Num auditório relativamente pequeno, mas confortável, em ambiente aberto e integrado ao salão de exposições, o congresso da NT Expo – Negócios nos Trilhos 2025 trouxe informações e reflexões sobre um conjunto significativo de temas que ajudam a compreender o momento, as expectativas e as perspectivas desenhadas para o setor de transporte ferroviário de passageiros e cargas no Brasil.
Realizada pela Informa Markets, no Distrito Anhembi — um tradicional centro de exposições no coração da cidade de São Paulo —, a NT Expo – Negócios nos Trilhos 2025 aconteceu de 22 a 24 de abril e contou com a presença de 150 marcas nacionais e internacionais, atraindo cerca de cinco mil participantes. Trata-se de um público formado por profissionais especializados do Brasil e do exterior, dirigentes empresariais e de entidades, autoridades governamentais e gestores públicos do setor, representantes de operadoras e fabricantes, membros da academia e estudantes.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Vander Costa, participou da sessão de abertura do congresso da NT Expo 2025 e defendeu a visão da intermodalidade no transporte, com presença central da ferrovia. Antônio Merheb, da MRV e vice-presidente da International Heavy Haul Association (IHHA), também sublinhou a importância de os modais de transporte atuarem de forma integrada, e não em competição entre si. Joubert Flores, presidente do Conselho Administrativo da ANPTrilhos, destacou que os sistemas de transporte público sobre trilhos estruturam a mobilidade nas cidades.
Em uma sessão sobre mobilidade urbana, a diretora-executiva da ANPTrilhos, Ana Patrizia Lira, e o consultor internacional Sérgio Avelleda concordaram na defesa de uma autoridade metropolitana como forma de consolidar uma governança mais eficiente e coordenada do transporte urbano.
Além de abrir espaço para a apresentação técnica de produtos e processos oferecidos por empresas, o congresso da NT Expo – Negócios nos Trilhos 2025 abordou temas atuais de enfoque tecnológico estratégico, como a capacidade da Inteligência Artificial (IA) para promover a transformação ferroviária, e aplicações que podem aprimorar o desempenho e a segurança no setor, como o uso de fibra óptica e IA no monitoramento de ativos ferroviários, a manutenção preditiva como ferramenta para otimização de custos e prevenção de acidentes, e a implementação da tecnologia 5G no transporte ferroviário.
Investimentos Públicos e Privados
A indústria do transporte ferroviário de bens e pessoas vive a perspectiva de considerável crescimento nos próximos anos. As 18 sessões do congresso da NT Expo – Negócios nos Trilhos 2025 focalizaram diferentes aspectos desse processo.
O governo federal tem adiado a apresentação do Programa Nacional de Ferrovias, prometido originalmente para fevereiro de 2025. Respondendo a uma questão da plateia na primeira sessão do congresso, o secretário nacional de ferrovias do ministério dos transportes, Leonardo Cezar Ribeiro, evitou indicar uma nova data, garantindo que, mesmo sem um lançamento formal, diversos pontos do futuro programa já estão em funcionamento, na prática — incluindo uma carteira (“pipeline”) de contratos, além de leis e medidas governamentais já implementadas.
Ribeiro sublinhou a importância dos investimentos públicos em ferrovias, destacando que diversas infraestruturas desse tipo, implantadas ou em obras, só puderam ser construídas com recursos públicos, parcerias público-privadas ou incentivos fiscais.
As concessionárias ferroviárias ressaltam que os investimentos privados realizados desde o início das concessões, em 1996, somam R$ 173 bilhões em valores atualizados. Esse montante foi aplicado na modernização da malha, no aumento da eficiência energética em 25% e na redução de 86% no número de acidentes. O presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Davi Barreto, enfatizou que as ferrovias têm o potencial de reduzir significativamente o custo logístico. Ele informou que, em 2024, o setor ferroviário teve recorde de investimento: R$14 bilhões. E afirmou que, nos próximos três anos, serão investidos R$ 54 bilhões, dos quais R$ 19 bilhões ainda em 2025.
