Technibus – Como tem sido 2021 para o mercado de ônibus?
Paulo Arabian – O ano foi bastante diferente do que havia sido planejado. No final de 2020, havia a expectativa de que a crise sanitária estava arrefecendo e de que o mercado começaria a se normalizar. Entretanto, em março e abril, tivemos a chamada terceira onda da Covid-19 e o mercado se deprimiu novamente. Com exceção do programa Caminho da Escola, segmento em que a Volvo não atua, que esteve mais aquecido, houve um ‘banho de água fria’ nas projeções de mercado. A performance da Volvo foi a que menos caiu entre as fabricantes de modelos ônibus pesados, de seis cilindros e acima de 17 toneladas. Conseguimos permanecer nos mesmos patamares do ano passado, de janeiro a maio, o que é um bom indício para a Volvo. Em 2020, os meses de janeiro e fevereiro apresentaram bons resultados no setor de ônibus, em geral. A queda ocorreu a partir de março, com a pandemia. Já em 2021, não tivemos a melhora esperada nos cinco primeiros meses do ano, por isso, o fato de estarmos nos mantendo nos mesmos níveis do ano passado é positivo. Estamos melhores que em 2020.
Technibus – O mercado de fretamento é o maior destaque neste momento?
Paulo Arabian – O segmento de fretamento se mostra com o maior potencial no mercado. A Volvo foi a marca que mais cresceu nos modelos com seis cilindros e motor dianteiro. Este segmento teve incremento de 121% até maio, em geral, enquanto a Volvo apresentou expansão de 305% com a venda de 93 chassis. Ampliamos nosso market share. É o segmento mais sustentável e ativo, no momento, com maior apetite do mercado.
Technibus – O fretamento deve continuar a crescer?
Paulo Arabian – Acredito que com o avanço do processo de vacinação, a necessidade de distanciamento social – que tem beneficiado o segmento – deve cair. Mas, outros fatores devem continuar a impulsionar esse mercado. A valorização do dólar frente ao real favorece as exportações de commodities e mantém os segmentos de mineração, celulose e papel, proteína animal, e agronegócio (principalmente açúcar e soja) bastante aquecidos, com contratação de trabalhadores e novos turnos de trabalho. Isso deve persistir ao longo deste ano e no início de 2022. O câmbio deve continua a favorecer alguns setores, que puxam toda a cadeia de negócios, inclusive o transporte. Esses segmentos precisam de ônibus para transportar os trabalhadores, o que se reflete positivamente no fretamento.
Technibus – E no segmento de rodoviários?
Paulo Arabian – No que se refere ao turismo, realmente há um viés de melhora. Mesmo porque o setor caiu a patamares muito baixos. As perspectivas são positivas, mas dependem de alguns fatores, principalmente do arrefecimento da questão sanitária, que deve ocorrer com o avanço da vacinação. O dólar alto frente ao real e as barreiras sanitárias de outros países podem favorecer o turismo nacional, principalmente em virtude da demanda reprimida causada pela pandemia. A tendência é que as pessoas queiram visitar familiares e amigos em outras cidades, depois de um período sem poder fazê-lo. Quando houver uma maior movimentação de todo o ecossistema de turismo, incluindo o transporte aéreo, o mercado de ônibus será favorecido. A retomada das viagens aéreas também favorece o transporte rodoviário que atua na complementação do modal aéreo. Outro fator é o próprio verão, que começará em um momento em que a vacinação já estará bem adiantada. Mas, isso deve demorar um pouco a impactar as vendas.
No transporte rodoviário regular, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) continua a fazer a redistribuição da linhas, com a criação de novas rotas e sobreposição de trechos, para aumentar a competitividade do setor. As empresas irão investir em ônibus para cumprimento de contratos e em virtude da concorrência. Em 2018 e 2019, houve uma ampla recomposição de frota neste segmento, mas em 2022 as empresas devem voltar a comprar, pois existem regras quanto à idade média da frota.
Technibus – E o segmento de urbanos? Como a crise no transporte público impacta o mercado?
Paulo Arabian – O transporte coletivo urbano enfrenta um momento muito delicado. Os custos operacionais superam a arrecadação. A pandemia afetou fortemente as empresas, que registraram queda de demanda, mas tiveram que manter o serviço. Com a crise, algumas cidades flexibilizaram as exigências da idade média da frota para proporcionar algum alívio aos operadores, que enfrentam dificuldades em obter financiamento e possuem endividamento alto. Muitos sistemas de transporte estão deteriorados, outros nem tanto. A tendência é de que as pessoas voltem ao transporte público com a melhora da questão sanitária. No Brasil, boa parte da população não pode trabalhar em home office e não tem condições de investir na compra de automóveis ou outras formas de transporte individual. Portanto, o transporte público é essencial. Com a recuperação do caixa e da receita, as empresas voltam a investir na renovação de frota, por exigências contratuais ou para oferecer um serviço melhor e reconquistar o passageiro.
Os novos eixos de BRT continuaram a ser implantados. Podem haver atrasos devido à pandemia, mas os projetos continuam, e as empresas também precisam investir em frota. Temos eixos importantes como Belém (PA), Curitiba (PR), Campinas e Sorocaba (SP), Salvador (BA).
Technibus – Quais as expectativas da Volvo para os próximos meses?
Paulo Arabian – Esperamos crescer em todos os segmentos que atuamos. Quando comparamos nossos resultados de 2020 (janeiro a maio) com 2021, observamos que tivemos uma melhora. Isso é um ótimo indício. É claro que depende de como cada segmento vai se comportar. No fretamento, acredito que vamos manter o ritmo de vendas. No urbano, esperamos maior crescimento no segmento pesado, para BRT, com veículos articulados, biarticulados e padron. No rodoviário, o turismo ainda deve ter uma retomada mais lenta, devido aos fatores que citamos. Agora, no rodoviário regular, é mais difícil fazer previsões. Um grande frotista pode decidir fazer uma renovação ampla de frota e alterar completamente os resultados.
Um fator que irá beneficiar o mercado, em geral, no próximo ano, é a chegada do Euro 6 em 2023. É esperado que os operadores renovem suas frotas no anterior da mudança, como já ocorreu anteriormente. O ano de 2021 tem sido desafiador, mas também promissor. O importante é que o pior da crise que castigou o mercado de ônibus já ficou para trás.