Márcia Pinna Raspanti
Em entrevista à revista Technibus, Luiz Carlos Moraes, diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil e ex-presidente da Anfavea, fala sobre o mercado de ônibus em 2022 e as perspectivas para o ano que se inicia. Alguns entraves devem persistir, como a falta de componentes, principalmente semicondutores, mas a expectativa é muito positiva em relação ao próximo ano. “Teremos também desafios novos, como a chegada da tecnologia Euro 6 que encarece os veículos, a taxa de juros que permanece alta e alguma incerteza em relação ao novo governo. Porém, encaramos tudo isso com muito otimismo”, observa o executivo.
Para quem conhece o mercado profundamente como Moraes, o otimismo não é gratuito obviamente, mas baseado no cenário que se desenhou ao longo dos últimos anos. “O transporte público sofreu com a crise mais aguda da pandemia em 2020 e 2021, mas em 2022 houve a retomada, o que ajudou o mercado interno. E quem havia postergado a renovação de frota, voltou a comprar”, relembra.
Moraes classifica 2022 como “um ano bom” para a indústria de ônibus em geral e em especial para a Mercedes-Benz. O mercado foi puxado pelo segmento de ônibus urbanos e também pelo programa Caminho da Escola, com as licitações já realizadas. “Agora, vamos esperar que o novo governo faça novas licitações”, diz.
A iminente chegada do Euro 6 (Proconve P8) foi o que norteou a indústria nos últimos meses. “Em 2023, teremos o Euro 6, uma tecnologia que recebeu um investimento relevante. O pós-tratamento é novo e gerenciado por um software, tudo isso resulta em produtos sofisticados, que irão contribuir para a redução da emissão de poluentes”, comenta diretor da Mercedes-Benz.
ELÉTRICOS-
Moraes destaca que a montadora é a marca com a maior participação no mercado brasileiro de ônibus e tem investido bastante em novos modelos e tecnologias, apresentando também o chassi elétrico eO500U, lançado em agosto de 2021. “O problema do desabastecimento de semicondutores preocupa mais porque tanto o elétrico quanto os ônibus Euro 6 têm mais tecnologia e, portanto, necessitam de mais componentes deste tipo. Isso pode ser um limitador para a produção.”
A Mercedes-Benz destinou cerca de R$ 100 milhões ao projeto do eO500U, conforme anunciado à época do lançamento. Segundo Moraes, a montadora se prepara para lançar outros modelos para ônibus urbanos elétricos. “As operadoras terão mais alternativas, mas não podemos adiantar nada sobre esses novos projetos”, diz.
Para esquentar ainda mais o tema dos elétricos, em outubro de 2022, as operadoras do transporte público da capital paulista foram proibidas pela SPTrans de adquirir ônibus movidos a diesel. Os modelos a diesel em circulação podem continuar em operação até o fim de sua vida útil. A medida foi divulgada em uma circular elaborada pela superintendência de contratos do sistema de transporte. O objetivo é aumentar o número de veículos elétricos que compõem a frota da cidade para que, até 2024 quando termina a atual gestão do prefeito Ricardo Nunes, a cidade conte com 2,6 mil veículos movidos a energia elétrica no transporte público.
Para Luiz Carlos Moraes, apesar da indústria brasileira estar preparada para produzir os modelos elétricos, a medida pode não ser tão positiva. “Não é assim que se resolve o problema. A transição para o elétrico vai acontecer, mas precisa de muito planejamento. A tecnologia é mais cara e depende de linhas de crédito para as operadoras. É preciso criar formas para que o custo não impacte as tarifas do transporte público. E também temos os modelos com tecnologia Euro 6 que reduzem as emissões significativamente. Tudo precisa ser muito bem planejado”, reforça.
Para Moraes, a eletrificação é mais adequada para o segmento de ônibus urbanos. “No rodoviário, que percorre longas distâncias não vemos os modelos elétricos como uma solução viável. Isso vale também para os caminhões: os elétricos são ideais para a distribuição urbana, reduzindo as emissões e o ruído das cidades. E a Mercedes-Benz está pronta para liderar esse movimento de eletrificação em ônibus e caminhões”, afirma. O executivo lembra que há outras alternativas que podem contribuir com a descarbonização como o HVO (óleo vegetal hidrotratado) ou “diesel verde”.
O segmento de ônibus rodoviários também está em uma boa fase, com a retomada do turismo nacional e dos eventos. “É um mercado menor que o de urbanos, mas muito importante. A Mercedes-Benz está investindo bastante nesse segmento tanto na tecnologia Euro 6 quanto nos vários itens de segurança”, conta Moraes.
MERCADO EXTERNO-
Moraes destaca também a importância das exportações para a Mercedes-Benz. “Os mercados da América Latina, Ásia e África são bastante significativos. E o Brasil é o único país latino-americano que vai adotar o Euro 6 de forma integral. Países como Chile e Colômbia têm a obrigatoriedade do Euro 6 apenas em algumas regiões ou cidades. Então, o Brasil está à frente nessa tecnologia”, comenta.
De olho nestes mercados externos, a montadora realizou, em novembro, um evento especialmente pensado para clientes da América Latina e de outros continentes, a fim de apresentar a capacidade e o potencial da indústria brasileira de ônibus. Realizado na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), o “Mercedes-Benz Bus Product Experience” foi promovido pelo Regional Center Daimler Latina em conjunto com a Daimler Trucks & Buses Overseas, da Alemanha.
Moraes conta que o encontro foi bastante produtivo. “Pudemos apresentar nosso portfólio de produtos, serviços e conectividade. Buscamos sempre oferecer soluções para reduzir o custo operacional da frota em todos os mercados que atuamos. Foi um evento interno, apenas para convidados”, diz.
Foram realizados workshops em que foram apresentados chassis de ônibus rodoviários O 500: o modelo RS 1945 4×2 e o RSD 2448 6×2, com novos itens de tecnologia de segurança, que são adequados para clientes que operam em grandes altitudes, como na região andina do Chile e do Peru. A eletrificação foi outro tema abordado, assim como a linha completa de chassis de ônibus urbanos e rodoviários da marca, da motorização Euro 3 à Euro 6. As principais encarroçadoras brasileiras – Caio Induscar, Comil, Irizar, Marcopolo e Mascarello – também participaram do encontro e mostraram seus produtos.