Technibus – Qual a expectativa da Volvo Buses para o mercado de ônibus em 2021?
Fabiano Todeschini – Acreditamos em um ano melhor, uma vez que alguns indicadores começam a melhorar e a economia está com tendência de crescimento em alguns setores que alavancam o transporte de passageiros. Mas a retomada está muito relacionada com o avanço da vacinação e quanto mais rápida melhor será para o setor de transporte de passageiros.
Technibus – Quanto fechará o mercado de ônibus em 2021?
Fabiano Todeschini – Nossa previsão para o mercado total de ônibus acima de 16 toneladas é de um crescimento de 13%. É sempre muito difícil fazer previsões em períodos mais instáveis, como o que estamos vivendo, principalmente por conta da pandemia. Mas estamos confiantes de que o mercado poderá crescer à medida que a vacinação aumentar. O segmento de ônibus depende muito da vacinação, pois somente com maior imunização da população as pessoas começarão a se sentir confiantes para se deslocar pelo transporte público e para retomar as viagens.
Technibus – A Volvo Buses acredita que a pior fase da crise já passou para o setor de ônibus?
Fabiano Todeschini – O ano passado foi muito difícil, principalmente no início da pandemia. Houve períodos de paralisação quase total em alguns segmentos. Esse cenário está diferente agora, mas não será uma retomada fácil. Teremos mais um ano desafiador, mas acreditamos em uma melhora.
Technibus – O segmento de fretamento poderá ajudar na recuperação do mercado de ônibus em 2021?
Fabiano Todeschini – Em 2020, o segmento de fretamento de ônibus para empresas experimentou uma expansão por causa da necessidade de maior distanciamento e diminuir o número de pessoas no transporte de funcionários. O esforço era e continua sendo reduzir a possibilidade da difusão do coronavírus. Ganhamos bastante espaço nesse mercado com o ônibus semipesado B270F. Para 2021, acreditamos que esse segmento estará diferente, à medida em que a vacinação avance. Por outro lado, deve haver alguma retomada do emprego formal, principalmente em setores que estão em expansão, como a indústria, a construção, a mineração, a agricultura e o segmento de proteína animal.
Technibus – Os clientes já falam em comprar novos ônibus ou a maioria prefere aguardar o comportamento do mercado, após a vacinação da população?
Fabiano Todeschini – Todas as empresas e operadores estão ainda muito cautelosos. Mas já vemos alguns sinais de retomada nas compras e de renovação de frotas. À medida que a vacinação crescer, esperamos uma sinalização ainda mais positiva.
Technibus – Com a pandemia, como ficou definido o programa de renovação de frota de ônibus nas cidades?
Fabiano Todeschini – Cada cidade tem sua dinâmica própria. As licitações continuam em andamento. Estamos otimistas com a licitação do Chile, uma das maiores, com cerca de dois mil chassis. Nesta primeira fase, que define os fornecedores de frota, a Volvo ficou com a primeira e a segunda melhores ofertas (com dois encarroçadores diferentes). Agora, na segunda fase, os operadores farão suas escolhas a partir dessas ofertas. A definição final acontecerá à frente.
Technibus – Além da perda de passageiros, as empresas enfrentam falta de crédito para renovar a frota de ônibus. Esse é um fator que poderá atrapalhar a retomada do setor neste ano?
Fabiano Todeschini – O crédito é realmente um fator importante para os negócios no setor de ônibus, principalmente com esse cenário de empresas descapitalizadas. O grupo Volvo tem uma divisão própria para esta área. A Volvo Financial Services (VFS), que vem há muitos anos contribuindo para fomentar e facilitar os negócios de ônibus da marca. No nosso caso, temos tido apoio total da VFS Brasil, tanto que no Brasil 65% das entregas no ano passado tiveram a participação do Banco Volvo.
Technibus – A Volvo Buses está confiante em conseguir aumentar a participação no mercado de ônibus em 2021?
Fabiano Todeschini – Sim. Em 2020 perdemos mercado por conta de vários fatores. Foi um ano muito forte para o tipo de veículos que não temos em nosso portfólio, como ocorreu com o incentivo do governo no programa Caminho da Escola, e estamos presentes no mercado com veículos acima de 16 toneladas. Houve a percepção de queda porque tivemos vendas muito grande para Bogotá no ano anterior. Para 2021, esperamos crescer. Temos boas perspectivas no segmento de fretamento, que deve manter aquisições e temos também sinais do setor de rodoviários pesados, uma vez que o dólar alto pode restringir as viagens de turismo ao exterior. Mas isso depende do avanço da vacinação. Há ainda a possibilidade de vendas do chassi B270F 6×2 de 15 metros, que é a alternativa ideal para operações urbanas em que o número de passageiros requer um ônibus maior que o de tamanho tradicional, de 12 metros, mas não é preciso um chassi articulado, de 18 metros.
