Ônibus com modernos sistemas eletrônicos demandam baterias avançadas   

A Clarios, fabricante de baterias Heliar, prevê que metade do crescimento do mercado de baterias em 2023 seja de modelos com tecnologia EFB

Sonia Moraes  

Para garantir maior eficiência aos modernos recursos que equipam os ônibus, como o sistema de segurança e de assistência ao motorista, além de assegurar a funcionalidade de câmeras, sistemas de pagamentos e rede Wi-Fi, as baterias evoluíram muito. “Com a incorporação de mais tecnologias nos veículos, as baterias deixaram de ter somente a função de dar a partida e passaram a participar mais da funcionalidade dos veículos, alimentando os sistemas eletrônicos. A expectativa é de que a demanda por baterias avançadas cresça rapidamente no mercado de ônibus”, afirma Luiz Fernando da Cruz, engenheiro de produtos da Clarios, em entrevista exclusiva para a Technibus.  

A Clarios tem em seu portfólio as baterias Heliar, marca que completa 92 anos em 27 de abril. Esta marca foi a primeira a produzir uma bateria com tecnologia EFB (Enhanced Flooded Battery – baterias convencionais melhoradas) para veículos pesados no Brasil, em 2016, e a primeira fabricante a equipar seus veículos pesados com esta tecnologia foi a Volvo. 

Com o avanço da eletromobilidade no país, a Clarios está direcionando os seus novos projetos para o desenvolvimento de baterias com tecnologia EFB e AGM (Absorbent Glass Mat – Tapete de Vidro Absorvente), que são projetadas para serem acionadas com frequência maior do que as baterias convencionais, do tipo SLI (Starting Light Ignition), e possuem características que fazem com que possam sofrer descargas mais profundas por mais vezes, têm velocidade maior de recarga e podem trabalhar com um regime de carga parcial.

A previsão da empresa é que até 2027, de todo o crescimento do mercado de baterias, 75% esteja relacionado a esses modelos. “As montadoras já estão substituindo as baterias convencionais por modelos EFB e há conversas para o fornecimento de baterias AGM, que irão equipar ônibus e caminhões no futuro”, revela Cruz. A principal diferença da bateria AGM, segundo o engenheiro, está no separador especial que absorve todo o ácido da bateria, proporcionando alta estabilidade cíclica. “Isso permite que a bateria seja carregada e descarregada repetidamente, sem qualquer perda de desempenho.”

Na sua fábrica de Sorocaba, no interior de São Paulo, a Clarios produz dez milhões de baterias de chumbo-ácido por ano para os mercados de automóveis, comerciais leves, motocicletas, veículos pesados (caminhões, ônibus), máquinas agrícolas, de construção e baterias estacionárias. “Hoje o volume de baterias convencionais ainda é maior, mas já está ocorrendo uma migração. Metade do crescimento que vemos em 2023 está direcionado para baterias avançadas do modelo EFB que auxiliam também nas questões ambiental e de segurança”, revela o engenheiro.  

Da linha de produção da Clarios, saem três modelos de baterias: convencional, para veículos com pouca tecnologia embarcada; EFB, convencional melhorada para veículos com tecnologia intermediária, que têm start-stop simples, alternadores inteligentes e outras funcionalidades elétricas; e AGM, que são mais avançadas e indicadas para veículos com alta tecnologia embarcada e sistemas completos de start-stop e modelos híbridos.  

Atualmente, as baterias Heliar equipam oito de cada dez veículos pesados fabricados no Brasil, incluindo ônibus, caminhões e máquinas agrícolas. Entre os ônibus que saem de fábrica equipados com essas baterias de amperagens que vão de 105 a 225 Ah estão os modelos da Mercedes-Benz, Volvo e Scania.  

Íons de lítio e chumbo-ácido  

Na mobilidade elétrica, as baterias de íons de lítio têm se destacado, mas a Clarios acredita que bateria de chumbo-ácido terá vida longa no mercado e não desparecerá totalmente com o avanço da eletromobilidade. “Antes de chegar à mobilidade 100% elétrica o Brasil percorrerá um longo caminho e começará pelos veículos híbridos, que utilizam dois modelos de baterias de íons de lítio, aplicadas no sistema de tração, e de chumbo ácido utilizadas, para alimentar o motor de partida, manter todo o sistema eletrônico funcionando e alimentar os sensores de segurança”, observa o engenheiro. 

“Quando os veículos passarem a ser 100% elétricos vão demandar mais baterias de íon de lítio para tracionar os veículos e mesmo com o avanço dessas baterias a de chumbo-ácido não desaparecem do mercado, apenas diminui o uso porque terão a função de manter o funcionamento do sistema elétrico”, explica Cruz.  

