Pregão dos ônibus escolares terá efeito menor nas vendas deste ano

Na avaliação de Walter Barbosa, da Mercedes-Benz, os impactos da nova etapa do programa de aquisição de ônibus escolares serão sentidos apenas nos resultados do primeiro semestre de 2022

Sonia Moraes

O novo pregão de ônibus escolares definido pelo FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação), autarquia ligada ao Ministério da Educação, que envolve a compra de sete mil veículos para o transporte de estudantes, fará pouca diferença nos resultados do setor de ônibus em 2021, segundo Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.

“Para 2021, a gente falava inicialmente em 15,8 mil ônibus emplacados no mercado brasileiro, mas com a demora na vacinação na população, alteramos para algo em torno de 13 mil a 13,7 mil unidades”, disse Barbosa à revista Technibus. Este volume é muito próximo do ano passado, quando o setor encerrou o ano com 13.931 veículos comercializados no país.

“A nova licitação de escolares já estava prevista para este ano, mas com volume pequeno de vendas, pois se tudo ocorrer bem os ônibus começam a ser emplacados no fim de 2021”, enfatizou Barbosa.

De acordo com o executivo, este é um movimento diferente da licitação do programa Caminho da Escola de 2019, que foi o grande propulsor do mercado de ônibus no primeiro semestre deste ano, ajudando a atenuar o impacto da pandemia da Covid-19, que fez o segmento de urbanos perder 50% de passageiros.

“Agora, a produção e a entrega de ônibus escolares referentes à licitação anterior já se encerraram, e estão ocorrendo alguns emplacamentos. Então, daqui para frente, as vendas de veículos escolares se reduzirão gradativamente, e serão retomadas em novembro e dezembro, impactando muito o primeiro semestre de 2022”, observou Barbosa.

De janeiro a maio, foram emplacados 6.069 ônibus no país, o que corresponde a um crescimento de 33% sobre o mesmo período de 2020. Apesar do incremento, o diretor da Mercedes-Benz considera 2021 como pior ou igual ao ano passado para o setor.

“Agora, o mercado de ônibus está superdimensionado por causa dos escolares que cresceram 183% em relação ao mesmo período de 2020, enquanto o segmento urbano e o rodoviário vivem os momentos mais difíceis da história”, comparou.

Segundo Barbosa, o mercado de urbanos acumula, até maio, queda de 25% e o rodoviário de 52%. “Esses dois segmentos não apresentarão rápida recuperação em 2021. Esperava-se que o segundo semestre seria de recuperação do urbano e do rodoviário. Tudo indica que vai ser melhor que o primeiro semestre. Acho que a gente não vai enfrentar a terceira onda da pandemia e hoje deveremos ter de 35% a 38% da população vacinada com a primeira dose. Portanto, o segundo semestre deve melhorar, sim, para o urbano e o rodoviário, mas não o suficiente para haver um volume melhor do que no ano passado.”

Neste ano, os grandes motores do mercado de ônibus são os escolares e o fretamento, segundo Barbosa. “O fretamento, enquanto houver a obrigatoriedade de distanciamento, continuará bem. Além disso, há vários setores que estão indo bem e puxando as vendas deste mercado. Então, o escolar e o fretamento fazem a diferença neste ano, enquanto o urbano e o rodoviário são os que estão sofrendo mais e levarão mais tempo para se recuperar. Acredito que em 2022 haverá momentos melhores”, previu Barbosa.

Urbanos –

Atualmente, as compras de ônibus urbanos são muito pontuais, segundo o diretor da Mercedes-Benz. “Há poucos negócios em alguns municípios que precisam renovar a frota por exigência do poder público ou devido a uma licitação nova. Mas, em geral, os empresários estão pedindo renegociação nos bancos e postergando as compras de novos ônibus. Este é o cenário do urbano e do rodoviário”, avaliou Barbosa.

Com o trabalho remoto imposto pela pandemia, a ocupação nos ônibus urbanos recuou bastante. “A expectativa de retomada não é chegar a 100% do número de passageiros que era transportado antes da pandemia, mas de que os níveis de ocupação atinjam de 80% a 85%. Sabemos que a quantidade de passageiros vai diminuir, pois com a volta ao novo normal, boa parte das pessoas permanecerá em home-office e outras utilizarão o sistema híbrido, ficando uma parte do tempo em casa e outra parte na empresa”, disse Barbosa.

“Outro ponto que afeta o transporte urbano são as escolhas de mobilidade feitas pelas pessoas no período de pandemia. Alguns optaram pelo transporte individual, outros compraram motos, bicicletas ou passaram a andar a pé.”

Na avaliação de Barbosa, o fato de as pessoas começarem a priorizar o transporte individual é ruim pela dimensão do Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes. “O país que prioriza o transporte individual em detrimento ao coletivo caminha na contramão da solução para a mobilidade. E não é porque a Mercedes-Benz vende ônibus, pois a empresa vende automóveis também. Então, o transporte de massa ou para grandes municípios que deve ser priorizado é o coletivo.”

O diretor da Mercedes-Benz ressaltou também a importância do uso inteligente de horários flexíveis no comércio, na indústria e em outros setores para que se consiga uma distribuição melhor dos passageiros no transporte coletivo. “Não é possível que 100% da população entre às oito horas no trabalho, pois nunca haverá uma frota de ônibus suficiente ou teria que ter um transporte muito caro.”

Pregão 2021

No pregão eletrônico aberto pelo FNDE em 2021 para a compra de sete mil ônibus escolares no valor total de R$ 2,25 bilhões, a Mercedes-Benz venceu a primeira etapa da licitação com direito a produzir 2,6 mil veículos escolares – 1,2 mil na categoria Ônibus Rural Escolar – ORE 1 (R$ 237.898,00), mil na ORE 2 (R$ 279.698,00) e 400 na Onurea (Ônibus Urbano Escolar Acessível) piso alto (R$ 259.328,00). Todos os veículos contam com chassis LO916.

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