Ruben Bisi, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus): “Para 2023, estamos prevendo uma redução de 7% no mercado de ônibus porque as montadoras ainda não têm todos os chassis Euro 6 desenvolvidos”

Segundo Bisi, as montadoras estão trabalhando em ritmo intenso em fevereiro e março para recuperar a produção, e em maio a situação deve começar a se normalizar

Technibus – Como o senhor avalia o mercado de ônibus em 2022?

Ruben Bisi – Em 2022, as encarroçadoras fecharam o ano com 15.545 ônibus vendidos no mercado interno, um resultado 57,2% maior que em 2021. No mercado externo, foram comercializados 3.606 veículos, 45,7% a mais que em 2021. Somando os dois mercados foram 19.151 veículos produzidos, volume 54,9% maior que 2021. Os números são bons, mas sobre uma base muito baixa, pois tivemos um mercado menor nos últimos dois anos.

Technibus – Qual a expectativa para 2023?

Ruben Bisi – Para 2023, estamos prevendo uma redução de 7% do mercado porque as montadoras ainda não têm todos os chassis Euro 6 desenvolvidos e, como as encarroçadoras não receberam a quantidade dos novos modelos que estava programada para janeiro, serão produzidos até o fim de março os ônibus com chassi Euro 5 fabricados no final de dezembro de 2022. E a partir de 1º de abril, todos os veículos terão que ter somente chassis Euro 6. É o estoque de passagem como se fala no setor.

Technibus – O baixo fornecimento de chassis em janeiro poderá comprometer a produção de ônibus neste ano?

Ruben Bisi – A produção de ônibus poderá ser afetada neste ano porque, com as dificuldades nas cadeias globais e o desabastecimento que ocorreu, os problemas com a falta de semicondutores ainda não estão totalmente resolvidos.

Technibus – Por que está atrasada a entrega dos chassis Euro 6?

Ruben Bisi – Porque os chassis Euro 6 têm muito mais semicondutores que os modelos Euro 5 e, com a falta deste componente, os projetos foram se acumulando. Além disso, há muita complexidade, pois são mais de 300 variedades de modelos de ônibus para serem desenvolvidos entre os micro, rodoviários, fretamento, escolar, articulado, biarticulado, com motor traseiro, motor dianteiro, piso baixo, piso alto.

Technibus – Qual modelo está com maior atraso na entrega de chassis Euro 6?

Ruben Bisi – Os modelos de chassis que estão com maiores dificuldades de produção são os leves, de motor dianteiro para veículos de 13 metros, que têm operação urbana e rodoviária, e os double decker de seis eixos. Os pesados, articulados e biarticulados de 17 toneladas, estão com as entregas mais regularizada.

Technibus – Quando a produção estará normalizada?

Ruben Bisi – As montadoras estão trabalhando em ritmo intenso em fevereiro e março para recuperar a produção. No primeiro trimestre, está garantida a entrega dos chassis Euro 5 e de alguns modelos Euro 6, e em maio a situação deve começar a se normalizar.

Technibus – Como se comportarão as exportações de ônibus em 2023?

Ruben Bisi – Para as exportações, a previsão é de que em 2023 seja mantido o mesmo volume de 2022, de 3.600 veículos.

Technibus – Como está a homologação dos chassis Euro 6?

Ruben Bisi – Houve mudança na forma de homologação dos veículos. Em outras fases do Proconve, os motores aprovados no Ibama e na Cetesb eram homologados para serem usados em diversos modelos de ônibus. Agora a homologação é feita no veículo completo. Temos que assegurar para o governo que o motor, o chassi e a carroceria estão dentro da lei de ruído e de temperatura. O teste tem que ser feito com o veículo completo. Por isso, vai demorar um pouco a liberação dos ônibus para o mercado.

Technibus – O que mais poderá impactar o mercado de ônibus neste ano?

Ruben Bisi – Teremos uma fraca reação do mercado de ônibus neste início do ano por causa do aumento no preço dos ônibus Euro 6, em torno de 20% a 30%, por causa da introdução de novas tecnologias para reduzir as emissões de poluentes, além da falta de crédito para o financiamento dos veículos. Muitos empresários estão adiando a compra dos novos ônibus e avaliando se o baixo nível de consumo compensa o custo maior.

Technibus – Quais outros desafios que o setor de ônibus enfrentará em 2023?

Ruben Bisi – Depois dos R$ 2,5 bilhões liberados pelo governo federal ao transporte público para custear a gratuidade das pessoas acima de 65 anos nos estados e municípios, está em discussão mais R$ 5 bilhões para cobrir os custos de transporte. A frente nacional dos prefeitos está se mobilizando para a liberação deste recurso.O setor também aguarda a abertura de nova licitação para o programa Caminho da Escola, que representa de 20% a 30% da produção nacional de ônibus. Outra expectativa é a aprovação do Marco Legal do Transporte Público Coletivo Urbano, que dará segurança jurídica para os municípios poderem ter políticas para o transporte público. Tem ainda o programa de descarbonização do setor de transporte, com a inclusão de ônibus elétricos, a gás, movidos a biometano e HVO (diesel verde) no sistema. Várias cidades estão se preparando para essa transição, como São Paulo, São José dos Campos e Curitiba, e se mobilizando para a descarbonização, mas isso custa muito dinheiro e não dá para tirar o recurso da tarifa para colocar esses ônibus em circulação, pois a tarifa já compromete 20% do salário do trabalhador e esse percentual precisa ser reduzido.

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