Technibus – Qual produto ajudará a Volvo Buses nesta retomada?
Fabiano Todeschini – Temos um portfólio grande de produtos para garantir esta retomada. São opções diversas: o B270F com versões urbana, rodoviária e fretamento; o B270F 6×2 15 metros; o B250R, modelo para carros padron; o B340M, nas versões articulado e biarticulado; até os chassis rodoviários pesados, de alta tecnologia e segurança, como os modelos B420R e B450R.
Technibus – O que a Volvo Buses está fazendo para crescer no mercado de ônibus?
Fabiano Todeschini – Muitas ações. Estamos investindo em novas tecnologias para melhorar a segurança no transporte de passageiros. As entregas de ônibus rodoviários com o SSA (Sistema de Segurança Ativa) vão crescer. Hoje essa opção está presente em 15% das nossas entregas e acreditamos que chegaremos a 30%. Estamos também reforçando as ações no chassi B270F 6×2 de 15 metros, que tem muito espaço para crescer nos clientes que precisam de alternativas de chassis maiores de 12 metros, mas sem ter que saltar para modelos articulados. Queremos aumentar também as vendas no segmento de turismo, com os chassis rodoviários pesados. O turismo interno deve crescer à frente e nós queremos estar presentes. Com o desenrolar de algumas licitações, temos um portfólio enorme de produtos para os BRT, com chassis articulados, biarticulados e veículos padron. Nossa oferta é completa, inclusive com soluções financeiras para cada caso.
Technibus – Nas exportações a Volvo Buses teve bom desempenho em 2020. Qual foi o principal mercado e qual a previsão para 2021?
Fabiano Todeschini – Foi um bom ano para vendas externas. Para Bogotá, nosso maior mercado externo no ano passado, vendemos 321 ônibus. Para o Chile, fechamos outro lote grande de 200 veículos. E ainda enviamos 440 unidades para o Congo e 153 para Angola, na África.
Nossa previsão é otimista para este ano, uma vez que a fábrica brasileira tem vocação exportadora. Podemos atender pedidos da região hispânica da América Latina e até de outros continentes. Havendo demanda global, temos flexibilidade que permite atender outros mercados.
Technibus – A empresa está confiante em aumentar as exportações dos seus ônibus? Qual modelo será o destaque?
Fabiano Todeschini – Sim, como eu disse a unidade fabril brasileira é um importante elo no sistema industrial global da Volvo Buses. Temos alta qualidade e grande flexibilidade, podendo atender pedidos de ônibus de outros mercados internacionais. Além da América Latina, nos últimos anos houve oportunidades para a África, com envio de chassis urbanos B250R, B340M articulado e B270F.
Technibus – A Volvo Buses ficou em quinto lugar no ranking de vendas de ônibus no Brasil em 2020, com 444 veículos emplacados, 40,3% a menos que em 2019. Como a empresa avalia este resultado?
Fabiano Todeschini – O resultado do mercado em 2020 foi bem diferente do que esperávamos no início e ao final do período foi muito menor. O ano passado foi marcado pela pandemia, que impactou fortemente o setor de maneira geral. Não só a Volvo Buses, mas todas as fabricantes e as empresas de transporte e os operadores.
O transporte de passageiros foi bastante atingido. Por causa do perigo do contágio, fomentou-se o distanciamento social e o número de pessoas transportadas caiu drasticamente. Muitos operadores de transporte tiveram períodos inteiros sem receita. Foi um ano desafiador para todos. A Volvo também sentiu, uma vez que em 2019 tivemos grandes vendas para o sistema de transporte de Bogotá, o que deixou os volumes de 2020 proporcionalmente menores. De qualquer forma, tivemos pontos positivos, como o crescimento de 34% em chassis semipesados em 2020, encerrando o ano com 216 unidades vendidas nesse segmento, boa parte para fretamento. Também vendemos mais chassis com o Sistema de Segurança Ativa (SSA), que já representam 15% das entregas de veículos rodoviários pesados. E ainda vendemos bons volumes para grandes metrópoles, como Bogotá (321 ônibus), Santiago (200 articulados), São Paulo (61 padron) e Curitiba (40 articulados, biarticulados e padron).