Technibus – Qual a expectativa da Busscar para 2023?
Paulo Corso – A Busscar espera manter o mesmo market share alcançado no ano passado, de 27% no mercado brasileiro e de 11% no mercado internacional. Não temos expectativa de aumentar a participação no mercado de ônibus no Brasil e no exterior por causa da falta de chassis.
Technibus – O que está dificultando a entrega de chassis Euro 6?
Paulo Corso – As montadoras alegam falta de componentes e também destacam a complexidade na produção, pois os novos modelos exigem prazo maior para ajustar o sistema de emissões dos motores. Isso está acarretando atrasos em alguns projetos e deverá causar um gap na indústria de carrocerias.
Technibus – As encarroçadoras estão com dificuldades para a montagem dos ônibus?
Paulo Corso – A indústria de carrocerias deve ter limitação no abastecimento de chassis Euro 6 no primeiro semestre deste ano.
Technibus – A nova tecnologia já causa impactos no custo de produção?
Paulo Corso – As montadoras relatam que o custo de produção de chassis Euro 6 está 20% mais caro. É uma situação que envolve toda a cadeia de produção de ônibus. As encarroçadoras também têm custos e dificuldades para adaptar os seus projetos aos novos chassis
Technibus – Quando o fornecimento estará normalizado?
Paulo Corso – Acredito que o fornecimento de chassis Euro 6 começará a se normalizar a partir de maio, e as montadoras devem estar com a produção regularizada até a metade do ano.
Technibus – Isso deverá impactar no desempenho do mercado de ônibus em 2023?
Paulo Corso – Vamos ter dificuldades no começo do ano, depois o mercado de ônibus vai deslanchar e o segundo semestre será melhor. Mas acho que o “grande ano” do setor será 2024 porque esses problemas estarão resolvidos e esperamos que sejam solucionadas também as questões dos financiamentos.
Technibus – É normal a dificuldade de ajustar a produção de chassis depois da mudança na legislação?
Paulo Corso – Não é normal. Em anos anteriores, quando houve mudanças de legislação, as montadoras estavam mais abastecidas, tinham estoques de chassis. Este ano, as empresas não formaram estoque porque tiveram muitos problemas no ano passado com falta de matéria-prima.
Technibus – O senhor esperava um começo de ano melhor para o mercado de ônibus?
Paulo Corso – Se não fosse a mudança de tecnologia para atender a norma Euro 6, seria muito bom para o setor. Não há falta de interesse de compra, mas a transição de fase atrapalha um pouco. E ainda há falta de crédito para financiamento dos ônibus. Fora isso, o setor está reagindo bem depois da pandemia.
Technibus – O que o senhor espera para o setor de transporte por ônibus neste ano?
Paulo Corso – Não vejo um ano ruim para o setor de transporte. Talvez os empresários não se animem para comprar, mas, apesar de não ter a mesma quantidade de passageiros, o transporte urbano melhorou bastante e o rodoviário teve boa demanda no fim do ano passado e está tendo neste período de férias. O setor não está igual há dez anos porque atravessamos uma pandemia, mas está muito bem agora, tendo em vista o que passou.
Technibus – Como devem se comportar os mercados urbano e rodoviário neste ano?
Paulo Corso – Para o segmento urbano, a expectativa é de um ano melhor porque este modelo de ônibus depende de chassis com motor dianteiro que estão com a produção normalizada, e este é o modelo que vende mais. O segmento rodoviário também deverá melhorar depois que forem regularizadas as entregas dos chassis com a motorização Euro 6.
Technibus – Para a Busscar, como será o ritmo de produção em 2023?
Paulo Corso – A Busscar vai produzir um pouco menos este ano porque houve férias coletivas na fábrica da Joinville, em Santa Catarina, mas a produção será a mesma de quatro ônibus por dia em um turno.
Technibus – Qual a expectativa da Busscar para as exportações?
Paulo Corso – Nas exportações, a Busscar teve ganho em 2022 e estamos investindo para melhorar um pouco mais neste ano.
Technibus – Quantos ônibus a Busscar produziu em 2022 e quanto exportou?
Paulo Corso – A Busscar produziu 1.053 ônibus rodoviários e exportou 186 unidades, dos quais 85% foram para o Chile. A empresa tem vendas esporádicas de pouco volume para outros países, como o Peru, Paraguai, Bolívia, Guatemala, Equador, Uruguai e El Salvador.
Technibus – Quais as perspectivas para a Argentina?
Paulo Corso – AArgentina está em processo de fabricar ônibus internamente e priorizando a produção local. Para a Argentina, foram exportados 40 ônibus em 2022. Em bons anos, o Brasil chegou a exportar 500 ônibus para este país. Mas, se abrirem o mercado será possível exportar 200 ônibus rodoviários para lá.
Technibus – A Busscar tem prospectado outros mercados?
Paulo Corso – A Busscar também está buscando novos negócios no continente africano. Já enviamos ônibus para a Nigéria e estamos negociando com a Costa do Marfim e outros países da África.