Leticia Pineschi Kitagawa, conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati): “A segurança jurídica trazida pelo novo marco regulatório possibilitou destravar investimentos”

“Em número de viagens, o setor teve, durante todo o ano, aumento da oferta de horários, e fechamos 2023 com 25% mais viagens que no ano anterior. Outra marca de 2023 foi a expressiva procura por viagens em categoria conforto”, conta a executiva

Por Márcia Pinna Raspanti

Technibus – Como foi o ano de 2023 para as empresas de transporte rodoviário de passageiros? O setor registrou crescimento?

Leticia Pineschi –  Sim, e foi surpreendente. Até setembro tivemos retração no número de passageiros em relação a 2022. Já os três últimos meses foram de crescimento expressivo: 33% na média. Outubro teve uma alta histórica.  Em número de viagens, o setor teve, durante todo o ano, aumento da oferta de horários, e fechamos 2023 com 25% mais viagens que no ano anterior. Outra marca de 2023 foi a expressiva procura por viagens em categoria conforto, como leito, semileito e cama. Se em 2021 estas poltronas representaram 16% das passagens vendidas, em 2023 essa categoria saltou para 27%.

Na operação também tivemos algumas mudanças que imprimiram qualidade ao serviço, entradas de novos competidores e crescimento de alguns mercados antes menores, os passageiros estão cada vez melhor atendidos.

Technibus – Várias empresas divulgaram projeções otimistas para o movimento nas festas de fim de ano, férias de janeiro e Carnaval. Essas boas expectativas se confirmaram?

Leticia Pineschi – Os números do último trimestre mostram que sim, mas há uma diferenciação a ser feita. Se por um lado tivemos o retorno dos passageiros, este continua muito sensível ao preço e, por conta disso, ainda há um desafio em rentabilizar as empresas que sofreram muito com a pandemia. Financeiramente ainda não podemos falar em recuperação total.

Technibus – Para 2024, o turismo rodoviário deve continuar aquecido? Qual a expectativa para o setor?

Leticia Pineschi – Com toda certeza. A Abrati inclusive anunciou investimentos das associadas na casa de R$ 2,5 bilhões tanto em frota, quanto em tecnologia e em formação profissional para o setor. Todos esses anúncios somados aos indicadores mostram que teremos um ano aquecido. Também o turismo doméstico segundo o MTur deverá registrar alta, pois 74% dos brasileiros que irão viajar pelo Brasil e escolherão o transporte terrestre, reflexo também dos altos preços do bilhete aéreo, o que deverá beneficiar o transporte rodoviário. O setor está preparado e a segurança jurídica trazida pelo novo marco regulatório possibilitou destravar investimentos.

Techninbus – Quais os destinos que mais têm se destacado no turismo rodoviário nacional?
Leticia Pineschi – As capitais seguem na frente, mas também por serem locais de apoio para outros destinos: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Florianópolis, Fortaleza e Natal são as mais procuradas, mas o setor rodoviário tem como grande vantagem a sua capilaridade, e a descentralização é fundamental para o turismo nacional. Das 42.569 ligações entre cidades oferecidas pelo setor rodoviário, 96% acontecem entre cidades cujo protagonismo e atendimento regular só é feito de ônibus. Muitas são localidades turísticas de litoral e interior.

Technibus – Como as empresas têm se preparado para esse período de expansão? Os investimentos em conectividade e tecnologia continuam?

Leticia Pineschi – O investimento das empresas é contínuo e, como disse, alguns projetos foram destravados.  E hoje ele permeia toda a operação, tanto no planejamento de rotas como na comercialização, novas gerações de aplicativos que realizam o monitoramento da demanda, revenue management e análise da concorrência. Tecnologias que se aperfeiçoam para tornar as demandas mais previsíveis, o planejamento mais eficaz e os preços ainda mais competitivos, pois veículos mais modernos, com planejamento e operações mais eficazes, evitam desperdícios de recursos e tornam as operações mais ecológicas inclusive.

Technibus – Em 2024, será realizada a Lat.Bus, o maior evento da área de ônibus da América Latina. Qual a expectativa da Abrati com relação ao evento?

Leticia Pineschi – Enorme. Este vai ser o verdadeiro momento na Lat.Bus pós pandemia. A última edição ainda foi marcada por um resquício de apreensão acerca da doença. Então, este ano estamos mais animados para os lançamentos e novidades, encontrar e se conectar com fornecedores e fazer grandes negócios, realizar os anunciados investimentos. A Abrati já está conversando com a organização do evento para definirmos nossa participação.  

Technibus – Como a Abrati avalia a aprovação do novo marco legal do TRIP? Quais os principais pontos da nova legislação?

Leticia Pineschi – Longe de ser perfeita, já que existem pontos que podem ser aprimorados, a simetria de concorrência contemplada vai permitir uma competição saudável e segura para o consumidor e empresário. Primeiramente porque ambos terão a certeza da continuidade dos serviços e porque haverá o elemento da previsibilidade que possibilita investimentos, inclusive em fontes alternativas de energia para as instalações, projetos sociais, formação profissional e contratações. Existe toda uma gama de projetos que agora serão desbloqueados

Technibus – Como a Abrati avalia os planos do governo em relação à desoneração da folha salarial para o setor de transportes?

Leticia Pineschi – A desoneração é um projeto de várias frentes, extremamente relevante para manutenção de empregos e qualidade dos serviços prestados e igualmente importante para a manutenção da modicidade tarifária. Não podemos esquecer que o ônibus é o transporte mais democrático do país e nesse sentido tudo deve contribuir para que o custo das passagens sejam sempre mais acessíveis.  

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