Marcello Von Schneider, diretor institucional e head da unidade de ônibus da BYD Brasil: “Atualmente, temos 93 ônibus elétricos da BYD em circulação pelo país. A maioria, cerca de 80%, é de modelos urbanos e o restante de fretamento”

“Posso dizer que o mercado de ônibus elétricos no momento atual está bastante aquecido. Devemos fechar algumas vendas ainda neste ano para fazermos as entregas em 2023”, conta o executivo

Technibus – A BYD finalizou recentemente a entrega de 20 ônibus elétricos para Salvador (BA). Quantos ônibus da marca já circulam pelo país?

Marcello Von Schneider – Atualmente, temos 93 ônibus elétricos da BYD em circulação pelo país. A maioria, cerca de 80%, é de modelos urbanos e o restante de fretamento. Muitas empresas têm buscado os modelos elétricos para fretamento contínuo, principalmente pelo aspecto de políticas ESG. Grandes indústrias, empresas de mineração e de outros segmentos que causam impactos ambientais têm buscado mitigar esses efeitos reduzindo as emissões na transporte de funcionários, por exemplo.

Já essa operação na Bahia é importante para abrir caminho para que outras regiões do Nordeste também possam adotar os ônibus elétricos. O governo do estado queria incluir os modelos elétricos no transporte coletivo da região metropolitana de Salvador há um bom tempo, então iniciou um processo licitatório. A BYD venceu a licitação de Salvador em março de 2022. Os 20 ônibus elétricos são do modelo padron D9W de piso baixo e contam com carroceria Marcopolo.

Technibus – Há outras entregas previstas para os próximos meses?

Marcello Von Schneider – Temos negociações bastante avançadas, e posso dizer que o mercado de ônibus elétricos no momento atual está bastante aquecido. Devemos fechar algumas vendas ainda neste ano para fazermos as entregas em 2023. Há boas oportunidades em São Paulo. O Programa de Metas da prefeitura da capital paulista prevê que 20% da frota ou 2,6 mil ônibus seja composta por veículos elétricos até o fim de 2024. (esse compromisso faz parte das ações municipais para cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas, que prevê a redução da emissão de gás carbônico fóssil em 50% até 2028 e a erradicação deste tipo de poluente até 2038). Temos também algumas licitações que atrasaram por diversas razões, inclusive por causa das eleições deste ano, como as de Goiás e São José dos Campos, que deverão ser retomadas em 2023.

Technibus – Em termos de tecnologia e modelos, a BYD tem alguma novidade no horizonte?

Marcello Von Schneider – Vamos manter o nosso atual portfólio de produtos, que é o maior oferecido no Brasil nos dias de hoje, com os modelos básico e padron (ambos com piso alto e baixo), e dois articulados, sendo o de 22 metros de piso alto e o de 23 metros de piso baixo, além do ônibus rodoviário. Nosso mix de produtos é composto por sete modelos, e é o mais moderno que existe no mercado. Temos investido também no pós-vendas, que tem uma estrutura já consolidada, com atendimento remoto e também dentro das próprias garagens das empresas, de acordo com a necessidade de cada cliente. Os ônibus elétricos demandam menos peças de reposição. As peças mais sujeitas a desgastes, como pastilhas, amortecedores e pneus, por exemplo, são facilmente encontradas no mercado. Quando o operador começa a utilizar o ônibus elétrico, ele percebe como é mais simples e menos oneroso para fazer a manutenção.

Technibus – Como os operadores brasileiros têm resolvido a questão da falta de infraestrutura de carregamento para os modelos elétricos?

Marcello Von Schneider – No Brasil, a falta de infraestrutura não é algo exclusivo para o ônibus elétrico, sendo um problema do país. A BYD conta com parceiros especializados, e as soluções são pensadas caso a caso. Em São Paulo, a nossa parceira é a Enel X, que é a fornecedora de energia da cidade, o que facilita bastante essa questão, pois as estruturas de abastecimento já são pensadas para toda a cidade e não apenas para o elétrico. As soluções existem, basta buscá-las. Os ônibus são carregados no período da noite quando há uma queda na demanda por energia. Há estudos que mostram a possibilidade de utilizar a estrutura elétrica do metrô para recarregamento de frota elétrica de empresas com garagens próximas às estações. Este é um exemplo, há outras estruturas que ficam ociosas à noite e podem ser aproveitadas. Outro ponto importante, é que os ônibus chegam de forma gradual, possibilitando que a infraestrutura seja implementada à medida que seja necessária. É só ter planejamento.

Technibus – A BYD pretende ampliar o índice de nacionalização de seus produtos? No caso das baterias, a fábrica de Manaus está preparada para atender a demanda do Brasil e dos países vizinhos?

Marcello Von Schneider – Hoje, os ônibus da BYD têm 23% de nacionalização. E temos planos de aumentar esse índice, mas nossa meta é proporcional ao volume demandado. Buscamos nacionalizar o maior número possível de peças e itens.

A BYD produz a maior parte das peças usadas nos ônibus. Os motores são produzidos aqui, em Manaus. Por enquanto, a fábrica atende apenas o mercado nacional, mas poderá fornecer para outros países e também para outras empresas que queiram usar os produtos da marca.

Technibus – Quais as perspectivas da empresa em relação ao mercado brasileiro? E na América Latina?

Marcello Von Schneider – No Brasil, as perspectivas são muito boas. A eletrificação deixou de ser uma discussão e se tornou uma realidade. O país ainda está atrasado em relação a outros mercados latino-americanos, como Chile e Colômbia, mas em dois ou três anos, pode ser um líder na área de eletrificação, ficando atrás apenas da China. Isso é possível se as metas anunciadas pelos governos locais se cumprirem, em especial as de São Paulo, que é fundamental para esse processo.

Temos também expectativas favoráveis nos outros mercados latino-americanos. Mantemos escritórios e representantes em toda a região, que comercializam os produtos fabricados no Brasil e na China. O Chile, por exemplo, compra diretamente da China, devido a algumas facilidades em impostos e taxas.

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