Sonia Moraes
A Volvo espera que o segmento de rodoviários tenha bom desempenho em 2023, aquecido pelos operadores de transporte rodoviário de passageiros e frotistas menores ligados ao turismo. Essas empresas estão renovando suas frotas para suprir a forte recuperação do mercado interno e do turismo, com a expectativa de atrair os passageiros do transporte aéreo nas viagens nacionais.
“No ano passado, com a grande concentração de pedidos, foi necessário selecionar as entregas para conseguir atender todos os clientes. Por isso, alguns frotistas – operadores de linha de longa distância e de turismo – tiveram que suspender parte de suas compras de ônibus rodoviários por causa da limitação de produção nas montadoras devido à falta de componentes e insumos em geral, e agora vão complementar a renovação de sua frota com os modelos Euro 6”, revelou Paulo Arabian, diretor comercial de ônibus da Volvo no Brasil, em entrevista exclusiva para a Technibus.
Segundo Arabian, muitos passageiros que só andavam de avião passaram a olhar o ônibus como um complemento pelo fato de o preço das passagens estar mais baixo, o que também fez aumentar a procura por rodoviários. “Nunca se produziu tantos modelos com configuração em layout de conforto e categoria Premium como agora”, contou o diretor. “E o double decker, que teve grande procura no início de 2022, continua atrativo neste ano, tendo como carro-chefe a versão 6×2, que tem no piso inferior leito cama ou semileito para atrair esse público de maior poder aquisitivo, que está deixando o avião e escolhendo o ônibus para viajar à noite numa jornada de quatro a cinco horas.”
O mercado de rodoviários vendia por ano de 1,8 mil a duas mil unidades, mas nos últimos dois anos, com o impacto da pandemia, as vendas oscilaram entre 1,3 mil a 1,5 mil veículos, segundo Arabian. “Para este ano, a perspectiva é positiva, porque, além das compras represadas, há a necessidade de atualizar a frota para evitar aumento de custos.”
Arabian recordou que durante a pandemia 80% da carteira de financiamento da Volvo ônibus e dos bancos em geral tiveram seus contratos repactuados, e as empresas suspenderam os novos investimentos. “Agora, com o mercado aquecido, o operador conseguiu remunerar os seus investimentos, melhorar o fluxo de caixa, quitar as negociações com os bancos e estão com superávit. O momento é favorável para o segmento rodoviário, e a estimativa é de um bom desempenho em 2023.”
O diretor ressaltou que, mesmo com os preços reajustados dos modelos Euro 6, por causa da nova tecnologia, a intenção de compra não caiu. “Na Volvo as cotações de ônibus rodoviário continuam no mesmo ritmo forte do último trimestre do ano passado e a empresa está preparada para ampliar suas vendas e aumentar a participação neste segmento como vem ocorrendo desde 2018.”
Do total de ônibus com motorização Euro 5 vendidos no ano passado, muitos ainda estão parados nas encarroçadoras e devem ter a montagem finalizada até o início abril, segundo Arabian. “Isso provoca um esvaziamento na procura, aliviando o descompasso entre a demanda e a oferta de carros no sistema.”
Com a grande demanda no final do ano passado, as montadoras não conseguiram formar estoque de passagem, como relatou Arabian, porque a procura estava maior que a capacidade. “Em janeiro, quando entrou em vigor a Euro 6, todas iniciaram o processo de rump-up dos modelos Euro 6 e isso trouxe dificuldade na cadeia de abastecimento, pois as camadas secundárias de subfornecedores não tinham a mesma velocidade de produção de componentes. Além disso, houve férias coletivas, feriados de fim de ano e Carnaval, o que parou as linhas de produção. Agora estamos com muita demanda e a oferta sendo atendida.”
O abastecimento de chips e outros produtos eletrônicosainda trazem dificuldades, segundo Arabian. “A Volvo não parou a linha de produção por falta de componentes eletrônicos, mas o atraso na chegada de alguns itens ainda persiste e a montagem dos chassis Euro 6 é finalizada em dias alternados. O volume do mês é mantido, mas é trocado o dia da produção quando algum componente não chega a tempo.”
Na Volvo, a produção se normalizou a partir de março e agora está em ritmo acelerado para atender o grande volume de pedidos. Na fábrica de Curitiba, a jornada de trabalho está sendo cumprida em dois turnos. “Ainda há percalços, mas a empresa está conseguindo administrar, recorrendo ao transporte marítimo e aéreo, quando necessário, para cumprir as entregas”, afirmou o diretor.
Fretamento-
Para o setor de fretamento, a expectativa de Arabian é que a movimentação seja mais lenta em 2023. “As empresas não comprarão grandes volumes de ônibus neste ano porque a frota já foi renovada e ampliada durante a pandemia para manter o distanciamento social dos usuários que era necessário naquele período”, disse o diretor da Volvo. “As cotações para os modelos de fretamento também estão menores, pois no ano passado muitas empresas anteciparam as compras para se beneficiar do preço menor do modelo Euro 5.”
Outro fator que fez reduzir a procura por ônibus de fretamento, segundo Arabian, é que, além de não precisar manter o distanciamento social das pessoas no interior dos veículos, diminuiu o número de pessoas que se deslocam para o trabalho todos os dias. “Muitas empresas passaram a usar o modelo híbrido de trabalho, com dias alternados na semana, ou decidiram manter somente o home-office.”
Urbanos-
No segmento de urbanos, a perspectiva é que a demanda cresça em 2023 porque a renovação de frotas, que foi prorrogada por dois anos durante a pandemia, precisa ser retomada neste ano por razões contratuais. “O empresário não pode manter no sistema carros com 12 anos de idade, pois terá indisponibilidade do veículo com a quebra de peças. Por força de contrato, ele precisa renovar sua frota e não estará descoberto financeiramente neste movimento de compra mandatório porque tem o respaldo das tarifas moduladas que os órgãos gestores têm que pagar conforme o contrato que eles assinaram”, explicou Arabian.
Por causa do menor número de passageiros, o segmento de urbano diminuiu o tamanho da frota em operação devido à redução de linhas no transporte coletivo ou a reorganização das linhas existentes. “Hoje todas as prefeituras operam com menos ônibus no sistema”, afirmou Arabian. “Em Curitiba, a taxa de ocupação no sistema de transporte público está em torno de 80% a 85%.”