Mercedes-Benz vislumbra desempenho positivo para o mercado de ônibus

A fabricante de chassis está com elevada demanda de todos os segmentos, mas considera que a grande disputa neste ano estará concentrada nos urbanos e nos micro-ônibus

Sonia Moraes

A Mercedes-Benz está confiante no desempenho positivo do mercado de ônibus com a recuperação vigorosa registrada no início deste ano. A montadora prevê que 2024 termine com 25 mil veículos emplacados, o que representará um crescimento de 23,2% sobre os 20.294 ônibus vendidos em 2023, incluindo somente os modelos acima de 16 toneladas. “O mercado começou bem agitado, e os números esperados para este ano representam um bom indicador, pois equivalem ao resultado de 2019, último ano antes da pandemia”, disse Walter Barbosa, vice-presidente de vendas e marketing peças e serviços ônibus da Mercedes-Benz, em entrevista exclusiva para a Technibus.

Com liderança expressiva no mercado de ônibus – 53,4% de participação em todo o setor, 78% no urbano, 62% no rodoviário, 44% no fretamento e 19% no micro-ônibus –, a Mercedes-Benz comemora a elevada demanda de todos os segmentos de ônibus, mas considera que a grande disputa neste ano estará concentrada nos urbanos e micro-ônibus.

Urbanos e micro-ônibus –

“O mercado de urbanos vai se forte, apesar da queda de 10% nas vendas de janeiro a março em relação ao primeiro trimestre do ano passado, com emplacamento de 1.801 unidades. Ainda estamos em abril e, como teremos eleições municipais, há chances de boas compras até agosto. Então vamos ter volume entre seis mil a sete mil urbanos emplacados em 2024”, afirmou Barbosa.

O segmento de micro-ônibus está num ritmo forte e continuará com bom desempenho por causa da versatilidade de ser usado no segmento urbano, rodoviário e fretamento. “Até março foram vendidos 953 veículos e deve chegar ao fim do ano com 3,8 mil a quatro modelos emplacados. Se somarmos a versão normal ao escolar, teremos quase dez mil unidades de micro-ônibus comercializados neste ano, do total de 25 mil ônibus a serem vendidos no país.”

Por causa da burocracia entre assinar os pedidos e aprovar os protótipos, a liberação dos escolares pode atrasar um pouco e os emplacamentos devem acontecer a partir de junho ou no início do segundo semestre, segundo Barbosa. “Mas não vai atrapalhar as perspectivas de vendas para o setor.”

Fretamento e rodoviário-

Para o mercado de fretamento, que apresentou crescimento de 45%, com 475 veículos emplacados no primeiro trimestre, também é esperado bom desempenho neste ano. Em 2022 e 2023, as empresas ficaram com veículos sobrando na frota devido à grande compra realizada durante a pandemia para atender os pedidos da indústria. “Agora as empresas estão começando a renovar. Além disso, o fretamento tem uma relação direta com o PIB do país e quando o PIB está positivo, as indústrias em geral estão crescendo. O fretamento cresce também porque quem usa o ônibus de fretamento são as fábricas.”

O segmento rodoviário, que também cresceu 45% com o emplacamento de 586 ônibus de janeiro a março, está com grande demanda por causa do preço elevado das passagens aéreas, o que tem levado as pessoas migrar do avião para o ônibus. “Ainda há o marco regulatório, aprovado em dezembro do ano passado, que regulamentou o sistema rodoviário no país e gerou uma competição mais saudável, pois todos os operadores participam no mesmo nível, seja em serviço ou veículos. Além disso, o setor de transporte rodoviário se compromete investir R$ 3 bilhões, o que envolve a compra de ônibus novos”, comentou Barbosa.

Distorções do mercado-

Sobre as distorções no mercado de ônibus com a queda de 33% nos emplacamentos de janeiro a março deste ano, tendo 4.095 veículos vendidos, e a demanda aquecida em todos os segmentos, Barbosa explicou que essa retração tem muito a ver com o grande volume de veículos para o Caminho da Escola que foi emplacado nos três primeiros meses do ano passado, atingindo 2.031 unidades. “Quando comparamos com os 281 veículos vendidos no primeiro trimestre deste ano, a queda é de 86%. É isso que está causando a grande distorção no mercado neste momento e não significa que o ano será ruim, ao contrário, será muito positivo em todos os segmentos”, afirmou Barbosa.

