Sonia Moraes
A Iveco Bus enxerga um cenário de incertezas para o mercado de ônibus em 2023 e mantém as mesmas projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) de queda de 11% nas vendas, 20% na produção e 9% nas exportações. “Alguns fatores podem atrapalhar o crescimento do mercado neste ano. O primeiro deles é a introdução da tecnologia Euro 6, que impacta diretamente nos custos das empresas. Há ainda crises políticas, econômicas, conflitos na Europa e aumento da taxa de juros, que afeta a liberação de crédito ao cliente que usa essa ferramenta para comprar os veículos”, disse Danilo Fetzner, diretor da Iveco Bus para a America Latina, em entrevista exclusiva para a Technibus.
Fetzner destacou que, além da tecnologia mais limpa, a Euro 6 traz um custo adicional estimado entre 20% a 30% para o cliente o que pode resultar em redução do mercado a partir do segundo trimestre, quando os novos modelos começarem a ser comercializados. “Por isso, a indústria está em stand-by avaliando qual o tamanho do impacto.”
Fetzner considera normal a retração do mercado quando há mudança na legislação de emissões, assim como ocorreu quando entrou em vigor a Euro 5. “Além das incertezas com o aumento de custos, muitas empresas ainda estão se recuperando financeiramente do grande impacto que tiveram durante a pandemia e estão estendendo a vida útil de suas frotas de veículos de 12 para 16 anos e de 15 para 18 anos.”
O diretor da Iveco Bus comentou que, por causa da crise na área da saúde, existe hoje uma demanda reprimida no mercado de ônibus e citou o ano de 2022, quando o mercado fechou com 28 mil veículos (incluindo chassis de ônibus e vans), ficando com um volume de seis mil a sete mil unidades abaixo de 2019, que registrou 34 mil unidades vendidas no Brasil. “Isso quer dizer que ainda há espaço para a retomada. A Iveco Bus quer continuar crescendo em market share independentemente do tamanho da indústria”, disse Fetzner.
O executivo destacou que no ano passado a empresa apresentou crescimento de 102% na América Latina e de 108% no Brasil. “Apesar do cenário adverso, conseguimos dobrar o número de emplacamentos tanto na América Latina quanto no Brasil.”
Em sua análise, Fetzner destacou que depois da pandemia, houve uma adaptação das empresas em relação ao modelo de trabalho, com mais funcionários exercendo suas funções em casa, e a demanda pelo transporte público vai continuar se adaptando.
“No segmento urbano, o operador do transporte coletivo sofreu muito durante a pandemia e, portanto, a recuperação financeira tem sido um pouco mais lenta. Para avançar, esse setor depende de políticas públicas. Já no segmento de fretamento e turismo, há espaço para crescer porque voltou com muita força e deve continuar neste ritmo.”
A grande aposta da Iveco Bus para manter a sua trajetória de crescimento neste ano é o ônibus Euro 6 de 17 toneladas e a Daily minibus para uso em fretamento e turismo, nas versões 45-170 e 50-170. Além do modelo completo, há a versão Vetrato com as janelas envidraçadas, mas com o salão de passageiros vazio, para ser customizado pelos implementadores e transformadores conforme a necessidade do cliente.
A empresa disponibiliza também o modelo 10.190, veículo de 190 cv de potência e 19,5 toneladas de PBT com capacidade para até 44 passageiros, que é usado para o programa Caminho da Escola. “Esse produto na configuração urbana e fretamento é uma grande aposta e temos um grande mercado para trabalhar neste segmento”, disse o diretor.
Modelos Euro 6 –
Os novos ônibus com a motorização Euro 6 começam a ser comercializados pela Iveco Bus a partir de 1º de abril. Desde o dia início de janeiro, quando entrou em vigor a nova legislação do Proconve, a fase P8, a linha de montagem na fábrica de Sete Lagoas (MG) está em processo de rump-up, produzindo poucas unidades e avaliando para assegurar a qualidade nos níveis de emissões dos veículos. “A nossa linha de produção já está 100% adaptada para o Euro 6 com todos os veículos sendo equipados com a nova tecnologia”, disse Fetzner.
O diretor afirmou que as encomendas dos novos modelos de ônibus são feitas com quatro meses de antecedência, mas a Iveco Bus já tem muitos pedidos sendo coletados e os veículos devem sair da linha de produção em agosto.
Sobre a cadeia de suprimentos, Fetzner comentou que o fornecimento de microchips ainda causa preocupação e pode acarretar rompimentos no abastecimento das fábricas neste ano. “Como são poucos produtores desses componentes, qualquer imprevisto pode interromper o fluxo de abastecimento e trazer impactos negativos globais.”
Apesar das incertezas em relação ao fornecimento de componentes, Fetzner afirmou que a Iveco Bus tem espaço para expandir a capacidade produtiva se a demanda do mercado crescer de forma surpreendente. “A empresa tem condições de continuar crescendo no mercado brasileiro e conta com um portfólio de produtos que atende bem nossos clientes.”