Ruben Bisi, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus): “O cenário está muito bom para o mercado de ônibus, e poderia ser melhor, se não fosse o atraso na entrega de chassis pelas montadoras por causa da falta de semicondutores”

A estimativa do presidente da Fabus é de um crescimento de 20% na produção de ônibus em 2022

Technibus – Qual a estimativa da Fabus para o mercado de ônibus?

Ruben Bisi – A nossa previsão está se confirmando. Tínhamos estimado um aumento de 20% na produção de ônibus em 2022 e fechamos de janeiro a junho com 6.599 ônibus destinados ao mercado interno, crescimento de 28% sobre o mesmo período de 2021. A exportação cresceu 51%, com 1.553 veículos, e a produção total avançou 31,47%, com 8.152 ônibus fabricados no primeiro semestre deste ano.

Technibus – As perspectivas são positivas para 2022?

Ruben Bisi – Sim. O cenário está muito bom para o mercado de ônibus e poderia ser melhor, se não fosse o atraso a entrega de chassis pelas montadoras por causa da falta de semicondutores.

Technibus – O que puxou esse crescimento?

Ruben Bisi – No mercado interno, foram os rodoviários que cresceram bastante, com 73% de aumento nas vendas, e também os urbanos, que tiveram aumento de 61% no primeiro semestre.

Technibus – O que está impulsionando o segmento de rodoviários?

Ruben Bisi – Além do turismo estar indo bem com aumento de demanda, as linhas interestadual e intermunicipal estão tendo maior procura por causa do aumento das passagens aéreas.

Technibus – E o segmento de urbanos?

Ruben Bisi – No segmento de urbanos, a demanda está aquecida porque o transporte público voltou a operar com uma quantidade maior de pessoas, e as prefeituras estão injetando dinheiro no sistema para evitar o aumento de tarifa. Com a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) no Senado, será disponibilizado R$ 2,5 bilhões para o transporte público para cobrir a gratuidade do idoso. Este recurso também representa mais um reforço para as prefeituras poderem ajudar as empresas de ônibus que estão com dificuldades.

Technibus – Qual a previsão para o segmento de escolar?

Ruben Bisi – Para o segmento de escolar, as perspectivas também são positivas, com aumento de 22,5% na produção esperada para este ano. Dos sete mil ônibus encomendados pelo governo federal, na licitação realizada no ano passado, mais da metade já foram entregues e até o fim do ano deverá ser concluída a entrega do restante deste lote, mais os 3.750 ônibus referentes ao pregão realizado em maio deste ano. É a metade do que o governo queria comprar neste ano, mas as montadoras recusaram, alegando que não teriam capacidade para produzir uma quantidade maior de chassis por causa da falta de semicondutores e outros componentes. 

Technibus – Como ficará o setor de fretamento?

Ruben Bisi – De todo o mercado de ônibus, o fretamento é o único que terá retração neste ano porque não há mais necessidade de manter o distanciamento das pessoas no interior dos ônibus e, por estar com grande estoque de veículos, as empresas não estão comprando. E estão voltando a usar menos ônibus para transportar a mesma quantidade de funcionários. Nos últimos dois anos de pandemia, o fretamento foi o único mercado que cresceu e, de janeiro a junho deste ano, já registra queda de 93%, com 46 ônibus produzidos, ante os 738 veículos fabricados no mesmo período do ano passado.

Technibus – Como estão as exportações de ônibus?

Ruben Bisi – Assim como o mercado interno, as exportações seguem avançando neste ano, com o destaque para o Chile que continua comprando ônibus do Brasil. A Argentina, segundo maior mercado, teve muitos pedidos cancelados e, se não fosse essa baixa, o volume de exportação seria maior. Mas, tem a Colômbia, Peru, e os mercados africanos Congo, Gana e Nigéria, como destinos prósperos para os ônibus feitos no Brasil. 

Technibus – Qual o legado da pandemia para o transporte público?

Ruben Bisi – A pandemia trouxe consequências. Talvez de 10% a 15% dos passageiros do transporte público não voltem mais, porque estão trabalhando em home-office e as pessoas estão viajando menos.

Technibus – O que deverá ser feito no transporte público para enfrentar a baixa no número de passageiros?

Ruben Bisi – Hoje os contratos são engessados e, com menos usuários, vai ser necessário haver flexibilidade para colocar os ônibus em operação de acordo com a demanda.

Technibus – O que mudará no transporte público?

Ruben Bisi – Se houver autorização, as empresas poderão diminuir a utilização dos ônibus pesados e criar um mercado para os ônibus padron de 12 metros ou micro-ônibus. Algumas cidades que usavam ônibus superarticulados passarão a usar os modelos articulados e os articulados serão substituídos por modelos padron e os padron por micro-ônibus.

Technibus – A eletrificação vai avançar no mercado de ônibus?

Ruben Bisi – Com o aquecimento global e a busca pela descarbonização do transporte público, muitas prefeituras vão exigir a troca da frota por ônibus menos poluentes. Apesar do forte apelo para reduzir a emissão de poluentes, o ônibus elétrico não é uma solução para todas as cidades porque é mais caro do que um modelo movido a diesel. Então, algumas cidades vão recorrer ao gás, ao biometano e até ao hidrogênio verde.

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