Tecnologia redefine a gestão do transporte coletivo

Na visão de Rafael Teles, diretor de produtos da Transdata, o que se vê agora é, na verdade, uma mudança nas expectativas em relação às soluções tecnológicas, pois há a demanda para que a tecnologia produza dados que retroalimentem o planejamento do sistema

Valeria Bursztein

Com o avanço das soluções digitais, o transporte coletivo urbano vem ingressando em uma nova era de eficiência, segurança e qualidade de serviço. O gerúndio é tolerável, uma vez que as transformações tecnológicas desafiam os ritmos de qualquer evolução setorial e impõem desafios à implementação.

De aplicativos que informam em tempo real a chegada dos ônibus a sistemas embarcados que otimizam rotas e monitoram o desempenho dos veículos, a tecnologia vem transformando a mobilidade urbana. Para os passageiros, isso significa mais previsibilidade, conforto e agilidade nos deslocamentos. Para os frotistas, maior controle operacional, redução de custos e tomada de decisão baseada em dados –  fatores que elevam a competitividade e a sustentabilidade do setor.

Na visão de Rafael Teles, diretor de produtos da Transdata, o que se vê agora é, na verdade, uma mudança nas expectativas em relação às soluções tecnológicas. Se, em um primeiro momento, essas soluções foram implantadas para melhorar a rotina operacional dos operadores – como a bilhetagem eletrônica para reduzir a evasão de receita, a gestão de frota para um controle mais efetivo da operação e a telemetria para monitorar a manutenção da frota e o perfil de condução dos ônibus –, agora a demanda é para que a tecnologia produza dados que retroalimentem o planejamento do sistema. “O que se espera é que essa tecnologia embase o cumprimento das relações especificadas nos contratos, assim como os pagamentos. Então, há uma sofisticação, sobretudo, na exigência dos dados que as soluções vão fornecendo”, diz Teles.

Neste ano, a Transdata – empresa de software voltada à mobilidade urbana, fundada em 1993, com sede em Campinas (SP) e filiais em Curitiba (PR), João Pessoa (PB) e Brasília (DF) –  tem foco em avançar na integração dos diferentes módulos que compõem sua plataforma de ITS (Intelligent Transportation System, ou Sistema de Transporte Inteligente), um conjunto de soluções tecnológicas aplicadas à mobilidade – como sensores, comunicação em tempo real, software de gestão e monitoramento por GPS –, com o objetivo de melhorar a eficiência, segurança, sustentabilidade e fluidez do transporte, seja coletivo, individual ou de cargas.

“Estamos investindo fortemente em automatizar as integrações existentes para otimizar a operação da plataforma de tecnologia, gerando mais informações confiáveis para a tomada de decisão e, obviamente, reduzindo o custo operacional. A ideia é gerar ganhos de produtividade, que só serão possíveis por meio de uma plataforma única. Assim, evitamos que os lançamentos tenham que ser feitos em diferentes lugares. Por exemplo, quando o CCO altera o itinerário de uma linha, informando um desvio de trânsito, essa informação já é disparada nos canais do usuário, o que gera um tratamento de dados específico, permitindo um acompanhamento detalhado na bilhetagem, inclusive quanto ao impacto gerado”, detalha Teles.

Com relação à bilhetagem eletrônica, a empresa vem avançando na integração com os meios de pagamento e na oferta de novas soluções de tarifação. Recentemente, a Transdata firmou parceria com a plataforma Google para permitir que qualquer pessoa nas cidades possa consultar, via Google Maps, quais as melhores linhas de ônibus para chegar ao seu destino –  incluindo o valor do deslocamento e a possibilidade de pagamento direto pelo Google, por meio da compra e validação de um QR Code a bordo, no validador. A opção beneficia especialmente passageiros que não são usuários frequentes do sistema de transporte ou que não estão familiarizados com ele, como os turistas.

“Essa é uma solução que se soma a outras, como o pagamento com cartão de crédito e débito. Processamos hoje quase 3,5 milhões de pagamentos com cartões a bordo dos ônibus –  entre os 25 mil ônibus que estão equipados com validadores Transdata no Brasil, América Latina e África –,  um volume bastante expressivo”, afirma o executivo.

Além de avançar em soluções de integração de meios de pagamento, a Transdata investe tempo e recursos para diversificar a política tarifária, tornando-a mais flexível e inteligente, inclusive na integração com outros modais. “Nesse sentido, posso citar um case de sucesso: a solução que desenvolvemos para Angola, que integra os ônibus ao sistema de mototáxis, usando validadores portáteis”, relata Teles.

O executivo destaca ainda que a empresa investe na nova geração de sua solução de gestão de frota, que faz parte da plataforma Atlas e vem sendo desenvolvida desde 2020. A nova geração pode funcionar com ou sem bilhetagem integrada e foi pensada para a nova realidade brasileira, das cidades com tarifa zero, nas quais há demanda por gestão de frota integrada a outros instrumentos, como contadores de passageiros, e não mais apenas com validadores de catraca. “Esse é o principal investimento que estamos fazendo neste ano, além de uma nova linha de validadores portáteis e minivalidadores.”

Dados abertos

Na visão de Teles, a bilhetagem aberta é um caminho natural. Ele explica que os sistemas brasileiros foram implantados de forma fechada devido à legislação do vale-transporte, que determina que o benefício seja comercializado pelo operador. Isso fez com que cada operador adotasse sistemas que atendessem às suas próprias especificidades. “À medida que os sistemas mudam de lógica e novas fontes de financiamento são adicionadas –  com recursos públicos entrando para financiar o sistema –,  é natural que o modelo de sistemas fechados dê lugar a plataformas interoperáveis”, afirma.

O importante, segundo Teles, é seguir um padrão tecnológico reconhecível por todos os participantes. “É muito ruim criarmos, como brincamos, ‘tomada de três pinos’ específicas para o Brasil. A tendência é positiva, especialmente se vier acompanhada de alinhamento com as melhores práticas internacionais, como as normas ISO 24014 e ISO 16750, que são padrões importantes.”

Ainda sobre a transição, Teles diz que já é possível abrir os dados mesmo em sistemas fechados. “Um sistema fechado pode operar com dados abertos e ser auditável. Ele se torna efetivamente aberto quando há mais de um emissor de crédito ou mais de um operador de rede de venda. E aí faz sentido falar em interoperabilidade entre diferentes plataformas.” O desafio, segundo ele, está na consolidação de um novo modelo de relações institucionais e de investimento entre operadores e autoridades de transporte público. “Ainda estamos vivendo essa transição. O setor discute a modelagem dos contratos, as garantias, os formatos jurídicos. À medida que isso avança, a tecnologia trará, com certeza, as respostas que autoridades e operadores demandam. Elas já existem. O consumo dessas soluções é uma questão de decisão.”

Confira a reportagem completa na 176ª edição da Technibus

Acompanhe o Canal Technibus no WhatsApp e fique por dentro das principais notícias e novidades do mundo do Transporte Coletivo e da Mobilidade.

Veja também