Mauro Herszkowicz, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo (Fetpesp)

Desde o início das medidas de distanciamento social em virtude da pandemia, as empresas de transporte rodoviário de passageiros tiveram uma queda de 85% a 90% no número de passageiros transportados, que ainda não foram recuperados com a retomada das atividades em parte dos municípios paulistas, informa Mauro Herszkowicz, presidente da Fetpesp e Conselheiro da Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU), da qual é fundador. “As perspectivas não são nada otimistas”, avalia.

Quais são os efeitos desta crise causada pela pandemia para o setor de transporte rodoviário de passageiros?

Mauro Herszkowicz – A Fetpesp foi constituída em 2014 e congrega nove sindicatos filiados pelo estado, representando a categoria econômica das empresas operadoras de serviços públicos de transporte de passageiros rodoviários, internacionais, interestaduais, intermunicipais e suburbanos, metropolitanos e urbanos.

Temos 172 empresas de ônibus associadas aos nove sindicatos filiados que, somadas, representam mais de 30 milônibusdistribuídos pela capital, regiões metropolitanas e demais cidades do interior, além das ligações realizadas por ônibus rodoviários e suburbanos. Em 2019, o sistema de transporte intermunicipal de passageiros no Estado de São Paulo (rodoviário e suburbano) realizou mais de quatro milhões de viagens e transportou mais de 100 milhões de passageiros.

Já o transporte entre os municípios que compõem as regiões metropolitanas do estado, Baixada Santista, Campinas, Vale do Paraíba e Litoral Norte e Sorocaba, com 134 cidades, transportou 639 milhões de passageiros, durante o ano de 2018. No caso do sistema urbano do interior de São Paulo, tutelado pelas 645 prefeituras, no qual o transporte coletivo de passageiros por ônibus é o principal meio de locomoção dos seus habitantes, temos cerca de 900 milhões de passageirostransportados por ano. Temos, ainda, o sistema urbano da capital operado por aproximadamente 14 mil veículos, que circulam em mais de 1,4 mil linhas, transportando cerca de dois bilhões de passageiros, durante o ano de 2019.

Esses números demonstram o impacto da pandemia do Covid-19 no setor rodoviário paulista. Desde o início das restrições à circulação de pessoas, com as medidas de isolamento e de distanciamento social, as empresas vêm transportando de 10% a 15% dos passageiros da demanda registrada em 2019 e nos anos anteriores. A queda foi, portanto, de 85% a 90% no número de passageiros transportados, ainda não recuperados, até o momento, mesmo com a retomada das atividades em parte dos municípios paulistas.

Os segmentos urbano e rodoviário foram afetados igualmente?

Mauro Herszkowicz – Não. O rodoviário vivencia a descrição feita na pergunta anterior.  No caso do setor urbano, precisamos separar a capital do restante do Estado de São Paulo. A capital, depois de uma queda de mais de 80% da demanda, agora vem trabalhando com uma redução de 60% no total de passageiros; no entanto, está operando com 90% da frota. No restante do estado, o segmento urbano, depois de amargar uma queda do número de passageiros da ordem de 85%, agora vem transportando, em média, 35%.

Em relação aos outros estados do país, como o senhor avalia a situação de São Paulo?

Mauro Herszkowicz – Todos os estados estão transportando uma quantidade muito baixa de passageiros, não atingindo nem 40% da usual demanda, de antes da pandemia.

Quais as perspectivas para os próximos meses?

Mauro Herszkowicz – As perspectivas não são nada otimistas. A expectativa é que a recuperação será muito lenta. Trabalhamos com a perspectiva de transportar, apenas, de 70% a 80% dos passageiros que utilizavam os serviços antes da Covid-19, caso a totalidade das atividades retorne à normalidade. Ainda assim, as pequenas empresas rodoviárias, que prestam serviço fazendo as ligações no interior de São Paulo, devem ter mais dificuldade na recuperação da operação normal, já que têm menos recursos próprios e menor acesso aos financiamentos bancários, para equilibrar a  situação econômica.

O que o poder público está fazendo para reduzir esses impactos? O que poderia ser feito?

Mauro Herszkowicz – Muito pouco ou nada. Fizemos solicitações ao governo do Estado de São Paulo, para socorro às empresas do sistema Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), no sentido de obter subsídios ou recursos governamentais para a manutenção dos serviços.

Vários operadores estão com solicitações nas prefeituras ou nos órgãos de gestão, e a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) vem trabalhando, incansavelmente, junto ao Ministério da Economia e ao governo federal, buscando obter medidas que possam minimizar as perdas das empresas de transporte de passageiros.  

A NTU está propondo a compra de créditos, como o vale-transporte, para serem usados em programas sociais, nesse período de pandemia e no pós-pandemia.

Mas, apesar de todo esforço, tivemos muito pouco êxito. Mas não vamos desistir!

A pandemia deve trazer mudanças mais profundas no modelo de negócios das empresas do setor? Quais?

Mauro Herszkowicz – Vamos ter um “novo normal”. Teremos que reconquistar os passageiros. Ainda estamos sob os efeitos da crise. É cedo para se falar em mudanças.

O senhor acredita em uma retomada efetiva dos negócios ainda em 2020?

Mauro Herszkowicz – Não. Acredito que a retomada da normalidade só se dará a partir de 2021.

Quais são os planos da Fetpesp para os próximos meses?

Mauro Herszkowicz – Continuar trabalhando pelo setor, na busca de soluções para os problemas da categoria. Continuar tentando sensibilizar as autoridades, os governos municipais e estadual e o governo federal, por intermédio da NTU e da Confederação Nacional do Transporte (CNT), para atenderem os pleitos justos da nossa categoria.

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