Segundo o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Material Ferroviário do Estado de São Paulo (Simefre), Renato Meirelles, a indústria ferroviária brasileira é preparada, oferecendo qualidade de produto, tecnologia, geração de emprego e renda. Ele defendeu isonomia de tratamento em relação a fornecedores estrangeiros, a fim de permitir uma competição saudável e garantir segurança jurídica, favorecendo a atração de capital externo.
“Não podemos continuar assistindo à entrada de produtos estrangeiros isentos de impostos enquanto a indústria nacional segue sobrecarregada e tributada. Essa conta não fecha, e o setor produtivo não pode mais ser sacrificado em nome de uma falsa competição. O que queremos é previsibilidade e políticas de longo prazo.”
Expansão Ferroviária
Sem deixar de mencionar o recém-lançado movimento Mais Trilhos, Brasil!, que visa posicionar as necessidades e soluções da indústria ferroviária, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, apresentou ao congresso da NT Expo – Negócios nos Trilhos 2025 números sobre a perspectiva de expansão ferroviária no país. Um levantamento não exaustivo da própria Abifer relaciona 25 projetos que totalizam 13.745 quilômetros de novos trilhos destinados a ferrovias de carga.
Ele também mencionou um levantamento publicado pela revista Global, da OTM Editora, mostrando que obras em execução e em projeto somam mais 1.171,98 quilômetros de novas linhas ferroviárias de passageiros, mais do que duplicando a extensão atual, que é de 1.137,5 quilômetros, segundo o Balanço Metroferroviário 2024, divulgado em março de 2025 pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
Em uma sessão que discutiu a devolução de trechos ferroviários pelas concessionárias, o superintendente de Transporte Ferroviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Alessandro Baumgartner, acrescentou ainda 21 projetos de autorização, “os mais variados”, definidos com base na Lei nº 14.273/2021 (Lei das Ferrovias), que já receberam consideráveis investimentos e, segundo sua interpretação, deverão efetivamente sair do papel.
Impactos Positivos
A economista Natalia Marcassa, vice-presidente da Rumo, destacou o impacto positivo trazido pelos investimentos na expansão ferroviária. Usando como exemplo a ferrovia que a Rumo está construindo em Mato Grosso sob autorização estadual, informou que a fase de implantação do projeto está gerando, no momento, cinco mil empregos diretos e mais 30 mil empregos indiretos ou induzidos pelas necessidades e oportunidades que esse tipo de empreendimento proporciona.
A executiva também mencionou a importância da mão de obra qualificada para o setor ferroviário e a complexidade da sua formação, explicando que a formação de um maquinista, por exemplo, leva nove meses, e a de um técnico, cerca de um ano.
Em uma sessão sobre a transição para a redução do impacto ambiental dos transportes, ficou evidenciado que um dos caminhos passa pelo equilíbrio na matriz de transporte, com ampliação do transporte de cargas por ferrovias e redução da participação dos caminhões. Também se discutiu a perspectiva relativamente próxima de a ferrovia utilizar alternativas energéticas, como o hidrogênio verde, e o esforço que a indústria ferroviária vem fazendo em engenharia e novos materiais, com a finalidade de ampliar a capacidade de carga sem aumentar o consumo energético.
Ferrovias e Portos
Uma das sessões do congresso focalizou as ligações ferroviárias entre os portos brasileiros, situados junto ao Atlântico, e os portos andinos, localizados no Pacífico. Na visão do secretário-geral para o Brasil da Associação Latino-Americana de Ferrovias (Alaf), Jean Carlos Pejo, tais ligações transoceânicas teriam principalmente a capacidade de dinamizar as relações comerciais entre os países sul-americanos.
João Gomes, da empresa Vellent, e Hélio Roberto S. de Souza, do ministério dos transportes, discutiram como a integração entre ferrovias e portos poderá tornar o país mais competitivo, com base em maior eficiência e menores custos.

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