O estado de São Paulo possui potencial técnico e econômico para se tornar referência nacional e latino-americana na produção e uso de biometano como combustível renovável, especialmente para a substituição do diesel em setores de uso intensivo, como a indústria pesada, o transporte público urbano, o transporte rodoviário de passageiros e as operações logísticas.
Esta é uma das principais conclusões do relatório técnico “O Biometano em São Paulo: Potencial e Medidas para Alavancar a Produção”, apresentado nesta quinta-feira (28), durante workshop realizado no Salão Nobre da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), na capital paulista. Acesse o relatório completo e o sumário executivo.
A iniciativa foi liderada pelo departamento de infraestrutura da Fiesp (Deinfra), com apoio de associações empresariais e industriais como a ABiogás, Abividro, Abrema, Unica, Anfacer e Aspacer, além da Scania Brasil. A elaboração do estudo ficou a cargo do consórcio formado pelas organizações especializadas Instituto 17, PSR e Amplum Biogás.
Ênfase nas aplicações industriais
O relatório atraiu interesse de empresas e especialistas envolvidos com cadeias industriais de uso intensivo de diesel, como os setores de cerâmica, vidro, cimento, açúcar e álcool, nos quais o combustível fóssil ainda é predominante em processos produtivos e no transporte de insumos e mercadorias. Essas operações tipicamente industriais tiveram maior realce nos debates havidos no workshop e figuram entre as prioridades na agenda de transição energética proposta pelo estudo.
A análise indica que, com a articulação entre governo e iniciativa privada e a formulação de marcos regulatórios adequados, o biometano poderá substituir o diesel fóssil em aplicações industriais, promovendo descarbonização, competitividade e ganhos econômicos no médio e longo prazos.
Transporte e logística
Além do setor industrial, o relatório reforça que o biometano também pode ocupar papel significativo para os segmentos de transporte pesado, frotas urbanas, logística rodoviária e até em operações agrícolas mecanizadas, consolidando-se como alternativa viável ao diesel em múltiplas frentes.
Com um potencial de produção estimado em 6,4 milhões de metros cúbicos por dia, o biometano paulista poderia suprir de 40% a 50% do mercado de distribuição de gás natural canalizado do Estado. Isso permitiria não apenas abastecer a demanda industrial, mas também alimentar programas de substituição de diesel em frotas de caminhões e ônibus — públicos e privados — com impactos diretos na redução de emissões de gases de efeito estufa, melhoria da qualidade do ar e avanço da mobilidade sustentável.
O relatório propõe, entre as ações de curto prazo, a criação de corredores logísticos sustentáveis abastecidos com biometano e a isenção do IPVA (atualmente a alíquota é de 1,5%) para caminhões movidos a gás natural e biometano, como forma de estimular a renovação da frota e viabilizar economicamente o modelo.
Fatores críticos
Um dos principais entraves à expansão do biometano é a falta de infraestrutura logística adequada para a coleta, processamento, transporte e distribuição do combustível renovável. O estudo técnico destaca que, diferentemente do gás natural convencional, o biometano é produzido de forma descentralizada, a partir de resíduos orgânicos em diferentes regiões, muitas vezes distantes dos centros consumidores ou das redes de gasodutos existentes.
Para superar esse desafio, o relatório propõe a estruturação de um programa de polos regionais de produção e oferta de biometano, com base em critérios técnicos e territoriais que considerem a concentração de biomassa residual (em especial da indústria sucroenergética e de aterros sanitários), a proximidade com centros industriais e logísticos, a possibilidade de escoamento por meio de modais viáveis (gás canalizado, GNC – gás natural comprimido ou GNL – gás natural liquefeito), além da viabilidade econômica da operação, incluindo custos de compressão, liquefação e transporte.
Esses polos funcionariam como hubs logísticos regionais, facilitando a conexão entre produtores e consumidores e permitindo o desenvolvimento de mercados locais e regionais de biometano. A proposta também inclui a adoção de uma nova lógica de planejamento da infraestrutura de gás no Estado, baseada em análise territorial, integração intermunicipal e articulação com políticas públicas de mobilidade, resíduos e energia.
A criação desses polos é considerada uma medida prioritária no curto prazo, por seu potencial de destravar projetos já viáveis tecnicamente, mas paralisados pela ausência de mecanismos de escoamento e comercialização.
Nova indústria verde, com empregos e inovação
A cadeia do biometano também é apontada como motor de desenvolvimento de uma nova indústria verde no Estado, com potencial de gerar até 20 mil empregos diretos e indiretos, estimular o investimento em equipamentos e serviços especializados, fomentar a inovação tecnológica e atrair financiamentos verdes, nacionais e internacionais.
A criação de um programa estadual estruturado de biometano, com base nas diretrizes propostas pelo relatório, pode posicionar São Paulo como líder na produção e uso desse combustível renovável no Brasil, em sinergia com políticas ambientais, industriais e energéticas.
Diretrizes estratégicas
Há quatro diretrizes estratégicas consignadas no estudo. Uma delas é aumentar a competitividade do biometano, por meio de incentivos e valorização de seus atributos ambientais. Outra, estabelece a busca da facilitação o escoamento da produção, com a implantação de polos regionais de oferta com infraestrutura adequada. Também está indicado o desenvolvimento da indústria local de equipamentos, tecnologias e serviços voltados ao biometano. E, por fim, o estimular à demanda, especialmente nos setores de transporte e em aplicações industriais intensivas.
Para que o biometano alcance seu pleno potencial em São Paulo, o relatório propõe um conjunto articulado de medidas e políticas públicas que combinam incentivos econômicos, regulações modernas e ações de planejamento territorial.
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