Com a demanda reprimida, o turismo paralisado e a indústria retomando
as atividades de forma lenta, depois de fechar as fábricas no fim de março
por causa da pandemia do coronavírus, o mercado de ônibus – o mais
afetado pela crise do Covid-19 – deverá terminar o ano com queda de 50%
na produção, o que resultará na montagem de 11 mil carrocerias. Esta é a
estimativa de Ruben Antonio Bisi, presidente da Associação Nacional dos
Fabricantes de Ônibus (Fabus).
No acumulado de janeiro a maio de 2020, dos 6.242 ônibus produzidos
(32,4% a menos que nos primeiros cinco meses do ano anterior) 5.225
unidades foram vendidas no mercado brasileiro e 1.019 unidades no
exterior, segundo a Fabus.
“Neste cenário de pandemia, as empresas acumularam grande estoque de
pedidos e as compras não estão se concretizando e quando acontecem
são pontuais, porque as operadoras do sistema de transporte estão
debilitadas por causa da crise”, afirma Bisi.
Em sua análise sobre a situação atual do transporte público, o presidente
da Fabus afirma que o setor foi muito impactado pelo Covid-19. “O
turismo ainda está totalmente parado e o fretamento eventual teve queda
de 90%. Somente o fretamento de empresas registrou pequeno aumento
da demanda em algumas regiões por causa da necessidade de manter o
distanciamento das pessoas no interior dos ônibus.”
O serviço de transporte interestadual de passageiros está com 90% de
ociosidade, operando com 10% da frota em todo o país, segundo Bisi. “O
intermunicipal começou a voltar e opera com 20% da frota e o transporte
urbano, que estava com 30% da frota em operação, circula hoje com 70%
da frota, mas o retorno na receita das empresas é de 40%.”.
Neste momento de demanda reprimida no transporte público, o que
sustentará a produção de ônibus este ano, segundo Bisi, serão os micro-
ônibus destinados ao programa Caminho da Escola do governo federal.
Dos 6.800 ônibus licitados em agosto do ano passado, 2.000 unidades já
foram produzidas, falta finalizar a produção restante de 4.800 veículos.
Para enfrentar está fase difícil, as operadoras do sistema de transporte
precisam de desoneração da folha de pagamento, segundo o presidente
da Fabus. “Se o governo vetar essa proposta a passagem de ônibus terá
que ser reajustada entre 4% a 5%”, alerta.
Medidas emergenciais-
Bisi informa que a Fabus, junto com a Anfavea (que representa as
montadoras de chassis) e a ANTP (que representa as operadoras de
transporte público), está se movimentando e já elaborou um pacote de
reivindicações para evitar o colapso do transporte coletivo no país.
Entre as medidas emergenciais propostas para o transporte público, o
presidente da Fabus cita a compra antecipada pelo governo federal de
passagens de ônibus para serem doadas aos profissionais da saúde e aos
usuários do transporte de baixa renda. Por meio do programa social
seriam destinados mensalmente R$ 2,5 bilhões aos municípios para a
aquisição de créditos eletrônicos de passagens enquanto perdurar a crise
do Covid-19.
O setor reivindica ainda o financiamento de longo prazo com taxas de
juros acessíveis e a mudança de horário dos estabelecimentos comerciais,
da indústria e das escolas para reduzir a demanda no horário de pico,
facilitar o distanciamento das pessoas e evitar a ociosidade do sistema.
Na área de exportação as encarroçadoras pedem a volta do Regime
Especial de Reintegração de Valores Tributários para as empresas
exportadoras (Reintegra), que tem por objetivo devolver parcial ou
integralmente o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção
de bens exportados.
“O dólar atual está ajudando a exportação, mas o problema é que os
países, principais compradores de ônibus brasileiros, como a Argentina,
Bolívia e Equador, estão com problemas por causa da pandemia. Como
alternativa, as empresas estão buscando novos mercado e a África é a que
mais está comprando ônibus atualmente”, informa Bisi.
O presidente da Fabus prevê que a demanda do transporte coletivo cairá
15% depois da pandemia do coronavírus. “E para enfrentar o novo
normal, o sistema de transporte passará por grande mudança, o que
exigirá investimentos em inovação e muita criatividade para oferecer ao
usuário um novo modelo de ônibus”, afirma Bisi.
A Marcopolo já fez a sua parte ao desenvolver o Paradiso 1200 New G7
com dois corredores e novo posicionamento das poltronas separadas por
cortinas antimicrobianas para preservar a saúde e a segurança dos
usuários, além de manter o distanciamento no interior do veículo.
Passada a pandemia o presidente da Fabus prevê que em todo o
transporte público o fretamento volte com mais força, pois quando a
indústria retomar o ritmo normal de trabalho terá que cumprir o
protocolo de segurança para manter o distanciamento dos empregados no
interior do veículo e isso demandará mais ônibus.
“O transporte urbano também voltará a operar com frota maior, de
acordo com a demanda das cidades, porque a população precisa se
deslocar. Já o turismo será o último a voltar porque o Brasil vai demorar
um pouco mais para atrair o estrangeiro”, afirma Bisi.
O presidente da Fabus prevê que, se o governo federal conceder
financiamento de longo prazo com mais carência para o pagamento da
primeira parcela às empresas que operam o sistema de transporte, o
mercado de ônibus poderá retomar o ritmo de crescimento em 2021.