financiar cidades e empresas na aquisição de ônibus elétricos com infraestrutura vinculados à oferta do transporte público municipal de passageiros. Os estudos se dedicam a avaliar a viabilidade de um fundo tradicional ou da vinculação dos créditos e bens à redução das emissões de carbono. Estão sendo considerados dados relativos à demanda e fabricação de ônibus elétricos, capacidade de tomar crédito dos agentes e estruturas de garantias, além de revisitar os aprendizados dos casos de sucesso no Brasil e no exterior.
Technibus – Por que o KfW decidiu investir no projeto de financiamento de ônibus elétrico na cidade de São Paulo?
Constantin Dellis – O KfW é o banco alemão de desenvolvimento que em nome do governo federal alemão, principalmente do ministério federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ), financia e acompanha programas que promovem a melhoria sustentável das condições de vida da população, focando nos âmbitos econômicos, sociais e ambientais. No Brasil, uma das prioridades da cooperação é o desenvolvimento urbano. E neste sentido, junto com os nossos parceiros, buscamos desenvolver projetos e programas que promovam cidades mais resilientes, sustentáveis, seguras e integradas. Nesta temática podemos financiar projetos de mobilidade urbana sustentável – o qual a eletrificação da frota de ônibus tem um grande potencial. No tocante à prefeitura de São Paulo, recebemos seu contato a fim de que pudéssemos apresentar potenciais opções de cooperação para apoiar a cidade na sua meta de descarbonização. No momento apenas mantemos o diálogo com a prefeitura de São Paulo.
Technibus – O KfW já participa de outros projetos de financiamento no transporte público em cidades brasileiras?
Constantin Dellis – Sim, em 2015 por meio de uma linha de financiamento com o BNDES – no valor de 265 milhões de euros –, o KFW apoiou a implantação dos projetos do VLT Carioca no Rio de Janeiro e do Metrô Bahia em Salvador. Ambos projetos tinham como objetivo relevante o impacto na redução de emissão de gases de efeito estufa. Atualmente o KfW vem discutindo duas novas linhas de financiamento com o BNDES no setor de mobilidade urbana sustentável. Em 2021, o KfW lançou uma chamada publica de projetos de mobilidade urbana sustentável – em parceria com o BNDES e com o, então, MDR (atualmente ministério das Cidades) e com recursos não reembolsáveis do governo alemão de cerca de 450 mil euros. Nela foram selecionados seis projetos de mobilidade urbana sustentável, de cinco prefeituras (Salvador, Fortaleza, Recife, Guarulhos e Curitiba), onde foram e, em alguns casos, ainda estão sendo elaborados os estudos de pré-viabilidade.
Technibus – Como será a modalidade de financiamento disponibilizada pelo governo alemão?
Constantin Dellis – A modalidade de financiamento com a Desenvolve São Paulo ainda não foi definida, pois o tema ainda será levado para discussão e decisão dentro do governo do estado de São Paulo, após apresentação do resultado final do estudo.
Technibus – Qual taxa de juros será praticada neste projeto de mobilidade sustentável?
Constantin Dellis – As taxas aplicadas pelo KfW variam conforme o nível de risco do país e do cliente, e ainda não foi realizada uma cotação indicativa dado que o financiamento ainda não foi decidido pelo governo do estado de São Paulo, no entanto, são taxa bastante competitivas no marco do que é praticado pelos bancos de desenvolvimento que atuam internacionalmente.
Technibus – Qual é o prazo de financiamento? Qual a carência?
Constantin Dellis – No geral, o prazo de financiamento é de 15 anos e o período de carência é de três a cinco anos.
Technibus – A modalidade de financiamento para a cidade de São Paulo é novidade, ou já é oferecida para outras cidades no mundo?
Constantin Dellis – Estamos apenas na fase de diálogo com a prefeitura de São Paulo, e ainda não se tomou uma decisão a respeito, no entanto estamos abertos a avaliar eventuais demandas.
Technibus – O KfW já tem um estudo sobre a demanda de veículos elétricos no Brasil?
Constantin Dellis – Por meio da linha de 2015 com o BNDES, o KfW apoiou a elaboração do Guia TPC (através de fundos não reembolsáveis). O Guia TPC serve como ferramenta de orientação para seleção de tecnologias e implementação de projetos de transporte público coletivo. O documento se pode descarregar sob a seguinte ligação: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/14921
Technibus – Há planos de estender esse projeto de financiamento para outras cidades brasileiras?
Constantin Dellis – Sim, no contexto da mobilidade urbana, o KfW busca financiar projetos que promovam a redução de gases de efeito estufa, tecnologia de mobilidade adequada, integração de meios de transporte que contribuam para um sistema mais eficiente e que tragam benefícios socioeconômicos e para a saúde da população e etc. Neste sentido, temos interesse e disponibilidade de financiar projetos que sigam essas premissas. Os mutuários (tomador do empréstimo) devem, no entanto, ser um ente público (bancos públicos, municípios, estados, etc) ou um banco de desenvolvimento ou agência estadual de fomento.