Mulheres conquistam seu espaço como motoristas de ônibus

A Mercedes-Benz reuniu motoristas de ônibus e caminhões na fábrica de São Bernardo para comemorar cinco anos do projeto a Voz Delas. A Technibus conversou com essas profissionais e traz um pouco de suas histórias, conquistas e dificuldades

Sonia Moraes

Em comemoração ao mês da mulher e aos cinco anos do projeto a Voz Delas, a Mercedes-Benz realizou um encontro com as motoristas de ônibus e de caminhão na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). As profissionais comemoram o avanço conquistado com as várias ações, campanhas e parcerias realizadas ao longo deste período.

Segundo a Mercedes-Benz, mais de mil usuários estão acompanhando atualizações no site do movimento. A empresa destaca também melhoria de infraestrutura em postos de combustível para receber profissionais mulheres, uma das maiores dificuldades enfrentadas por essas profissionais.

Atualmente, mais de 30 mulheres estão realizando o sonho da CNH profissional por meio da Promoção “Na Direção dos seus sonhos”. E mais de 60 empresas parceiras estão somando forças para a transformação no cenário do transporte para a mulher.

Conheça um pouco da história dessas mulheres que atuam como motoristas de ônibus, suas conquistas e os obstáculos que elas enfrentaram – e ainda enfrentam – para realizar o sonho de ingressar nesta profissão:

Dayane Luiz Rodrigues da Silva, instrutora de motorista do Grupo Belarmino

Technibus – Há quantos anos você trabalha como motorista?

Dayane – Tenho 14 anos de profissão e a maior parte dirigindo ônibus. Trabalhei como motorista de ônibus urbano, fretamento, turismo e rodoviário. Fiquei cinco meses dirigindo caminhão. A última empresa em que trabalhava no transporte rodoviário foi a Viação Santa Cruz, fazia a rota São Paulo e Sul de Minas. No fretamento, prestava serviço para uma empresa de medicamento e turismo, e fiz até viagens internacionais para o Paraguai e a Argentina. Agora fui promovida para ser instrutora de motorista. Decidi ser motorista desde pequena, hoje tenho 38 anos e o meu sonho era ser motorista de rodoviário, Ao longo do tempo, fui me preparando para isso.

Technibus – Qual foi o maior desafio naquela época?

Dayane – A falta de estrutura é o maior desafio. Isso dificulta a entrada de mais mulheres no mercado. No serviço rodoviário, de turismo e o fretamento esse era e ainda é o maior vilão para a mulher.

Technibus – Como estão as condições hoje para a mulher no transporte rodoviário?

Dayane – Hoje está melhor, tem mais segurança, rede mais especializada e com as parcerias, é possível ter estacionamento e tomar banho com mais tranquilidade.

Technibus – Quando você começou a dirigir os ônibus eram bem diferentes. Como você vê essa evolução?

Dayane – Já dirigi ônibus sem ar-condicionado, e acho que essas melhorias nos veículos, ajudaram muito, principalmente a mulher. Não temos a força bruta do homem, portanto precisamos de mais conforto e de acessórios, que ajudam bastante o nosso trabalho. Ainda temos a tecnologia, que ajuda nas frenagens e aceleração, facilitando no dia a dia. É maravilhosa essa evolução dos ônibus. Além de trazer mais segurança, proporciona mais conforto para os passageiros e para o condutor. Apesar de eu gostar dos ônibus antigos, acho a evolução muito importante.

Technibus – Como você começou a sua carreira de motorista?

Dayane – A primeira empresa que eu trabalhei foi a Viação Imigrantes, no serviço urbano, depois essa empresa passou a se chamar MobiBrasil. O trajeto era na região de Diadema e depois São Paulo no Jardim Miriam e Itaim. Fiquei seis anos no urbano, depois fui para o fretamento e turismo porque para chegar ao rodoviário tinha que ter experiência com viagens. Fazia o fretado durante a semana e o turismo no fim de semana para poder chegar ao rodoviário.