Elétricos-

Em sua análise sobre a eletromobilidade no transporte público, o vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz considera que no Brasil os ônibus elétricos serão veículos de nicho e alertou que a falta de infraestrutura e de planejamento de alguns municípios oferece risco em relação à necessidade de caminhar para a eletrificação.

“Esse é o ponto super sensível e importante e é preciso ter um planejamento de médio e longo prazo. Acho que a eletrificação veio para ficar, é super importante, mas tem outros cuidados que devem ser tomados para que se consiga migrar gradativamente do diesel para o elétrico e não somente virar a chave do dia para outro.”

Barbosa citou o exemplo a cidade de São Paulo, que tem a Lei Municipal para reduzir em 50% a emissão de CO2 até 2027 e em 100% até 2037. “Mas a infraestrutura não avançou, proibiu a circulação de ônibus a diesel e ao mesmo tempo não conseguiu introduzir o elétrico por falta de infraestrutura e aí não faz nenhum e nem outro. Quem perde é a população porque o transporte envelhece. Em uma cidade como São Paulo, com 13 mil ônibus, tem que renovar 10% da frota ao ano e não fez.”

Cenário-

Ao avaliar as condições macroeconômicas do país, que interferem diretamente no mercado de ônibus, Barbosa destacou que o PIB com previsão de crescimento de 1,5% neste ano é bastante positivo e a Selic, taxa de juros da economia, em 10,75%, traz ânimo ao mercado e estimula a renovação de frota. “Há dois anos, com a Selic em 14% mais o spread bancário, a taxa de renovação de frota era de mais de 20% ao ano, o que tornava o negócio bastante limitado.”

O executivo da Mercedes-Benz citou também os investimentos do governo federal na mobilidade do país e os projetos para o mercado de ônibus, como o PAC da Mobilidade que vai destinar R$ 48,8 bilhões para a mobilidade urbana, o que inclui a renovação de frota de ônibus, de trens e de metrô, além de investimentos em infraestrutura. Deste total, R$ 35,9 bilhões estão previstos para serem gastos entre 2023 e 2026 e R$ 12,9 bilhões após 2026. “Este é um recurso do BNDES destinado ao órgão responsável pela concessão, que vai fazer as melhorias da infraestrutura ou comprar ônibus”, explicou Barbosa.

O montante específico para ônibus totaliza R$ 6 bilhões – R$ 3 bilhões para serem gastos este ano e R$ 3 bilhões em 2025 – e é destinado para compra de ônibus com zero emissões de poluentes. “É um recurso do BNDES através do PAC da Mobilidade.”

Tem ainda o Fundo Clima, com recurso de R$ 10 bilhões para a compra de equipamentos, o que inclui caminhões, ônibus e outros produtos, com a proposta da descarbonização. Para ter acesso ao benefício, as empresas têm até dezembro de 2027 para fazer a homologação. “Tudo o que comprar de equipamento que vai reduzir a emissão pode ser analisado como parte desse pacote do Fundo Clima. Para o setor se ônibus, é direcionado para a compra de modelos elétricos.”

Outro ponto destacado por Barbosa são os subsídios municipais. “Hoje mais de 250 municípios possuem subsídios para o transporte e o maior é da cidade de São Paulo, que chegou a R$ 3 bilhões e hoje é de R$ 7 bilhões.”

Barbosa sublinha ainda a tarifa zero, que começou a ser aplicada recentemente, e hoje 84 municípios estão concedendo este benefício aos usuários. “Mas, isso vale para cidades menores, que têm poucos ônibus em circulação. Para São Paulo, imagino que a prefeitura não terá recurso para estender o benefício da tarifa zero porque é uma frota muito grande, é um custo elevadíssimo. No fim de semana, é razoável porque apenas 50% da frota está rodando, o que sobra está pode ser usado para aumento da demanda. Mas durante a semana, são 13 mil ônibus rodando e acabaria inviabilizando o sistema de transporte, com as pessoas migrando do metrô para o ônibus.”

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