O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) decidiu apoiar o setor de transporte coletivo urbano e se tornou o maior financiador de ônibus da América Latina. Até agora, já financiou quase R$ 5 bilhões em ônibus elétricos e modelos Euro 6, conforme revelou Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES, durante o 10º Fórum CNT de Debates.
No painel “Brasil e a Transição Energética no Transporte”, foram discutidas políticas públicas, metas climáticas e papel estratégico do transporte no cumprimento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) das empresas brasileiras, como prevê o acordo de Paris. “A gente entende que o país tem que focar no equilíbrio fiscal, então o subsídio é restrito e limitado, mas entendemos que alguns setores, como reflorestamento e ônibus elétricos, são os que precisam de um apoio com subsídio para o Brasil escalar as soluções de descarbonização desses setores e substituir a frota”, destacou a diretora do BNDES.
Atualmente, o BNDES tem R$ 45 bilhões em sua carteira de transporte e mobilidade urbana. “Desde que o BNDES começou a subsidiar trem, BRT, VLT, já financiou quase R$ 70 bilhões, tendo mais de 260 quilômetros de metrô do Brasil financiados por este banco. Muita coisa foi feita, mas entendemos ser preciso fazer mais”, disse Costa.
Em suas operações, o BNDES tem o recurso do Fundo Clima para ônibus elétricos. “O banco não financia ônibus Euro 6 ou qualquer veículo a diesel com linha subsidiada. Se a renovação de frota é feita com modelo a diesel, não precisa de subsídio, mas precisa de financiamento porque o dinheiro mais caro é o que não tem”, afirmou.
A diretora ressaltou que o BNDES busca criar soluções, porque a transição energética é uma transição e não implica em ruptura. “Em alguns casos, a eletrificação de frota faz sentido, em outros é preciso simplesmente substituir por veículos à combustão mais novos e mais eficientes. Só que as soluções financeiras são diferentes.”
Em sua apresentação, a diretora pontuou que as linhas de crédito do BNDES são mais longas do que a média do mercado e o desafio do banco é melhorar a governança em alguns setores. “O BNDES não financiava ônibus elétricos porque tinha muita dificuldade com a governança do setor”, revelou.
Como solução, o BNDES promove um debate construtivo com os operadores e os que começam a ser financiados, o banco vai cobrar melhores práticas de governança. “As melhores práticas de governança reduzem o risco para o banco e para a empresa e fazem com que a empresa cresça mais, seja mais saudável. Então, a transparência é boa para todos”, disse a executiva e ressaltou: “A boa notícia é que o BNDES não financiava ônibus, começa a financiar e imediatamente se torna o maior financiador da indústria e não somente no Brasil, mas na América Latina inteira.”
A diretora do BNDES comentou que no último debate promovido pela CNT se discutiu o transporte individual versus transporte coletivo. “Compartilho da opinião de que o grande vilão é o transporte individual. Temos que lutar para colocar mais passageiros no ônibus, no metrô e precisamos melhorar a qualidade desses modais, para o passageiro ter estímulo de ir para o transporte coletivo.”
Individual x coletivo
A executiva lembrou que, desde a pandemia da Covid, o grande problema para o setor de ônibus foi a perda de passageiros. “Hoje, 70% das emissões do transporte vêm do transporte individual que leva somente 30% dos passageiros. Então, o grande vilão é o automóvel. E o que a gente, como sociedade, discute é que quem usa o automóvel tem que pagar para quem usa transporte coletivo, porque quem está usando o automóvel deixa uma pegada muito maior de carbono. Portanto, é uma externalidade negativa, é uma conta transferida para a sociedade pagar.”
Na avaliação da diretora, é preciso ter uma forma de travar esse debate e questionou: “Qual prefeito vai conseguir colocar o pedágio urbano? Ao olhar o dado de carbono, seria justa a cobrança, mas é extremamente impopular”.
A diretora do BNDES ressaltou que não acredita em uma única rota tecnológica. “Acredito na eletrificação em alguns casos, no biocombustível em outros, e na renovação de frota dos veículos à diesel. Isso não só no transporte de passageiros e no transporte de carga, mas também no transporte marítimo e no transporte aéreo. Por que o setor de transporte mundialmente é responsável por mais ou menos 25% das emissões, então é um setor que emite muito poluente.”
A executiva acrescentou que não se deve impor grandes penalidades no setor de transporte, apesar de 18% das emissões virem do setor de energia e mais ou menos metade disso vir de transporte. O transporte não emite muito porque 50% das emissões é proveniente do desmatamento, 22% é o uso da terra, então até na discussão setorial, eu acho que a gente tem que ser muito cauteloso porque tudo precisa de transporte, encarecer o transporte é gerar inflação. Então, acho que aqui temos que focar em reduzir carbono não econômico, enquanto a gente escala outras tecnologias, como a eletrificação, por exemplo.”
Ela ressaltou que nunca foi a favor de eletrificar rapidamente a frota de veículos leves e questionou: “Por que a sociedade brasileira precisa pagar esse custo se já tinha uma frota que rodava com biocombustível?”. Segundo Costa, o carbono mais ineficiente, mais fácil de abater, é um carbono do desmatamento que é não econômico.
A executiva ressaltou que o BNDES vai estar sempre de portas abertas. “A gente reconhece que precisa continuar avançando na agenda. Na Plataforma de Investimentos do Brasil (BIP) um dos verticais é a mobilidade. É transporte e mobilidade urbana, porque a gente entende que aí tem sim grandes projetos que vão contribuir para a descarbonização do Brasil”.
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