O Pacto Global da ONU – Rede Brasil e a Scania se uniram para criar o Hub de Biocombustíveis e Elétricos. A proposta é fomentar um centro de discussões voltado à descarbonização do transporte rodoviário reunindo especialistas, pesquisadores, empresários, tomadores de decisão e governo para promover um ambiente que favoreça a geração de projetos e iniciativas que acelerem a transição do setor para uma economia de baixo carbono.
A apresentação da iniciativa ocorreu durante o Sustainable Development Goals (SDGs – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) in Brazil, realizado nessa semana na sede da ONU, em Nova Iorque. Coordenado pela Plataforma de Ação pelo Clima e pela Plataforma de Ação pelo Agro Sustentável, ambas do Pacto do Global, o Hub é a continuidade do projeto Transportes Net Zero (2022), com a Scania sendo a empresa líder.
“O Hub de Biocombustível e Elétricos se propõe a oferecer às empresas participantes uma jornada de capacitação, por meio de clínicas, buscando o entendimento sobre biocombustíveis e eletrificação para a descarbonização do setor de transportes do modal rodoviário, podendo se estender à cadeia de valor. A jornada a ser construída pelo Hub proporcionará também networking entre seus membros por meio de encontros regulares de implementação dos projetos, compartilhamento de boas práticas e acompanhamento das entregas previstas, assim como os eventos para divulgação dos resultados obtidos”, define Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.
“Sabemos que o transporte é uma parte essencial da nossa sociedade e economia, mas também é uma fonte de emissões de carbono. Aqui está a Scania, impulsionando a mudança para um sistema de transporte sustentável, decisão que foi tomada há uma década e é mais válida hoje do que nunca”, comenta Christopher Podgorski, presidente e CEO da Scania na América Latina.
Grupo reúne dezenas de empresas –
O grupo é formado atualmente por cerca de 70 empresas que operam em diversas áreas – como infraestrutura, logística, montadoras, segmento de energia, tecnologia, financiadoras, entre outras. A composição do grupo favorece um ambiente com potencial para impulsionar as ações coletivas visando à descarbonização do setor de transporte rodoviário. Em 2024 foram realizadas reuniões com as empresas do Hub, onde está sendo implementada uma metodologia de ações coletivas desenvolvidas pelo Banco Mundial.
Atualmente, está em andamento o mapeamento de desafios e oportunidades para a descarbonização do setor de transportes. “Esse trabalho resultará no apontamento de dezenas de desafios, como mapeamento de políticas públicas que ajudem as empresas no processo de descarbonização. É preciso ainda desmistificar os mitos, supostas dificuldades em torno da adoção de fontes energéticas de baixo carbono, por exemplo. O Brasil tem a capacidade de produzir biocombustíveis e alimentos de maneira sustentável sem que haja concorrência entre as duas atividades ou destruição do meio ambiente. Isso prova que é possível aliar produtividade e sustentabilidade”, explica Carlo.
“O que precisamos para ter sucesso nesta corrida contra o tempo é definir as condições favoráveis, como infraestrutura, capacidade da rede, regulamentações e o ambiente empresarial de uma forma que as decisões verdes não sejam apenas as certas, mas também as lucrativas. É hora de intensificar as soluções. E aqui o Brasil tem a oportunidade de dar uma grande contribuição ao tornar os biocombustíveis escaláveis e abraçar a eletricidade por ter uma das redes mais limpas do mundo”, enfatiza Christopher.
Oportunidades –
Diferentemente da Europa e de outros países como China e Estados Unidos, onde o transporte de cargas pelo modal rodoviário representa entre 38% e 47% das cargas transportadas, no Brasil este percentual está acima dos 60% (segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes – CNT). Em 2018, a Scania conduziu o Pathways Study em quatro países – Alemanha, China, Estados Unidos e Suécia, com objetivo de entender como o transporte comercial livre de combustíveis fósseis poderá se tornar uma realidade até 2050. Dessa forma, em 2021, houve a ideia de aplicar a metodologia do estudo no Brasil, devido às características únicas do país.
Nesse sentido, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil em parceria com a Scania e a Bain, além de empresas como Ipiranga, BRF e Unidas, uniram-se para a criação de um Grupo de Trabalho de Transporte, a primeira fase desse projeto – realizada no período de janeiro de 2021 a fevereiro de 2022. O GT foi composto por 18 instituições e teve por finalidade compreender a necessidade de transformação do setor de transporte rodoviário comercial, considerando veículos, combustíveis e infraestrutura, e identificar áreas que demandarão investimento, inovação, mudanças em políticas públicas e redução de riscos para viabilizar a movimentação de cargas, mercadorias e passageiros com neutralidade de carbono até o ano de 2050.
Os resultados do projeto foram sistematizados e publicados sob o título “Transporte Comercial Net Zero 2050: Caminhos para a descarbonização do modal rodoviário no Brasil”, em português e inglês. As rotas tecnológicas avaliadas incluem Diesel renovável (HVO), Biometano, Veículo elétrico à bateria (BEV) e Veículos elétricos movidos por célula de combustível (FCEV) e levam em consideração 4 cenários: Inercial, Boom de Inovação, Mudanças em Políticas Públicas e Grande Salto. Todos eles consideram um mix das principais tecnologias de combustíveis e destacam o papel dos dois principais motores para o avanço na produção e utilização dessas fontes de energia: a regulamentação com políticas públicas que incentivem as iniciativas verdes e o desenvolvimento tecnológico que traga soluções mais eficientes.
Mobilização –
Os resultados mostraram que o único cenário que leva ao Net Zero em 2050 é o Grande Salto, em que setor público e privado trabalham juntos para promover combustíveis alternativos, acelerando o desenvolvimento tecnológico e os investimentos em energia de baixo carbono, juntamente com a necessidade de utilizar as diferentes tecnologias energéticas.
Além disso, o estudo destaca que existem outros fatores importantes para que o Brasil alcance o Net Zero neste setor. São eles: infraestrutura para atender as necessidades das novas soluções e o comportamento do consumidor para impulsionar este movimento.