O engenheiro esclarece que, apesar da grande pressão para que as baterias sejam cada vez mais eficientes e consigam armazenar mais energia em menos tempo, ainda é difícil conseguir chegar a um equilíbrio em relação ao tamanho e capacidade das baterias, pois isso está relacionado à necessidade energética do veículo e nos modelos pesados a amperagem varia de 110, 225 a 230 Ah. “A bateria de íon de lítio é mais leve que a de chumbo-ácido, mas por ser usada para tracionar o veículo, como no ônibus elétrico, é preciso instalar um banco grande de baterias”, esclarece.  

Segundo o engenheiro, hoje os maiores esforços das empresas estão concentrados no desenvolvimento de baterias de íon de lítio, que custa dez vezes mais que a de chumbo-ácido, mas utiliza um sistema de 400 volts – a de chumbo-ácido é de 12 volts –, que gera muito mais potência, sendo indicada para ônibus elétricos.  

No Brasil, ainda não há fabricantes de baterias de íon de lítio e esse produto tem chegado ao país pelos veículos importados. “A demanda por essa bateria ainda é muito pequena no mercado brasileiro por causa do custo – no Toyota Prius, por exemplo, um banco de baterias de íon de lítio custa de R$ 30 mil a R$ 40 mil, o que representa 60% do valor do veículo”, informa Cruz.

A Clarios está preparada para as mudanças do mercado, segundo o engenheiro. Em seus centros de desenvolvimento instalados nos Estados Unidos, na China e na Europa, a empresa tem uma equipe dedicada ao desenvolvimento de baterias de íons de lítio e participa dos projetos das montadoras de forma global.

“Hoje as baterias fabricadas no Brasil têm boa parte de componentes importados, como os aditivos utilizados na parte química da bateria e os separadores. As empresas que fornecem esses produtos são grandes players mundiais e não têm interesse de criar uma fábrica específica para o Brasil porque o tamanho do mercado é pequeno quando comparado ao americano e os outros. Então, as fabricantes acabam fazendo investimentos em outras regiões e fornecendo esse produto para o Brasil. Por isso, estamos longe de ter uma bateria 100% nacional”, explica o engenheiro.

A fábrica da Clarios de Sorocaba conta com 17 robôs em sua linha de produção e trabalha 24 horas em quatro turnos numa jornada de 6×2. Além do mercado brasileiro, fornece suas baterias para a Argentina, Uruguai, Paraguai e outros países da América Latina.

Baterias convencionais e com tecnologias EFB e AGM devem continuar a ser procuradas no mercado 

Mesmo com o avanço das baterias e íon de lítio, as baterias com tecnologias EFB e AGM continuarão tendo demanda no mercado, segundo o engenheiro da Clarios. “As baterias SLI, AGM e EFB estão longe de serem obsoletas. Sua construção e comportamento, bem como a falta de componentes eletrônicos, os tornam uma fonte de energia confiável e robusta”, explica.

Cruz acrescenta que o portfólio de baterias de 12 volts da Clarios/Heliar está pronto para atender os veículos elétricos atuais e futuros. “Essas baterias têm capacidade de reserva suficiente para fornecer também aos consumidores futuros de forma confiável. As baterias Clarios fornecem energia para sistemas de segurança cruciais, funcionalidades de conforto e funções de economia de combustível. Hoje e amanhã.” 

Na avaliação do engenheiro as baterias de íons de lítio não são consideradas as sucessoras da tecnologia de chumbo-ácido quando se trata do sistema de transmissão de veículos elétricos ou híbridos elétricos. “Essas baterias não são tão robustas quanto outras tecnologias recarregáveis e requerem monitoramento contínuo. Isso porque, as células de íons de lítio precisam de proteção contra sobrecarga e descarga profunda. Além disso, precisam ter a tensão mantida dentro de limites seguros, tornando obrigatório um 

um circuito especial de proteção. Outro aspecto do circuito de proteção é que a temperatura da célula precisa ser monitorada para detectar e evitar mau funcionamento crítico.” 

Cruz recorda que os primeiros carros elétricos, que surgiram no início do século XX, utilizavam baterias de chumbo para a sua propulsão. “As principais desvantagens das baterias de chumbo são que elas nunca devem ser descarregadas abaixo de 50% e é necessário o monitoramento regular do eletrólito. Outro aspecto é que são relativamente pesadas e representam 25-50% do peso total do carro elétrico”, esclarece o engenheiro. 

Luiz Fernando da Cruz, engenheiro de produtos da Clarios

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