Leandro Aliseda, head de Setor Público na Swvl América Latina: “No mundo todo, o transporte público caminha para a acessibilidade, o que é uma forma eficaz de redistribuição de renda. Assim como em saúde e educação, não somente os usuários, mas toda a sociedade se beneficia de um sistema inclusivo”

“Eu diria que a tecnologia de compartilhamento de viagens sob demanda é uma das principais tendências, pois cidades, governos e empresas percebem que precisamos encontrar uma maneira de fornecer transporte em massa eficiente e de baixo custo”, avalia o executivo.

TechnibusO senhor poderia apresentar a Swvl?

Leandro Aliseda – A Swvl (se diz Suível) é uma “transit tech” global, cofundada em 2017 por Mostafa Kandil (CEO), com sede em Dubai e presença em 118 cidades em 18 países em mercados maduros como Europa, Dubai e Japão, bem como em mercados emergentes como África, sul da Ásia e Oriente Médio, e mais recentemente na América Latina. Provemos soluções tecnológicas transformadoras de mobilidade em grande escala, em todos os segmentos do transporte por demanda.

E agora como uma empresa pública, com listagem confirmada na Nasdaq para o fim deste mês, temos asseguradas as condições necessárias para nos consolidarmos como um dos maiores players globais, tanto em presença geográfica, como número de passageiros transportados, amplitude da oferta e capitalização; servindo comunidades com soluções de mobilidade eficientes, acessíveis e ecologicamente corretas.

Technibus – Quais os principais projetos da empresa?

Leandro Aliseda – Todos os dias, os sistemas de transporte da Swvl estão capacitando pessoas a se locomoverem para onde quiserem, quando quiserem. Provemos soluções de mobilidade por demanda licenciando nossa tecnologia para operadores de transporte urbano compartilhado (B2G), transporte corporativo e escolar (B2B) e operando diretamente (B2C) o transporte urbano compartilhado e rodoviário, sempre de acordo com a regulação de cada mercado em que atuamos.

Por exemplo, no transporte público (B2G), implementamos plataformas tecnológicas que permitem a evolução de sistemas de rotas e horários fixos para uma rede sob demanda, dinâmica e com diferentes modais interligados. A solução de ônibus por demanda coordena em tempo real vários passageiros com origem e destinos semelhantes, criando um serviço acessível, conveniente e premium, permitindo mover um grande volume de pessoas usando uma fração do número de veículos utilizados por outros serviços.

TechnibusNo Brasil, quais as principais ações? Quais os planos da empresa para os próximos dois anos?

Leandro Aliseda – Bem, antes de mais, estou muito feliz pela oportunidade que a Swvl me concede de continuar uma jornada iniciada há mais de três anos: contribuir para a evolução da mobilidade na nossa região, com soluções que busquem o melhor da tecnologia do transporte por demanda, sempre em parceria com cidades e operadores concessionários.

Esperamos alavancar nossa experiência e expertise de outros mercados à medida que escalamos rapidamente nossa plataforma na América Latina. A Swvl faz adaptações aos mercados em que atua, e em nossa região não será diferente. O interessante é que encontramos aqui um pouco dessa mistura destes “dois mundos”, de mercados maduros e mercados emergentes, em que a Swvl opera.

O transporte público enfrenta uma crise sem precedentes: o número de passageiros caiu, os orçamentos diminuíram e as melhorias foram suspensas. O desafio é ao mesmo tempo uma oportunidade de rever eficiência de rota, cobertura e equidade, onde soluções de micro trânsito integradas definitivamente entraram na agenda.

Por isso, acredito que seja esse o momento. Por um lado, a ampla utilização de smartphones, a distante possibilidade e interesse na posse de um carro (principalmente entre as novas gerações), as dinâmicas de horário de trabalho flexível. Por outro, altos custos de transporte, baixa qualidade e falta de serviço em áreas periféricas forçam os municípios a buscarem suas soluções. Estamos prontos para o desafio e brevemente anunciaremos os primeiros projetos na região – estamos só começando.      

TechnibusQuais as principais tendências do mercado brasileiro de mobilidade?

Leandro Aliseda – Em todo o mundo, o transporte público caminha para tarifas mais acessíveis. Este é um dos meios mais eficientes de redistribuição de riqueza, assim como quando se investe em saúde e educação, que beneficia não só os usuários diretamente, mas toda a sociedade.

Neste contexto, as cidades estão se adaptando para explorar como o transporte sob demanda pode alcançar benefícios ambientais e de redução de congestionamentos do transporte de massa, substituindo linhas fixas por linhas dinâmicas, de forma a utilizar mais eficientemente suas frotas. Com a redução de passageiros, os concessionários se viram obrigados a manter uma frota mínima que não se justificava economicamente, principalmente em itinerários que já tinham uma baixa demanda.

Eu diria que a tecnologia de compartilhamento de viagens sob demanda é uma das principais tendências, pois cidades, governos e empresas percebem que precisamos encontrar uma maneira de fornecer transporte em massa eficiente e de baixo custo. E também há o potencial para converter usuários de automóveis, especialmente se as soluções forem responsivas, eficientes, integradas e adaptadas às distintas necessidades, podendo expandir-se no ritmo que o operador desejar.

TechnibusComo a inovação pode tornar a mobilidade mais eficiente?

Leandro Aliseda – Atuando em empresas presentes em sistemas de transporte público no mundo, tenho acompanhado como a tecnologia pode contribuir para aumentar significativamente a mobilidade, o acesso a oportunidades e reduzir impactos ambientais. Contudo, apenas uma fração dos investimentos é direcionada à transformação tecnológica – carecemos de políticas e mecanismos de financiamento que incentivem cidades a inovar. Portanto, essa sem dúvida seria uma área em que focaria.

Para além disso, para enfrentar grandes desafios como congestionamentos e poluição, precisamos viabilizar transporte em massa eficiente e de baixo custo. E assim o transporte sob demanda constitui-se como elemento-chave na rede de transporte público, devendo ser integrado ao sistema geral de mobilidade em áreas como operações, experiência do usuário e pagamento de tarifas. A plataforma deverá ser estável e ter flexibilidade para integrar-se com diferentes serviços. Deve ser intuitiva, bem como prover ferramentas administrativas e equipes de suporte para permitir que o operador gerencie o serviço e garanta a melhor experiência para a população, possibilitando que se forneça transporte acessível e eficiente a todos.

Veja também

Por