Mercedes-Benz prevê mercado menor em 2023

O primeiro semestre ainda deve ter um bom desempenho, mas há uma tendência de desaceleração e os negócios que serão concretizados neste ano tendem a ser menores que no ano passado

Sonia Moraes

A Mercedes-Benz ainda não tem uma estimativa precisa sobre o mercado de ônibus em 2023. A previsão inicial é de uma queda de 7%, com a venda de 16 mil veículos, ante as 17.256 ônibus emplacados em 2022. Mas, a empresa também conta com a possibilidade de que o volume de vendas seja maior e até supere o ano passado. “Isso deve ocorrer porque nos últimos três meses do ano passado foi colocada uma grande quantidade de veículos no mercado pelo fato de a indústria ter conseguido regularizar o fornecimento de componentes. Houve um acúmulo de modelos, e toda a indústria faturou nos três últimos meses”, afirma Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz, em entrevista exclusiva para a Technibus.

“Agora as fabricantes de carrocerias têm grande volume de ônibus Euro 5 para produzir, que receberam em outubro, novembro e dezembro do ano passado.” A Mercedes-Benz, que detém 50% do mercado de ônibus, não virou o ano com estoque de veículos da maior parte dos modelos, com exceção dos escolares, porque os veículos estavam em processo de encarroçamento.

Segundo Barbosa, de janeiro a março deste ano, foram vendidos 6.106 ônibus acima de oito toneladas no mercado brasileiro – 2.287 escolares, 2.028 urbanos, 1.062 micro-ônibus, 406 rodoviários e 326 modelos para fretamento. Esse volume é 84% superior ao primeiro trimestre de 2022 e grande parte é de modelos Euro 5.

Do total vendido no primeiro trimestre, 2.793 são da Mercedes-Benz – 655 em janeiro, 882 em fevereiro e 1.256 em março –, sendo 1.425 urbanos, 484 micro-ônibus, 472 escolares, 255 de rodoviários e 157 de fretamento.

“O ano começou aquecido para o mercado de ônibus, mas isso não é sustentável. O primeiro semestre deve ter um bom desempenho, mas há uma tendência de desaceleração que ainda não se mostrou no segmento devido à elevada taxa de juros”, afirma Barbosa.

“Com a Selic em 13,75%, mais o spread bancário, a taxa de juros não será menor que 20% ao ano e isso é extremamente elevado para fazer negócios, seja com caminhões ou ônibus”, ressalta o diretor da Mercedes-Benz. “Adiciono ainda a alta nos preços dos veículos por causa da inflação e da tecnologia, com a mudança de Euro 5 para Euro 6.”

Barbosa prevê que, com o aumento no preço do chassi e da carroceria (que tem o peso da inflação e outros itens), do diesel, o reajuste da mão de obra, mais a alta na taxa de juros e incertezas políticas, os negócios que serão concretizados neste ano tendem a ser menores que no ano passado. “Se nada for feito na economia e se a taxa de juros for mantida neste patamar, o cliente vai suspender as compras de ônibus.”

Na avaliação de Barbosa, o mercado de urbanos, que começou aquecido continuará com demanda porque os operadores que deixaram de renovar a frota durante a pandemia, estão renovando agora por exigência de contrato.

“O fretamento, que teve grande procura durante a pandemia por causa da necessidade do distanciamento social, não teve bom desempenho no ano passado e voltou ao patamar normal e, em vez de vender 2.100 unidades, fechou o ano com 1.350 ônibus e este ano deve manter este volume”, calcula o diretor.

O segmento rodoviário, que alcançou bom resultado em 2022, com 1.800 veículos emplacados, terá um volume menor neste ano devido ao atraso na homologação dos modelos Euro 6. “Os encarroçadores ainda estão trabalhando em cima das homologações que devem ser concluídas no meio do ano. Portanto, no primeiro semestre dificilmente haverá emplacamento de ônibus rodoviários”, observa Barbosa. “Por esse motivo, eu não coloquei no programa de produção os ônibus rodoviários agora. Vamos produzir esses modelos somente a partir de maio ou junho, e o emplacamento ocorrerá no segundo semestre.”

Barbosa afirma que os clientes estão comprando ônibus rodoviários Euro 6 e a Mercedes-Benz está com muitos pedidos. “Mas só vamos entregar o chassi no meio do ano para os encarroçadores e os veículos estarão em operação em setembro.”

O diretor da Mercedes-Benz revela que a falta de peças não está totalmente solucionada, mas a situação está melhor. “Estou conseguindo produzir os ônibus, fazer estoques e trabalhar normalmente como nos anos anteriores a 2022, mas os desafios são outros.”

O diretor da Mercedes-Benz afirma que não está nem pessimista e em otimista em relação ao mercado de ônibus. “Eu sou pragmático quanto aos fatores que influenciam o nosso negócio. Com a taxa de juros do jeito que está, e insisto nisso, o crédito não está fácil. O cliente quer comprar e, se não for por meio do banco de montadora, é muito difícil viabilizar o negócio. Então, se considerarmos todos os pontos econômicos na mesa, há muita preocupação.”

“O otimismo é devido ao fato de que o país venceu o problema da pandemia, e o setor de ônibus, que dependia totalmente da circulação de pessoas, voltou a ter oxigênio. Agora, se este ano vai ser melhor ou pior, depende de uma conjuntura maior”, comenta Barbosa.

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