Sonia Moraes
O mercado de ônibus deverá encerrar 2022 com o emplacamento de 17 mil veículos, o que representará crescimento de 25% em relação a 2021. A previsão é de Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.
Se não fosse a desorganização na cadeia logística causada pela pandemia, o crescimento do mercado de ônibus poderia ser superior a 50%, com 22 mil veículos vendidos neste ano, segundo Barbosa. “A demanda foi muito grande porque os clientes queriam renovar a frota por causa da obrigatoriedade contratual e o envelhecimento da frota”, revelou.
De janeiro a outubro, foram emplacados 13.238 veículos acima de oito toneladas, 13% a mais em relação ao mesmo período do ano passado, que registrou 11.720 veículos vendidos no país, segundo a Mercedes-Benz.
O que impulsionou o mercado de ônibus neste ano, segundo Barbosa, foi o modelo escolar que teve crescimento expressivo. Até outubro, foram emplacados 4.609 veículos – 3.078 micro-ônibus, 12,3% a mais que nos dez meses do ano passado, e 1.531 modelos de 15 toneladas, modelo que se expandiu em 210%. “Este segmento cresceu por força contratual, pois as montadoras têm que cumprir o cronograma de entrega do governo federal para evitar multas e proibição de participar de outras licitações”, esclareceu o diretor da Mercedes-Benz.
Os ônibus escolares entregues até outubro são referentes à licitação de sete mil veículos realizada em 2021 e de três mil veículos concluída neste ano, que contou com a participação somente da Volkswagen Caminhões e Ônibus. As demais montadoras desistiram de participar da disputa com receio de não conseguir dar conta de produzir os veículos devido às incertezas na entrega de peças pelos fornecedores. “Este segmento continuará forte até março de 2024, emplacando 500 ônibus por mês”, calculou Barbosa.
Os demais segmentos não avançaram na mesma velocidade que os escolares por causa de atrasos no fornecimento de componentes. “Houve muito interesse de compras, mas as limitações na cadeia logística atrapalharam a produção e o crescimento do mercado de ônibus, que poderia ter sido muito maior até outubro”, disse Barbosa.
A previsão do diretor da Mercedes-Benz é que os problemas na cadeia logística demorem para ser solucionados. “Em 2023 ainda teremos impactos logísticos, não na mesma proporção que foi este ano, mas ainda devem existir alguns desafios não somente com a falta de semicondutores, mas de outros componentes. A volta da normalidade deverá ocorrer somente em 2024.”
É o período que Barbosa considera suficiente para o crescimento e a preparação da nova cadeia logística, que foi muito impactada pela pandemia. “Em todo o mundo muitas empresas fecharam ou reduziram de tamanho e ainda houve a guerra na Ucrânia, que afetou os fornecedores de maneira global.”
No mercado de ônibus, outros segmentos, como o de micro-ônibus, tiveram 2.458 unidades emplacadas até outubro, ficando 6,5% abaixo do mesmo período do ano passado, mas Barbosa prevê que até o fim do ano a retração seja de 3% a 4%.
Os modelos urbanos cresceram 11,4%, com 3.689 veículos emplacados nos dez meses deste ano. Se houvesse mais produtos disponíveis teria crescido de 30% a 40%, segundo Barbosa. No segmento rodoviário, o avanço foi de 135%, com 1.385 veículos vendidos no país, e no de fretamento a queda foi de 44%, com 1.097 veículos emplacados, o que era esperado por causa do fim da necessidade de distanciamento social.
Para segmento o rodoviário, que apresentou grande demanda neste ano, a expectativa de Barbosa é de que 2023 também seja um ano forte com muita renovação de frotas. “Com exceção do fretamento, todos os segmentos tiveram bom desempenho”, destacou.
Como pontos positivos, o diretor da Mercedes-Benz lembrou das oportunidades que a pandemia trouxe para o setor de transporte de passageiros, que precisou se reinventar depois de chegar ao fundo do paço. “O novo marco legal criado para o setor e as ações colocadas em práticas foram importantes. Hoje temos aumentos de tarifas nos principais municípios e mais de 250 cidades com algum tipo de subsídio, enquanto antes da pandemia 16 municípios tinham subsídio”, disse Barbosa. “O poder público entendeu que não dá para ter transporte sem subsídio porque o diesel subiu mais de 100% nos últimos 15 meses, e a taxa Selic em 13,75% está muito elevada.” Ele citou também os R$ 2,5 bilhões liberados pelo governo para cobrir a gratuidade dos usuários com mais de 65 anos.
“Hoje a situação do mercado de ônibus está melhor, embora os empresários ainda não estejam tranquilos, mas conseguem enxergar um horizonte, pois tem subsídios, tecnologias menos poluentes e maior interesse do poder público no transporte”, comentou o diretor da Mercedes-Benz.
Barbosa ressaltou, no entanto, que alguns fatores precisam de atenção. “Há ainda os desafios na logística, o custo da matéria-prima e a alta taxa Selic que não incentiva o cliente a renovar frota”, destacou.
No mercado de ônibus, dos 26.950 veículos produzidos até outubro 46,8% são da Mercedes-Benz. No segmento rodoviário a empresa tem 70% de participação, no urbano 67,6%, no escolar 46%, no fretamento 39,2% e no de micro-ônibus 36,5%, com quatro meses de liderança de mercado.
Elétricos –
Sobre o avanço da eletrificação no mercado de ônibus, Barbosa afirmou que este é o caminho sem volta, mas destacou que a mudança de matriz energética deve ocorrer de forma gradual. “Ainda temos no mercado 1,5 mil ônibus Euro 5 vendidos, dos quais 950 são da Mercedes-Benz. Estes veículos estão prontos nos encarroçadores para serem emplacados.”
Nas cidades de Curitiba, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador e Goiânia, as negociações com modelos elétricos estão avançadas e a Mercedes-Benz já têm contratos fechados. Para Vitória, já foram entregues quatro ônibus e para Salvador oito modelos. Em parceria com a Eletra, a Mercedes-Benz tem três modelos elétricos vendidos – o chassi O 500 U de 12,5 metros e os chassis O500 UDA e o O500 MDA de 21,5 metros.
Para a cidade de São Paulo, a Mercedes-Benz começa a produzir a partir de dezembro o seu ônibus elétrico eO500U de 13,2 metros que serão entregues em 2023. “A cidade de São Paulo quer colocar em operação 1,5 mil ônibus elétricos em 2023 e mais 1,5 mil em 2024, totalizando três mil modelos elétricos no sistema”, revelou Barbosa.