Sonia Moraes
Mesmo com a melhora nas vendas em julho, com 1.523 veículos licenciados, o que representou um crescimento de 42,5% sobre o mês anterior, o mercado de ônibus ainda está longe da recuperação, diante da perda que o setor enfrentou com a pandemia da Covid-19.
“As fabricantes conseguiram diminuir o impacto da crise em julho com as negociações fechadas para o Caminho da Escola e um pouco de vendas para o fretamento, mas o setor ainda está em crise”, disse Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
No acumulado de janeiro a julho, o mercado de ônibus registrou queda de 36,7% com a venda de 7.239 veículos, em comparação com os 11.430 modelos que foram licenciados no mesmo período de 2019. “O setor deu um cavalo de pau nos meses anteriores, agora os motores estão ligados, mas ainda há muita incerteza pela frente”, afirmou Bonini.
“Temos uma visão pessimista para o mercado de ônibus por conta de toda complexidade da mobilidade do setor, por causa da falta de dinheiro, porque as pessoas ainda estão em isolamento. Mesmo com a flexibilização, é difícil imaginar que até o fim do ano as pessoas estarão viajando, fazendo turismo e utilizando ônibus rodoviário”, comentou o vice-presidente da Anfavea.
No segmento de urbanos, as cidades estão postergando a renovação de frotas, segundo Bonini. “Algumas estão sugerindo estender a vida útil dos veículos devido ao problema de caixa, e isso causa preocupação. É um movimento legítimo dos operadores porque a pandemia provocou queda de 80% no número de passageiros e uma redução de 25% na frota de veículos em circulação.”
O vice-presidente da Anfavea comentou que o programa do governo federal tem sido essencial para resgatar um pouco de volume ao mercado de ônibus este ano, o mais impactado pela crise do coronavírus. “O Caminho da Escola teve uma participação expressiva nas vendas deste mês, assim como no mês anterior, e acredito que em mais alguns meses ainda teremos o reflexo desse programa nos resultados do setor.”
Bonini afirmou, no entanto, que é necessário apurar os números de agosto e setembro para ter uma visão mais clara deste mercado. Porém, diante das incertezas que ainda rondam o país, está mantida pela Anfavea a previsão de vender dez mil ônibus em 2020, o que representará uma queda de 52% sobre 2019, quando foram comercializados 20.932 veículos.
Para todo o setor automotivo a expectativa é que a recuperação seja lenta em 2021 com crescimento de 11% em um melhor cenário, segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. “Mas ainda vemos o setor de ônibus com muita dificuldade”, disse.
Exportação –
Sobre as exportações, embora o número de julho tenha sido melhor com o embarque de 561 chassis de ônibus, que resultou em um crescimento de 47,2% sobre junho, Bonini disse que esse resultado não significa uma retomada, pois é reflexo do represamento nos embarques de abril e maio. “Houve uma renegociação com os clientes e os lotes que seriam exportados nos meses mais críticos da pandemia foram concluídos em julho. Mas a partir de agosto teremos uma sinalização melhor para o setor.”
Segundo Bonini, o pior resultado das exportações de ônibus foi em abril, com o total de 70 veículos – 50 urbanos e 20 rodoviários –, queda de 77,2% sobre março. Em maio, foram vendidos no mercado externo 266 modelos – 217 urbanos e 49 rodoviários –, aumento de 280% sobre abril. Em junho, foram 381 unidades – 311 rodoviários e 70 urbanos, 43,2% a mais que no mês anterior. Em julho, dos 561 ônibus exportados, 289 unidades são de urbanos e 272 rodoviários, mantendo um equilíbrio na quantidade de modelos comercializados. O Chile e a Colômbia são os principais destinos das exportações de ônibus brasileiros, seguido pelo Peru e a Argentina.
Em CKD (veículos desmontados) as montadoras exportaram 1.334 ônibus de janeiro a julho, 10,58% a menos que no mesmo período de 2019, quando foram vendidos 1.492 veículos no exterior.
Produção –
Com os embarques renegociados e o mercado interno ainda fragilizado pela crise do coronavírus, a produção de ônibus continua em ritmo lento e muito aquém do potencial do mercado, de acordo com Bonini.
Os 1.237 ônibus produzidos em julho (1.143 urbanos e 94 rodoviários) representou uma queda de 10,7% sobre junho (1.385 unidades) e de 53,1% sobre julho de 2019, quando foram fabricados 2.640 chassis. No acumulado de janeiro a julho saíram da linha de montagem 10.211 chassis de ônibus (8.137 urbanos e 2.074 rodoviários), redução de 38,9% sobre os 16.704 veículos (13.146 urbanos e 3.558 rodoviários) fabricados no mesmo período de 2019.
Ranking de vendas –
No mercado de ônibus, a Mercedes-Benz manteve a liderança de vendas no acumulado de janeiro a julho, com 3.896 veículos licenciados, 33,9% abaixo dos 5.895 chassis vendidos no mesmo período de 2019. A Volkswagen Caminhões e Ônibus continua em segundo lugar ao comercializar 1.742 chassis, 44% inferior aos 3.112 veículos vendidos nos sete meses de 2019.
A Agrale, terceira no ranking, vendeu 850 unidades até julho, redução de 37,3% sobre janeiro a julho de 2019 (1.366 unidades). A Volvo quarta colocada comercializou 268 chassis, 40,6% a menos que nos sete meses de 2019 (451) e a Scania, quinta colocada, teve 228 ônibus vendidos até julho, 37,9% a menos que nos sete meses de 2019 (367 unidades).
A Iveco, última colocada no setor, vendeu 143 ônibus de janeiro a julho, 16,4% a menos que no mesmo período de 2019 (171 unidades), de acordo com a Anfavea.