TECHNIBUS – Como a senhora avalia a ampliação do uso de gás natural no transporte coletivo por ônibus, do ponto de vista da infraestrutura de abastecimento e distribuição? É uma alternativa viável para o Brasil?
Giselia Pontes – A ampliação do uso do GNV no transporte público é uma oportunidade para a ampliação do mercado de gás natural do país, além de reforçar a posição do Brasil como protagonista no processo de transição energética em curso mundialmente. A substituição do diesel pelo gás natural representa redução de emissão de CO² em torno de 20%, além de diminuição de mais de 90% de material particulado (fumaça preta), contribuindo para a melhora da qualidade do ar e consequentemente para a saúde das pessoas. Hoje, o Rio de Janeiro já é líder em GNV, com aproximadamente 1,7 milhão de veículos leves convertidos e mais de 700 postos instalados e temos orgulho de fazer parte desta conquista. Agora, chegou o momento de ampliar a adaptação da frota pesada. Hoje, por meio dos Corredores Sustentáveis, os ônibus e caminhões que passam pela Dutra e pela Washington Luís já contam com postos adaptados para abastecer veículos pesados com GNV. Ao ampliar o mercado para atender a frota pesada, além do desenvolvimento econômico, o estado contribui para uma solução mais sustentável no transporte de cargas e de passageiros. Por exemplo, se 1.000 veículos pesados que cruzam a Dutra substituíssem o diesel por gás natural, deixariam de emitir 52 toneladas de CO² equivalente, o que corresponde à quantidade de CO² retirada por 200 árvores.
TECHNIBUS – Em relação aos ônibus elétricos, há vantagens em termos de implementação de infraestrutura no gás natural? Ou os desafios são similares?
Giselia Pontes – Acredito que as soluções em termos de frota pesada com fontes energéticas mais limpas vão avançar de forma complementar, de acordo com a infraestrutura das regiões, tanto em termos de energia elétrica, quanto de gás natural. No caso do Rio de Janeiro, somos o maior estado do país em nível de gaseificação, representando 14,9% do consumo nacional de gás natural, e isso definitivamente é uma vantagem significativa no que tange aos ônibus a GNV. Se focarmos na capital, por exemplo, em um levantamento que fizemos na cidade do Rio de Janeiro, todas as garagens de ônibus estão localizadas sobre a rede de gás ou bem próximas, o que torna viável o abastecimento na própria garagem das empresas. Isso sem contar os postos já adaptados para frota pesada na Dutra e na Washington Luís e a perspectiva de expansão do projeto para novas rodovias. Com o aumento da demanda por ônibus a GNV, também é possível realizar estudos de viabilidade para levar a infraestrutura de gás às proximidades das garagens, no caso de municípios onde a rede principal está mais distante destes pontos. Se estamos pensando em frotas mais sustentáveis, é preciso avaliar as redes para abastecimento dos veículos, se há condições para hubs no caso dos elétricos, para que o abastecimento seja feito de forma segura, sem sobrecarregar o sistema local, mas também sem o uso de geradores a diesel nas garagens. Desta forma, não estaríamos promovendo um transporte mais sustentável, como seria o objetivo da conversão da frota. Nesse sentido, acredito que por estar mais desenvolvida, a indústria do gás tem vantagens em termos de pronta implantação, enquanto as demais fontes energéticas avançam para a substituição gradual por energias mais limpas. Outro ponto que deve ser considerado uma vantagem dos ônibus a gás em relação aos elétricos é o investimento nos veículos. Hoje, o valor de um ônibus a gás é pouco superior ao valor do ônibus a diesel e muito inferior custo do elétrico. Esta diferença no investimento ainda pode ser compensada na economia do GNV em relação ao diesel, que é superior a 20%. Na questão do custo, é preciso considerar também que os ônibus elétricos dependem de uma bateria que, mesmo as mais modernas, tem vida útil entre cinco e oito anos, com um elevado custo de reposição.
TECHNIBUS – A senhora acredita que o projeto RJ Mobilidade Sustentável pode alavancar o uso de gás natural no transporte público do estado? O projeto pode ser replicado em outros estados?
