Paulo Alencar Porto Lima, presidente do conselho deliberativo da Abrati: “Temos grande expectativa em relação à abertura de janelas extraordinárias de mercados identificadas como disponíveis pela ANTT”

“Temos certeza de que haverá muita interpelação judicial de empresas que se sentem prejudicadas, e também de aventureiros que vêm há algum tempo tentando desorganizar o sistema”, afirma o o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) e diretor-executivo da Expresso Guanabara

Sonia Moraes

TECHNIBUS – Qual a expectativa da Abrati para o segmento de transporte rodoviário intermunicipal e interestadual de passageiros em 2025?

Paulo Porto Lima Esperamos muitas mudanças no setor de transporte de passageiros, e temos grande expectativa em relação ao novo marco regulatório e à abertura de janelas extraordinárias de mercados identificadas como disponíveis pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Temos certeza de que haverá muita interpelação judicial de empresas que se sentem prejudicadas e também de aventureiros que vêm há algum tempo tentando desorganizar o sistema com propostas sem segurança e que não se sustentam. Há também grande expectativa em relação ao novo governo americano e o comportamento do câmbio, que afeta o preço dos veículos, além dos ajustes orçamentários do governo federal que impactam a economia como um todo e o poder de compra dos clientes de ônibus rodoviários.

TECHNIBUS – O que as empresas estão fazendo para se manter competitivas em relação às companhias aéreas?

Paulo Porto Lima – As empresas estão ajustando fortemente os custos operacionais e se adaptando às novas tecnologias que estão tornando o planejamento de frota e de preço mais assertivo e competitivo. Há, entretanto, uma escassez de mão de obra de condutores e profissionais qualificados, especificamente para o transporte. Descrentes de renovação espontânea do setor, as empresas vêm investindo na formação de profissionais. E nessa missão têm contado com a parceria do Sest, Senat e o Instituto de Transporte e Logística (ITL).

TECHNIBUS – Quais os desafios que serão enfrentados pelas empresas neste ano?

Paulo Porto Lima – Além dos desafios já citados tem ainda a manutenção dos preços, que afeta a população. As empresas tornaram-se um ativo importante na escolha do transporte. Dessa forma, deverão consolidar muitas ações de posicionamento de suas marcas, fortalecer seus canais de vendas próprios, seu posicionamento nos terminais rodoviários e ser bastante orientadas pelas pesquisas de mercado ao realizar as compras de veículos com diversas classes de serviços. A saída do serviço de transporte aéreo regional de diversas localidades abre oportunidades, mas há um cliente mais exigente a ser atendido.


TECHNIBUS – O que as empresas precisam fazer para ganhar mais atratividade no mercado?

Paulo Porto Lima – As empresas precisam trabalhar com baixo custo de operação e de manutenção, e as frotas mais novas devem ser uma tendência. Os serviços diferenciados para todos os perfis de clientes também são importantes, pois cada vez mais um bom gerenciamento é a chave para encontrar o preço certo e não haver perda de market share.

TECHNIBUS – Quais os riscos do transporte clandestino para o transporte rodoviário?

Paulo Porto Lima – São muitos. Desequilibram os contratos de operadores do transporte regular e terminais rodoviários, desviam a demanda esperada, colocam em risco as pessoas que estão trafegando na rodovia, dentro e fora de seus veículos. Além disso, afetam a arrecadação de impostos e taxas, submetem trabalhadores a condições precárias de trabalho e representam uma desmoralização para o órgão regulador.

TECHNIBUS – O que é preciso ser feito para garantir a segurança no transporte terrestre de passageiros e evitar que as empresas clandestinas atuem no mercado?


Paulo Porto Lima –
É preciso em primeiro lugar fiscalização fora da rodoviária. A fiscalização na rodoviária só alcança quem já é regular, enquanto a clandestinidade viaja livre pelas estradas. É preciso também suspender o quanto antes a oferta on-line dos serviços clandestinos, pois atuando na oferta a fiscalização consegue reduzir a área de cobertura das equipes de campo num país de dimensões continentais como o Brasil e que tem pouco efetivo de fiscalização. É preciso também a conscientização do judiciário para que o mercado de liminares seja estancado, pois, na maioria das vezes, a empresa solicitante nunca teve interesse ou condição de operar e também porque fere regras constitucionais ao passo que invade a competência do órgão regulador.

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