Irizar define estratégias para ampliar presença no mercado brasileiro

A encarroçadora de ônibus pretende dedicar de 10% a 15% da sua produção de Botucatu (SP) para o Brasil. Hoje a empresa exporta 98% dos ônibus que fabrica no país e destina apenas 2% para o mercado brasileiro

Sonia Moraes

Com o lançamento do novo ônibus rodoviário – o Efficient i6S –, a Irizar começa a colocar em prática a sua estratégia para ampliar a presença no mercado brasileiro. Atualmente, apenas 2% da produção da fábrica de Botucatu, no interior de São Paulo, é negociada no país e 98% tem como destino o mercado internacional. “Não consigo dizer se vamos atingir a expectativa ainda este ano porque o meu volume é bem desproporcional ao do concorrente. Então, para começar, eu quero dedicar pelo menos de 10% a 15% do que eu faço para o Brasil”, disse Abimael Parejo, diretor comercial da Irizar Brasil, durante a Lat.Bus 2024.

A fábrica da Irizar Brasil, em Botucatu, foi criada em 1977 por meio de uma joint-venture com a Caio. Em 1999, foi 100% adquirida pelo Grupo Irizar. Este complexo industrial tem capacidade para produzir 700 ônibus por ano e está com espaço físico limitado. “Estamos discutindo com a matriz o investimento em uma nova fábrica, porque neste local não é possível ampliar”, comentou o diretor.

Parejo revelou que neste ano a Irizar fez investimento global de 20 milhões de euros, que envolveu a ampliação das fábricas de Marrocos, do México, de Barcelona e a compra de um terreno para a produção de ar condicionado em Sevilha, na Espanha. “Foi pouco o recurso aplicado no Brasil porque a próxima rodada de investimentos será aqui no país. Estamos avaliando os projetos para o Brasil, se vamos ampliar a fábrica, se será somente uma linha de produto ou se vamos trazer outros modelos rodoviários, double decker e elétricos.”

Mesmo sem fazer investimentos agora, a Irizar vai preparar a fábrica de Botucatu para um novo salto. “Eu tenho que entender como o mercado de ônibus vai se comportar. Os planos da Irizar não são de grandes volumes. Este não é o negócio da empresa e também não há capacidade para uma grande expansão. O meu negócio está focado em clientes pequenos e médios para poder voltar ao competir no país e atender esse nicho”, destacou Parejo.

Para conquistar espaço maior no mercado brasileiro, a Irizar reorganizou toda a sua estrutura. “A base comercial da empresa estava fora do Brasil, e eu liderava a América Latina direto do Chile. Agora montei o escritório em Alphaville e vamos começar essa nova etapa em São Paulo, onde já tenho um representante comercial”, revelou Parejo.

A Lat.Bus 2024 gerou muitos negócios para a Irizar, com propostas de vendas para cerca de 40 unidades do novo modelo i6S Efficient para o mercado brasileiro, e de 110 a 120 veículos para compradores de outros países da América Latina.

Rodoviário elétrico

O diretor da Irizar comentou que a empresa está analisando o tipo de produtos que trará ao Brasil. “Este ano estou pensando em apresentar ao mercado um ônibus elétrico rodoviário porque eu atendo nichos no Chile e no Peru que são mineradoras. Essas empresas estão substituindo os veículos tradicionais pelos elétricos”, comentou Parejo. “É um ônibus para fretamento para transportar trabalhadores na mineração.”

O diretor esclareceu que mesmo sendo um ônibus elétrico para fretamento não será um modelo simples, terá o mesmo padrão de qualidade e conforto de outros veículos da Irizar.”

Modelo elétrico da Irizar comercializado na Europa (Divulgação)

Encomendas

Com a estratégia de concentrar as suas vendas no mercado internacional, a Irizar conseguiu a consolidação dos seus produtos na exportação em países como o Chile, Peru e Austrália. “Estou trabalhando para atender as encomendas de março de 2025. A Irizar ganhou mais três licitações no Peru e nova licitação no Chile e temos cerca de 70 ônibus para atender as mineradoras e isso está ocupando a capacidade da fábrica de Botucatu”, comentou o diretor.

“Para a Austrália, eu tenho um slot fechado para o ano que vem. Para atender o mercado australiano, tenho que produzir de 15 a 20 ônibus todo o ano porque preciso importar o chassi. Então o meu negócio com a Austrália começa um ano antes porque imagine como é a logística de trazer o chassi da Suécia, montar os ônibus em Botucatu e enviar para a Austrália”, disse Parejo.

Para atender o mercado externo, a Irizar tem que produzir diferentes tipos de ônibus porque cada país tem a sua particularidade. “Primeiro é preciso atender a norma de cada país e averiguar se os ônibus irão atuar em turismo, rodoviário ou mineração, e depois tem o gosto de cada cliente. Então, cada país tem um produto”, ressaltou o diretor.

Parejo comentou que em alguns momentos a fábrica de Botucatu reúne pedidos de 14 países. “Na Austrália, a Irizar tem três mercados importantes – o rodoviário, o escolar e o turismo – e temos que fazer três ônibus diferentes. No Peru, os ônibus são usados para o transporte de funcionários nas mineradoras. No Chile, é um veículo mais simples, mas para a Zâmbia, na África, as poltronas dos ônibus são três mais duas. Para o Catar, fizemos um ônibus básico para atender uma empresa de petróleo.”

No acumulado de janeiro a julho, a Irizar produziu 420 ônibus rodoviários, 42% a mais que no mesmo período de 2023, quando fabricou 296 veículos. Deste total, 412 unidades foram destinadas para a exportação, que aumentou 49,3% em relação aos 276 veículos vendidos no mercado internacional nos sete meses do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus).

Veja também