Setor de ônibus deve ter retração superior a 20%

Mercado de carrocerias de ônibus enfrenta período de dificuldades: programa federal de transporte escolar e fretamento contínuo foram os destaques

Márcia Pinna Raspanti

No acumulado de janeiro a novembro, a indústria de carrocerias de ônibus registrou retração de 26,1% no mercado interno. A produção em 2019 foi de 16.683 unidades, contra 12.333 neste ano. No mercado externo, a queda foi ainda maior, 29,5%. De 3.931 unidades produzidas no ano passado para 2.772 este ano.

Segundo o diretor do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), Ruben Bisi, quando consolidamos os números dos mercados interno e externo a retração chega a 26,7%. “No ano passado, até novembro, tivemos 20.603 unidades, este ano 15.105. Estamos prevendo um mês de dezembro com produção baixa em função da falta de materiais, então estamos estimando um total de 16,5 mil unidades em 2020, uma retração de 25%.”

Bisi lembra que, com o distanciamento social, muitas pessoas deixaram de andar de ônibus, mas sem dúvida o setor mais impactado foi o de turismo. “Praticamente não se vendeu rodoviários esse ano. Foram vendidos micro-ônibus, muito mais pelo Caminho da Escola do programa do ministério da educação. Os pedidos do programa representaram praticamente 3,3 mil unidades.”

Para o Bisi, quando se avalia as perspectivas para o futuro, duas grandes questões aparecem. Primeiro, a debilidade financeira das empresas que tiveram de demitir funcionários, tirar dinheiro do caixa, não tiveram receita e têm prestações para pagar. “O governo deu um certo alívio por um período, mas voltou a cobrar as prestações em outubro”, comenta.

O segundo problema é a restrição de novos créditos. “Os bancos, ao analisar nosso setor, avaliam com uma certa incerteza para honrar novos compromissos, em função da continuidade da pandemia e restrições de prestação do serviço. Então, conseguir financiamentos tornou-se um grande desafio, só empresas muito capitalizadas estão conseguindo ter acesso ao crédito”, completa Bisi.

Para piorar a situação, com a pandemia houve falta de insumos, aumento no preço do aço, alumínio, cobre, ABS, resinas, plásticos em geral, o que leva ao incremento dos preços dos chassis e dos ônibus. “Nós temos uma inflação de materiais e a falta de produtos, que chegou a parar algumas linhas de produção. Estamos em uma tempestade perfeita: nosso cliente com baixa capacidade de investimento, tendo que suportar aumento de preços”, avalia.

Foi aprovada no congresso nacional a continuidade da desoneração da folha de pagamento até o final de 2021. O presidente da República vetou essa medida, mas o Congresso derrubou o veto, gerando incertezas no setor. Caso não seja prorrogada deve acontecer um impacto direto nas tarifas urbanas da ordem de 6%, projeta o Simefre.

“Tínhamos aprovado junto ao Congresso Nacional uma ajuda emergencial de R$ 4 bilhões para os sistemas de transportes em cidades com mais de 200 mil habitantes, mas a presidência da república vetou no dia 10 de dezembro. Esperamos que o governo reveja esta situação pois poderemos ter um apagão nos sistemas de transportes urbanos”, destaca Bisi.

Próximo ano –

A expectativa para 2021 é de que a vacina seja aplicada no primeiro trimestre e, então, o país inicie a retomada da economia. Bisi observa que alguns setores ainda estão comprando, como é o caso do fretamento, para o transporte de funcionários com maior distanciamento. Deve acontecer também o retorno do Caminho da Escola, com a publicação de um edital ainda em dezembro, dando continuidade às compras do programa.

“Isso nos dá uma expectativa de que o mercado interno possa crescer em torno de 10% no ano que vem. Se a vacina for realmente aplicada, o setor de turismo deve ser reativado, pelo menos o interno, o que deverá aumentar a demanda por ônibus.”

Em termos de mercado externo, a expectativa é de que o Chile volte a comprar, que a situação da Argentina melhore, para que o país volte a importar ônibus. “Estamos prevendo um crescimento maior até na exportação, em torno de 15% para 2021, embora nossos mercados tradicionais estejam com os mesmo problemas. Imaginamos que a vacina é o que vai nos salvar, com as pessoas voltando a utilizar o sistema de transporte”, finaliza Bisi.

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