Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz do Brasil: “Em 2021, o mercado de ônibus deverá apresentar crescimento entre 10% a 15%”

O executivo acredita que, no próximo ano, o segmento de urbanos terá seis meses de desafios, se recuperando somente no segundo semestre, e o de fretamento tende a ter bastante demanda até junho

Technibus – Qual a expectativa para o mercado de ônibus para 2021? 

Walter Barbosa – Em 2021, estamos prevendo crescimento entre 10% e 15%. Este ano, tivemos dez meses de pandemia e, no próximo ano, mesmo que a epidemia do coronavírus continue, boa parte da população deverá ser imunizada. Por isso, acredito que será um ano melhor.

Technibus – Como o mercado de ônibus deve chegar ao fim de 2020? 

Walter Barbosa – Deverá fechar com algo em torno de 13.700 a 14 mil veículos emplacados. Este resultado representará uma queda de 33% sobre 2019, quando foram vendidos 20.932 veículos no país. 

Technibus – Como deve ficar o setor de fretamento? 

Walter Barbosa – O segmento de fretamento, o único que cresceu 26%, com 1.411 veículos emplacados, deverá fechar 2020 com resultado positivo. Isso ocorrerá porque as empresas que prestam serviço de fretamento estão mantendo as regras da Organização Mundial da Saúde (OMS) de distanciamento social e contratando ônibus de 48 lugares para usar 24 lugares. Além disso, o agronegócio, o setor de energia, mineração, tecnologia, infraestrutura e saúde estão muito aquecidos e as empresas que prestam serviços para estes segmentos estão tendo bastante oportunidades. 

Technibus – E o mercado de ônibus escolares? 

Walter Barbosa – O segmento de escolares caminha para uma tendência de equilíbrio, mesmo com a redução de 22%, porque ainda tem bastante carro para ser emplacado até o fim de dezembro, o que poderá diminuir o índice de queda para 10% em relação ao ano passado. As vendas atuais fazem parte da licitação que ocorreu em 2019 de 6.000 ônibus, dos quais de 3.000 a 3.100 serão emplacados este ano. Já temos 2.729 modelos escolares emplacados e os 3.000 restantes devem ocorrer até o fim do primeiro semestre de 2021. 

Technibus – Já há licitações previstas para os escolares? 

Walter Barbosa – Outra licitação para os ônibus escolares deve acontecer até o fim deste mês. Mas não sei se daqui para frente o governo vai ter verba para a compra de 6.000 ônibus. 

Technibus – Qual deve ser o resultado para o setor de urbanos? 

 Walter Barbosa – O setor de urbanos, que chegou a perder 75% dos passageiros no início da pandemia, hoje transporta em média 50% do que transportava antes da pandemia, mantendo-se em uma situação bastante caótica. E no próximo ano será difícil, com mais seis meses de desafios, se recuperando no segundo semestre de 2021. Por isso, os R$ 4 bilhões de ajuda emergencial às empresas de ônibus chegariam na hora certa, funcionando como um oxigênio para o setor. 

Technibus – Como o segmento de rodoviários deve terminar o ano? 

Walter Barbosa – O segmento de rodoviário sofre mais porque perdeu 90% de passageiros no início da pandemia e agora está próximo de 35% a 40% do que havia. Em termos de faturamento, o setor est sofrendo mais do que o urbano, mas as empresas não são obrigadas a manter os ônibus em operação. Elas deixam de faturar, mas tem a possibilidade de fazer o transporte de fretamento com o ônibus rodoviário que está parado e a opção de transportar carga no bagageiro do veículo. 

Technibus – Quais as perspectivas para o rodoviário em 2021? 

Walter Barbosa – No rodoviário, o equilíbrio está um pouco melhor, mas é um segmento que dificilmente deverá falar em novas compras antes do segundo semestre de 2021. No primeiro semestre, o segmento ainda vai enfrentar grandes desafios porque a população só vai voltar a fazer turismo quando tiver imunização. 

Technibus – Que balanço você faz de 2020? 

Walter Barbosa – Foi um ano desafiador, de muitas mudanças, muito trabalho e muita dedicação para colocar soluções no mercado, que pudessem contribuir para o nosso propósito que é a mobilidade. 

Technibus – No próximo ano, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, pretende manter o foco em mobilidade. Isso vem como algo positivo para a Mercedes-Benz? 

Walter Barbosa – São Paulo é uma das cidades que vem investindo mais em propostas de mobilidade e ainda fala muito de eletrificação. São projetos pioneiros no Brasil e que estão sendo fortemente debatidos e discutidos para que se tenha a melhor implementação possível dentro do seu tempo. 

Technibus – Como a Mercedes-Benz avalia estes projetos? 

Walter Barbosa – O desejo é muito grande de a gente evoluir em todas as tecnologias e soluções cada vez mais limpas, mas tudo tem que ser feito passo a passo para que seja sustentável e São Paulo tem puxado bastante essa discussão. 

Technibus – A Mercedes-Benz está fazendo investimentos para participar do projeto de eletrificação de São Paulo? 

Walter Barbosa – Para o projeto de eletrificação de São Paulo, a Mercedes-Benz tem a tecnologia pronta com o ônibus elétrico e-Citaro. Este veículo tem sido um sucesso na Europa e a gente está olhando o momento mais adequado para começar a implementação, porque o ônibus elétrico é muito diferente do conceito do ônibus à diesel. 

Technibus – O que falta para o ônibus elétrico avançar no país? 

Walter Barbosa – Para colocar um ônibus elétrico para rodar não se pode pensar somente no produto. É preciso olhar toda a cadeia e ter infraestrutura de energia elétrica que chega até a empresa de ônibus e dentro da empresa para poder carregar os veículos. Depois, tem que ter claro o que vai fazer com as baterias após a vida útil dos veículos. 

Technibus – Quando os ônibus poderão ser elétricos no Brasil?  

Walter Barbosa – No Brasil, a fase inicial de produção do ônibus elétrico já começou. Este é um caminho sem volta, mas cada município terá a sua curva de crescimento e mesmo na cidade mais avançada essa curva será lenta. Será um crescimento gradativo. Não acredito que até 2027 todos os veículos poderão ser elétricos no Brasil. Pode ser possível em 2037. 

Technibus – Por que essa demora? 

Walter Barbosa – Porque produzir o ônibus elétrico é o menor dos problemas. A tecnologia já existe e no Brasil já tem ônibus elétrico de várias marcas. A Eletra faz ônibus elétrico há mais de 20 anos e a bateria também. E a bateria do ônibus elétrico vai evoluir ao longo dos próximos dez anos, como o celular evoluiu. Mas é preciso ter entendimento do poder público, que tem que saber o que é um custeio técnico e uma tarifa pública, pois se não souber isso não consegue implementar o ônibus elétrico. 

Technibus – O que é tarifa técnica e tarifa pública? 

Walter Barbosa – Tarifa técnica é a relação entre a empresa de ônibus e o poder público. É a prestação de serviço. E tarifa pública é o quanto a população pode pagar e o quanto o prefeito deseja implementar. É uma relação entre o poder público e o usuário do transporte. 

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