Technibus – Quais as expectativas da Bosch para 2021?
Besaliel Botelho – A recuperação do mercado em 2020 foi melhor do que as expectativas, considerando a pandemia, seus desafios e as incertezas. Mas, com base no aumento de vendas de automóveis dos últimos meses do ano, atrelado ao baixo nível dos estoques neste começo de 2021, acreditamos num cenário com crescimento em torno de 25%, ou seja, cerca de 2 milhões e 500 mil veículos produzidos do Brasil.
Technibus – Diante de um cenário de muita instabilidade por causa da pandemia da Covid-19, quais os principais desafios a serem enfrentados pela Bosch na América Latina em 2021?
Besaliel Botelho – Atualmente um dos grandes desafios enfrentados pela indústria automotiva global é a falta de componentes eletrônicos, como os semicondutores, que já está refletindo inclusive na produção local. Os atuais entraves logísticos, assim como a falta de insumos, como o aço, e a forte desvalorização do real frente ao dólar elevam os custos de produção e impactam negativamente na venda de veículos no mercado brasileiro. A Bosch está atuando junto com a sua cadeia de fornecedores com o intuito de resolver essas questões da melhor forma possível e para regatar a competitividade da produção local.
Também estamos confiantes que com o início da vacinação, juntamente com as mudanças pragmáticas e positivas do governo, teremos uma retomada gradual da economia projetando um PIB 3,5% em 2021. Seguimos firmes no propósito de garantir a liquidez e a sustentabilidade dos negócios do Grupo Bosch na América Latina.
Technibus – De tudo que a Bosch tem programado para o ano, qual a principal meta a ser alcançada pela companhia na América Latina?
Besaliel Botelho – A nossa meta para 2021 é seguirmos garantindo a sustentabilidade dos negócios do Grupo Bosch na região. Temos um longo caminho pela frente no que se refere as transformações tecnológicas automotivas, que visam ampliar serviços e soluções com base na maior digitalização, conectividade e na Internet das Coisas. Buscamos, com isso, atender as tendências de uma mobilidade cada vez segura, conectada e limpa.
Technibus – A Bosch tem uma área específica que pretende reforçar o foco em 2021?
Besaliel Botelho – Uma das principais vantagens competitivas do Grupo Bosch é a sua diversidade de atuação em diferentes setores de negócios. O nosso foco é continuar investindo no desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente nos setores de agronegócios, mineração, Indústria 4.0, gestão e monitoramento de frotas. Acreditamos que a digitalização, a conectividade e o big data são a base futura dos novos modelos de negócios e as nossas soluções e serviços seguem essa tendência.
Technibus – Na área de tecnologia o que a Bosch está desenvolvendo especificamente para ônibus na Europa e quando esta tecnologia poderá ser introduzida nos veículos na região da América Latina, inclusive o Brasil?
Besaliel Botelho – A transformação da mobilidade envolve diferentes tipos de modais e a integração entre eles. Visto isso, a Bosch tem atuado no desenvolvimento de tecnologias que visam uma mobilidade urbana cada vez mais autônoma, conectada e eletrificada. Isso inclui diversos sistemas, sensores e softwares que aumentam a segurança, o conforto e eficiência e para a redução de CO2.
Technibus – Quais as soluções da Bosch que contribuem para a eletrificação (trem de força) dos ônibus?
Besaliel Botelho – A Bosch está desenvolvendo diversas soluções em eletrificação, como os motores elétricos e a eletrônica de potência, focando em alto rendimento para aumentar a autonomia ou reduzir a necessidade de bateria. Temos uma parceria com a Nikola, em que estamos desenvolvendo a célula combustível a hidrogênio que, para ônibus, é uma excelente alternativa para se aumentar potência e autonomia da forma que esses veículos exigem. Além disso, possuímos diversos componentes como direção, sensores, conectores, e acionadores atendendo as mais exigentes normas de segurança focadas em eletrificação. Sem falar na unidade de controle veicular (ECU) com maior poder de processamento exigido para os veículos elétricos, que inclusive já será fabricada na nossa planta em Campinas a partir deste ano (2021).
Technibus – Quais soluções tecnológicas são específicas para caminhões?
Besaliel Botelho – Um exemplo que posso citar é o desenvolvimento da célula combustível à hidrogênio em parceria com a Nikola. Estamos desenvolvendo os inversores, conversores e motores de maior voltagem e potência. Do outro lado, também possuímos a mais avançada tecnologia para gerenciamento de motores diesel com alta precisão que, associada a sistemas de pós-tratamento de gases e às aplicações para biocombustíveis, contribui fortemente para o atendimento das legislações vigentes.
Technibus – O que precisa para introduzir essas inovações tecnológicas nos veículos pesados no Brasil?
Besaliel Botelho – O Brasil é um país continental, onde cerca de 60% do transporte de cargas ocorre pelas rodovias. Para a implementação de novas tecnologias de propulsão, por exemplo, se faz necessário investir em infraestrutura de abastecimento ou recarregamento das baterias. Já faz parte do programa Rota 2030, a introdução da legislação Conama P8 (equivalente ao Euro 6 na Europa), que exigirá a introdução de novas tecnologias para reduzir as emissões de caminhões e ônibus com motores a combustão. Acreditamos que no futuro teremos várias soluções tecnológicas complementares com o objetivo de proporcionar maior eficiência e autonomia, especialmente em longos trajetos.
Technibus – Há necessidade de incentivo do governo?
Besaliel Botelho – Muito além de incentivos, o mais importante é termos uma política industrial que atraia novos investimentos, especialmente no desenvolvimento de tecnologias disruptivas. Atualmente, temos um marco importante, o Rota 2030, que traz um norte para onde devemos nos orientar. Entretanto, sabemos que o caminho para o sucesso depende de um mercado competitivo, da redução do custo Brasil, bem como de reformas estruturais, como a tributária, além de investimentos importantes em infraestrutura.
Technibus – Quais as principais tendências para o mercado de caminhões e ônibus?
Besaliel Botelho – A mobilidade do futuro passará necessariamente pela internet e, com isso, a indústria automotiva enfrenta dois grandes desafios: desenvolver veículos ainda mais seguros, limpos e conectados, além de soluções para aprimorar os fluxos nos grandes centros urbanos. A conectividade, a eletrificação e automatização também estarão presentes no segmento dos veículos comerciais. Uma das principais tendências no segmento de caminhões e ônibus urbanos, por exemplo, é o powertrain elétrico pela viabilidade de recarregamento das baterias e pela pouca distância percorrida durante o dia.
Já para ônibus e caminhões rodoviários (longas distâncias) o desafio é maior. Uma das soluções é a célula de hidrogênio que proporciona melhor autonomia e viabilidade de abastecimento, mas que também requer investimentos em infraestrutura.
Technibus – O que isso trará de benefícios para a população?
Besaliel Botelho – Tecnologia para vida, é isso que fazemos! Por meio de nossas soluções tecnológicas, estamos ajudando a construir uma mobilidade mais limpa, segura e confortável. Com isso, trazemos como benefício a redução de CO2 além de um trânsito mais eficiente, seguro e confortável especialmente nos grandes centros urbanos.