São Paulo amplia frota elétrica e debate futuro da eletromobilidade

Seminário abordou os principais desafios da adoção de veículos elétricos no transporte público, incluindo a implantação da infraestrutura de carregamento, o planejamento da frota e a criação de um modelo de financiamento

Alexandre Asquini

Nos primeiros dias da primavera, os ônibus elétricos ganharam destaque na cidade de São Paulo. Na terça-feira (23), a prefeitura da capital, a C40 Cities — rede global de grandes cidades contra as mudanças climáticas — e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) promoveram no Memorial da América Latina um seminário dedicado à eletromobilidade urbana e à transição energética.

Um dia antes, o prefeito Ricardo Nunes havia comandado na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, a entrega de 120 novos veículos de diferentes fabricantes, elevando a frota elétrica paulistana para 961 ônibus, dos quais 760 são movidos a baterias e 201 são trólebus abastecidos por meio de rede aérea.

Com sete painéis, o seminário abordou os principais desafios da adoção de veículos elétricos no transporte público, incluindo a implantação da infraestrutura de carregamento, o planejamento da frota e a criação de um modelo de financiamento eficiente e viável, com participação de bancos de fomento nacionais e internacionais, além de instituições financeiras comerciais.

Durante a abertura, o secretário nacional de mobilidade urbana do ministério das cidades, Denis Andia, destacou o papel de São Paulo como referência internacional na eletrificação do transporte coletivo. Segundo ele, as iniciativas da capital têm inspirado municípios brasileiros e contribuído para sensibilizar gestores em diferentes regiões sobre a importância da transição energética. Andia lembrou ainda que nem todos os desafios enfrentados pela metrópole se repetem em cidades menores, mas a experiência paulistana fornece exemplos aplicáveis em todo o país.

O encontro também trouxe sessões específicas sobre mobilidade elétrica de menor porte — bicicletas, patinetes e motocicletas — e sobre segurança em edificações que devem se adaptar a essa nova realidade. Na área externa, o público pôde conferir uma exposição com ônibus elétricos e triciclos de carga leve já disponíveis no mercado brasileiro, reforçando o caráter prático e inovador das discussões.

Modelo financeiro paulistano

Um dos principais entraves para a transição da frota de ônibus para modelos elétricos é a diferença de preço em relação aos veículos a diesel. Enquanto um coletivo movido a diesel custa cerca de R$ 700 mil, o elétrico chega a R$ 2,4 milhões. A questão central é: quem paga essa diferença?

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, explicou que a prefeitura desenvolveu um modelo econômico-financeiro capaz de viabilizar o processo. A estratégia se apoia na boa saúde fiscal do município, que obteve classificação triple A pela agência de risco Fitch, o que abriu espaço para captação de recursos em condições favoráveis. Com isso, a gestão conseguiu levantar R$ 6,6 bilhões para a renovação da frota.

Pelo modelo, as empresas concessionárias de transporte continuam pagando o valor equivalente ao de um ônibus a diesel. Já a prefeitura cobre a diferença de preço com recursos obtidos via financiamento, que são amortizados ao longo dos contratos. Assim, a troca de frota não recai integralmente sobre os operadores, mas se sustenta em um arranjo que distribui o custo e garante previsibilidade.

Segundo Nunes, o mecanismo só faz sentido porque a operação do ônibus elétrico é muito mais barata. Hoje, um veículo a diesel consome em média R$ 25 mil por mês em combustível, enquanto o elétrico percorre o mesmo trajeto gastando cerca de R$ 5 mil. A economia de R$ 20 mil mensais representa R$ 240 mil por ano e, ao longo de uma década, chega a R$ 2,4 milhões — valor suficiente para compensar o investimento inicial mais elevado, considerando ainda que a vida útil do ônibus elétrico é de 15 anos.

Além da redução de custos com combustível, o modelo traz ganhos adicionais: menor despesa com manutenção, impacto positivo na saúde pública pela diminuição da poluição e melhoria das condições de trabalho dos motoristas, que deixam de conviver diariamente com o barulho e a vibração dos veículos a diesel.

Para o prefeito, a experiência paulistana mostra que a eletrificação da frota não pode se basear apenas em discursos ambientais, mas exige estrutura financeira sólida. “Se não houver um caminho para equacionar isso, não sai do lugar. São Paulo já mostrou que é possível transformar essa ideia em realidade”, afirmou.

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