Avanços na mobilidade ao biometano: o que falta para decolar?

No 12º Fórum do Biogás, autoridades e profissionais do setor de transporte abordaram temas como infraestrutura, corredores verdes e financiamento para a ampliação do uso do biometano

Marcia Pinna

O biometano tem se tornado foco das discussões sobre a descarbonização do transporte coletivo, principalmente em face às dificuldades que os municípios brasileiros enfrentam para ampliar a frota de ônibus elétricos. Apesar de algumas iniciativas que começam a surgir no país, o combustível ainda não avançou de forma significativa no setor.

Assim, o tema do painel realizado no dia 3 de setembro, durante o 12º Fórum do Biogás, não poderia ser mais estimulante: “Avanços na mobilidade ao biometano: o que falta para decolar?”. Para Gustavo Bonini, diretor institucional Scania, o biometano “já decolou”, sendo necessário agora a integração entre o poder público e as empresas privadas que fazem parte desse ecossistema.

“A tecnologia está pronta, inclusive exportamos para diversos países da América Latina. Para a Colômbia, foram de 2 mil a 2,5 mil ônibus a biometano nos últimos anos. É importante trabalhar para ampliar os corredores verdes (com postos de abastecimento de GNV/biometano) e também oferecer incentivos, como descontos em pedágios aos veículos que adotarem a tecnologia, por exemplo. A Scania está pronta para entregar os veículos ao mercado”, afirmou.

Para o executivo, o cenário atual é muito positivo para o biometano. “A gente está com uma realidade totalmente diferente, o que é muito positivo, de quando a gente começou a fabricar esses veículos aqui na nossa planta de Bernardo do Campo (SP), em 2018. Naquela época, a gente já via o potencial, e vemos hoje que estávamos certos em acreditar na vocação que o nosso país tem para o uso do biometano”.

Um dos destaques do 12º Fórum do Biogás foi a assinatura do decreto municipal pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, estabelecendo diretrizes para ampliar o uso do biometano na frota de ônibus da cidade. José Renato Nalin, secretário-executivo de mudanças climáticas de São Paulo, destacou o impacto das emissões em decorrência o trânsito na saúde da população. “Esses efeitos negativos se refletem diretamente na produtividade do país”.

“Em São Paulo, 61% das emissões vêm do trânsito, por isso o foco na renovação da frota. Todas as tecnologias são bem-vindas. A eletrificação vem enfrentando problemas com a infraestrutura, e a prefeitura quer utilizar a verba de R$ 6 bilhões, que era destinada apenas aos ônibus elétricos, também para o uso do biometano”, comentou.

Na opinião de Thiago Brito, supervisor de novos negócios da MWM, que tem um programa transformação veicular para veículos usados e novos (caminhões), é necessário informar a população sobre os danos causados pelos gases poluentes à saúde. Quanto às vantagens do biogás, Brito lembrou que o fato deque os motores a GNV/biometano são muito similares aos a diesel, o que facilita a transição energética.

Integração

Cloves Benevides, subsecretário de sustentabilidade do ministério dos transportes, enfatizou que o ministério está comprometido com o tema do biogás, tanto do ponto de vista da infraestrutura quanto do regulatório e tarifário. Ele considera a possibilidade de desconto nos pedágios para veículos a biometano muito interessante e efetiva. “O plano Nacional de Logística também vai considerar as rotas possíveis do biometano, que precisam ser atrativas e integradas. A questão logística é fundamental”, avaliou.

Diego Gagnotto, gerente-executivo de gases renováveis da Ultragaz, ressaltou o enorme potencial de produção do biometano no Brasil, principalmente em São Paulo. “Acho que a segurança energética precisa ser garantida, e isso ocorre com parcerias bem estruturadas entre poder público, fornecedores, distribuidores e concessionárias, garantido a qualidade do biogás que chega ao cliente. O processo precisa ser totalmente monitorado”, disse.

Bruno Dalcolmo, diretor institucional e regulatório ‍da Comgás, que foi o moderador do painel, afirmou a importância de que as políticas públicas e as oportunidades de negócios se encontrem. “Todas as tecnologias são bem-vindas para termos impactos reais na descarbonização”, acredita.

Além dos ganhos ambientais e na saúde da população, Vanessa Pilz, diretora de negócios e ESG, da operadora logística Reiter Log, abordou a questão econômica e a necessidade de financiamentos para alavancar o biometano e outros combustíveis “limpos”. “Não existe empresa ‘verde’, no vermelho”, alertou.

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