O papel central do transporte público no cenário atual

O encontro internacional Latin America Week 2022 – Hybrid Experience, promovido pela UITP América Latina, reúne autoridades, especialistas e profissionais do setor para discutir os rumos do transporte coletivo e da mobilidade

Márcia Pinna Raspanti

A importância do transporte público em um cenário de crise causado pela pandemia e por conflitos internacionais foi destacado por Mohamed Mezghani, secretário geral da UITP, na abertura do evento internacional Latin America Week 2022 – Hybrid Experience.

“O transporte público é a única forma de evitar o colapso nas cidades. Precisamos pensar em formas de superar os grandes desafios no que se refere à mobilidade. Nesta edição do encontro, temos mais clareza que no ano passado”, comentou.

Mezghani abordou alguns pontos fulcrais relativos ao transporte público que podem, não apenas ajudar a superar as dificuldades, mas permitir que se aproveite as oportunidades que a crise trouxe para revitalizar o setor: novos modelos de financiamento, descarbonização, inclusão social, valorização do espaço público e das áreas urbanas, e digitalização.

Ester Litovsky, presidente da UITP, Divisão da América Latina, lembrou que as empresas do setor vivem uma série de dificuldades causadas pela queda da demanda, que foi acelerada com a pandemia. “A questão é como administrar os custos nesse contexto. Temos a oportunidade e a responsabilidade de melhorar os sistemas de transporte, mostrando como o transporte público, que é a espinha dorsal da mobilidade urbana, pode contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população”, disse.

A UITP fez uma parceria com o Moovit para realizar uma pesquisa em 11 cidades latino-americanas, com 17,4 mil usuários do transporte público. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília foram as cidades brasileiras pesquisadas. Alguns dados chamam atenção: atualmente 79% dos entrevistados usa transporte público, enquanto antes da pandemia esse percentual era de 91% – houve portanto uma queda de 12%; e cerca de 40% dos que usam o sistema atualmente não se sentem seguros no transporte coletivo por causa da Covid-19.

Néstor Roa, chefe da divisão de transportes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), falou sobre a transformação digital no transporte da América Latina e do Caribe, enfatizando a relevãncia das alianças entre o poder público e a inciativa privada para a digitalização.

A primeira mesa redonda do dia continuou a discussão sobre a digitalização no transporte público, em um contexto de baixa demanda. Com moderação de Leandro Alliseda, diretor sênior de setor público Latam da Swvl, participaram: Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus de Fortaleza, e Vicente Torres, diretor da Urbvan do México. Além de Edmundo Pinheiro, presidente do Grupo HP Transportes Brasil, que falou sobre o lançamento do Citybus 3.0, em Goiânia, um serviço de transporte por demanda, integrado e complementar ao transporte convencional que será lançado em agosto.

Caio César Figueroa e Leonardo Cordeiro, da Lima e Advogados, apresentaram os resultados do trabalho do grupo de estudos Geaprodam na América Latina, no biênio 2021-2022, e lançaram oficialmente o “Manual de boas práticas de proteção de dados no setor de transporte público”.

“A voz dos políticos nacionais: estratégias, políticas e financiamento sustentáveis e de mudança” contou com Juan Carlos Munõz, ministro de transporte e comunicações do Chile, e Ángela Orozco, ministra do transporte da Colômbia. “Criamos uma legislação especial para levar recursos para o transporte público durante a pandemia, com novas formas de financiamento”, contou a ministra colombiana.

Houve ainda uma sessão sobre a “Recuperação da demanda e investimento em sistemas ferroviários”, com moderação de Jurandir Fernandes, presidente honorário da UITP, e participação de Ester Litovsky, presidente da UITP e representante da Emova, de Buenos Aires (Argentina); Milton Gioia, do Metrô de São Paulo; Guilherme Ramalho, do Metrô Rio; e Carlos Aguello, do Metrô de Medellin (Colômbia).

“A pandemia trouxe impactos permanentes na demanda de passageiros, mas não sabemos qual extensão deles. Estamos com 75% de demanda pré-pandemia atualmente”, contou Ramalho. “Devemos alcançar uma demanda 90% a 95% do que havia antes da pandemia apenas em 2024, mas sabemos que 5% a 10% dos passageiros ou das viagens não voltarão”, comentou Milton Gioia.

O tema “Estratégias para melhorar os sistemas de ônibus e BRT através de investimentos tecnológicos”, foi o tema debatido por Álvaro Santiago, da CUTCSA Uruguay; Luciano Fusaro, gerente regional de relações técnicas da Nueva Metropol, da Argentina; Luis Campana, da MiBus Panamá, e Nicolas Rosales, da AMTM México.

“É cada vez mais necessário o investimento em mobilidade urbana, com foco principalmente nas cidades inteligentes, uma vez que o tema já vem sendo debatido há mais de uma década. Neste contexto, precisamos saber exatamente o que fizemos ao longo deste tempo para entregar resultados concretos para os sistemas, especialmente BRT e corredores de ônibus, para que, como uma empresa que é líder mundial nesse segmento, possamos mostrar o papel importante que as tendências de digitalização e inovação têm neste processo”, observou Romano Garcia, da Goal Systems, moderador da sessão.

A “Gestão organizativa e experiência do cliente” foi outro tema abordado no encontro. A moderação foi de Valeska Perez Pinto, da UITP; com a participação de Jonathan Mazon, da Junqueira e Advogados; Roberta Cipoloni Tiso, da Green 4T; e Rodrigo Magalhães, da Shark Comunicação Digital.

Segundo dia-

Dando sequência à etapa presencial do evento, será apresentado o case de Vitória, capital do Espírito Santo, com objetivo de mostrar por que essa é uma história de sucesso. A experiência de Vitória será apresentada por Fábio Damasceno, secretário de mobilidade e infraestrutura do Espírito Santo.

Outro case a ser apresentado é “Santiago do Chile e a mobilidade”, com Paola Tapia, secretária DTPM de Santiago. A sessão “Voz dos políticos locais” debate o papel das cidades no cumprimento da Agenda 2030, apostando na mobilidade sustentável, moderada por Dionísio González, diretor de Advocacy da UITP e prefeitos de três metrópoles latino-americanas: Carolina Cosse, de Montevidéu (Uruguai), Ricardo Nunes, de São Paulo e Óscar Rodríguez, de Assunção (Paraguai).

Já “A voz dos peritos” será uma mesa redonda de secretários da mobilidade na América Latina, com três painéis sucessivos, com os temas: “Financiamento: Como fazer melhor com os recursos que temos?”, “Eficiência energética e mobilidade: e-bus”, e “Gestão do sistema de pagamento”. A sessão de encerramento será conduzida por Ester Litovsky.

Nos dias 8 e 9 de junho, as sessões gravadas serão transmitidas pela Internet. A partir de sexta-feira, 10 de junho, o conteúdo apresentado na reunião mais um conjunto de 40 conferências adicionais, estarão disponíveis aos interessados.

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