Technibus – Quando você começou como motorista de ônibus urbano?

Dayane – Comecei em 2014, e fiquei seis anos, depois trabalhei no fretamento e turismo por dois anos e meio na Jangada – fui a primeira mulher a dirigir um ônibus grande na empresa. A minha chegada na Jangada foi para me preparar para o rodoviário. Como eles tinham que fazer cortes de funcionários pedi para sair. Em 2018, comecei na Santa Cruz, e sai no ano passado. Hoje, sou instrutora no Grupo Belarmino que tem 29 garagens e eu fico em Campinas (SP). Estou lá há 15 dias. Faço o treinamento para as mulheres e os homens e o foco é a direção segura para o condutor e para o passageiro. A economia de combustível também é um ponto importante atualmente.

Katia dos Santos, motorista de ônibus

Technibus – Quando você começou a trabalhar como motorista?

Katia dos Santos Comecei com 24 anos na CooperPam (Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos em Transporte de São Paulo), que foi sucedida em 2015 pela Transwolff. Comecei nesta empresa como manobrista sem ganhar nada, depois passei a cobradora até ser motorista. Fiquei quatro anos na cooperativa e depois fui para a Transtuba onde trabalhei dez anos. Depois que o meu filho nasceu, saí da Transtuba e hoje faço freelancer, como motorista no urbano, dirijo também caminhão, veículo escolar e quando não tem trabalho, faço Uber. No fretamento, só trabalho com viagens prestando serviço para as empresas.

Technibus – Como eram os ônibus quando você começou a trabalhar como motorista?

Katia dos Santos Quando comecei com 24 anos os ônibus eram antigos com motor dianteiro, faziam muito barulho e era raro ter ar-condicionado, então o calor era terrível. Graças a Deus foi modificando ficando bom e hoje os ônibus têm motor traseiro. Na época fazia a linha Jardim Guarujá, Guarani, era uma linha longa de três horas de percurso passava pela Berrini e ônibus sem ar condicionado.

Technibus – Quais foram as dificuldades no passado?

Katia dos Santos Uma das maiores dificuldades quando comecei era o preconceito. Eu cheguei a ver gente a descendo do ônibus porque o motorista era uma mulher. Mas quando você faz direto aquele percurso no mesmo horário as pessoas foram acostumando e entendendo que se você está ali e porque é qualificada. Hoje as pessoas entendem que a mulher pode exercer qualquer função. A gente faz muito bem aquilo que a gente quer. Acho muito legal isso.

Technibus – Como está a situação hoje?

Katia dos Santos Agora melhorou bastante as empresas estão dando muitas oportunidades para as mulheres. Quando comecei não tinha nada disso. Não tinha banheiro, quem era do rodoviário não tinha alojamento, as vezes a gente precisa dormir e não tinha alojamento. As empresas estão dando mais oportunidades e visando isso. As empresas que estão entendendo que a mulher precisa ter um espaço também. Hoje tem alojamento, banheiro, os profissionais respeitam mais a mulher. Havia muito comentário que a mulher tinha que pilotar fogão. Hoje é mais raro isso. Fico muito orgulhosa de saber que a mulher está evoluindo.

Technibus – Hoje você só trabalha como free lancer?

Katia dos Santos Sim. Faço a linha Macedônia e terminal Campo Limpo, na região do Capão Redondo porque moro no Embu das Artes. Trabalho em qualquer horário. As empresas pedem também para fazer viagens de fretamento.

Technibus – Você pretende voltar a trabalhar como motorista?

Katia dos Santos Sim.  Esse ano faço 41 anos e pretendo ter um trabalho fixo como motorista de ônibus e estou enviando currículos. Sempre tive um sonho de ser motorista porque o meu pai e a minha mãe eram da CMTC e sempre acompanhei o dia a dia deles e a minha vida sempre esteve ligada ao ônibus.

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