Giselia Pontes – O projeto RJ Mobilidade Sustentável, a meu ver, é o pontapé inicial para adaptação da frota de ônibus do estado do Rio. De início, o GNV começou a ser utilizado em duas linhas intermunicipais, mas nossa expectativa é que seja comprovada a viabilidade técnica e econômica da adaptação da frota, para expansão do projeto ainda este ano. Se considerarmos apenas os ônibus intermunicipais, estamos falando de cerca de 6 mil veículos. Somente na capital, temos 4 mil ônibus em operação as linhas municipais. Acreditamos que este projeto pode e deve ser replicado, não só por outros estados, mas também pelos municípios. Desta forma, estamos utilizando um combustível mais econômico e sustentável no transporte. Inicialmente, os ônibus do projeto RJ Mobilidade Sustentável estão sendo abastecidos em postos, pois ainda não existem garagens abastecidas com GNV. Mas isto é totalmente possível e acredito que, com o sucesso do projeto e futura compra de mais ônibus movidos a GNV para circulação diária nas linhas municipais ou intermunicipais, a Naturgy poderá abastecer garagens que já estejam sobre a rede de gás ou ainda levar infraestrutura de rede até as mais distantes.
TECHNIBUS – Para os veículos pesados, qual a importância de iniciativas como a dos Corredores Sustentáveis?
Giselia Pontes – Coordenada pela secretaria de estado de energia e economia do mar, a iniciativa pioneira permite que caminhões e ônibus abasteçam com GNV e trafeguem entre os estados da região sudeste, emitindo menos gases poluentes e de efeito estufa e, também, gerando menos poluição sonora. O primeiro corredor foi implantado na Dutra e a rodovia Washington Luís também já conta com postos adaptados. Atualmente, já são 11 postos nas duas rodovias. Em um posto não adaptado, um veículo pesado precisa ficar parado, de 45 a 50 minutos, para o abastecimento completo com gás natural. Nos postos adaptados, esse tempo cai para 15 minutos. Com isso, oferecemos infraestrutura para que as empresas possam optar por veículos pesados que circulam com um combustível mais econômico e sustentável.
TECHNIBUS – Quais as principais ações e investimentos da Naturgy para ampliar o uso de gás natural no transporte de passageiros e de cargas?
Giselia Pontes – A Naturgy acaba de anunciar investimentos na ordem de R$ 300 milhões em infraestrutura para atender ao projeto dos Corredores Sustentáveis. O objetivo é aumentar a capilaridade do projeto Corredor Sustentável, promovendo o uso do gás natural em veículos pesados em substituição ao diesel, em alinhamento a políticas e iniciativas de descarbonização das frotas, possibilitando uma matriz energética do transporte mais limpa. A expectativa é que outras rodovias que ligam o Rio de Janeiro aos estados de São Paulo (BR 101 / Rio – Santos), Minas Gerais (BR 040) e Espírito Santo (BR 101 / Rio – Vitória) também tenham novos postos adaptados. Está no planejamento ainda o abastecimento de rodovias estaduais com grande circulação de caminhões, como RJ 104, RJ 106, RJ 124, entre outras. Sabemos que existem mais de 1.000 caminhões movidos a GNV circulando nas rodovias que interligam os estados do Sudeste diariamente. Para que este número continue aumentando, é preciso investir em infraestrutura de abastecimento e, neste sentido, a Naturgy está desempenhando um papel fundamental. Existem mais de 100 postos de combustíveis nestas rodovias. No nosso mapeamento inicial, identificamos que mais de 30 postos já teriam as condições mínimas para abastecimento de veículos pesados. Entre as características para atender aos veículos pesados, os estabelecimentos precisam contar com área de manobra e testeira com altura mínima de seis metros. Além disso, é necessário adaptar o sistema para alta vazão ou investir em novo sistema de abastecimento. Postos que não ainda não abastecem a GNV podem solicitar análise de viabilidade para ligação no site da Naturgy.
TECHNIBUS – Quais as principais dificuldades para ampliar o uso de gás natural no transporte?
Giselia Pontes – Os ônibus e caminhões a gás já são fabricados no Brasil, principalmente no estado de São Paulo. Atualmente, nossos veículos já são até exportados para outros países, como a Colômbia, por exemplo. No caso do Rio de Janeiro, onde a Naturgy atua, não há dificuldades em relação à infraestrutura de gás para a implantação do GNV nos transportes. Acreditamos que para que isto se torne realidade, é preciso a criação de políticas públicas de incentivo para que os ônibus e caminhões a gás sejam priorizados. Acreditamos que o governo do estado do Rio deu um ponta pé nesse processo e temos certeza que a conversão será considerada nas próximas licitações para compra de veículos. Estamos otimistas e acreditamos que o Rio será protagonista nesse processo que pode e deve ser replicado em todo o país.
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