Produção de ônibus elétricos poderá atingir sete mil unidades por ano até 2039

A estimativa é da empresa de consultoria Barassa & Cruz Consulting, após a conclusão de estudo sobre as diretrizes e propostas para um plano nacional da cadeia de ônibus elétricos no Brasil

Sonia Moraes

A produção de ônibus elétricos no Brasil poderá evoluir de forma bem distinta, segundo Edgar Barassa, fundador da Barassa & Cruz Consulting e consultor independente contratado pelo escritório no Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). 

Do ponto de vista conservador, o consultor calcula que o volume de ônibus elétricos no Brasil saltará, na primeira fase, de mil unidades em 2024 para um pouco mais de três mil unidades até 2028. “Este crescimento gradual reflete um período de construção, adaptação e estabelecimento das bases produtivas e tecnológicas necessárias para a expansão da indústria de ônibus elétricos no Brasil.

A perspectiva mais conservadora nesse período pode ser atribuída aos desafios iniciais de implementação pelas cidades, ajustes de mercado e consolidação de políticas públicas de apoio. Nessa fase, observa-se ausência de maturidade em áreas críticas de manufatura, como a produção de ímãs e células de baterias no Brasil, que ainda não estão estabelecidas”, explica Barassa.

Na segunda fase, a visão de crescimento é mais otimista, com estimativa de um salto significativo da produção a partir de 2029, chegando a 5,5 mil unidades até 2034. “Esse aumento inclui veículos destinados tanto ao mercado nacional quanto às exportações”, afirma Barassa.

O consultor esclarece que diversos fatores contribuem para esse crescimento acelerado, como a maturação das tecnologias, a ampliação das plantas produtivas no Brasil e a infraestrutura de suporte, incentivos governamentais robustos e maior aceitação do mercado ou ampliação da difusão nas cidades. “A integração de políticas como a Nova Indústria Brasil (NIB) e o programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) correspondem a esse avanço, proporcionando suporte financeiro e regulatório. Nessa fase, é possível vislumbrar uma maturidade tecnológica e de manufatura maior para a fabricação de baterias no Brasil, refletindo diretamente no crescimento dos volumes de produção nacional”, comenta Barassa.

Na terceira fase, a previsão é de estabilidade da produção. Após o ciclo de crescimento acelerado, a partir de 2035 o setor atingirá um platô de estabilização com a produção de um pouco mais de sete mil unidades por ano até 2039. “Esta fase de estabilização sugere que o mercado atinja um equilíbrio entre oferta e demanda, com a capacidade produtiva ajustada às necessidades dos mercados doméstico e internacional. A estabilização pode ser vista como um reflexo da consolidação do setor, no qual a eficiência produtiva e a integração de novas tecnologias alcançam um ponto de maturidade. As atividades de manufatura e a produção de ímãs e células de baterias, desenvolvidas na segunda fase, continuam sendo aprimoradas”, diz Barassa.

A Barassa & Cruz Consulting concluiu em novembro do ano passado o estudo  “Diretrizes e propostas para um plano nacional da cadeia de ônibus elétricos no Brasil”. Este trabalho foi realizado em parceria técnica com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) e a Cepal, das Nações Unidas, com o apoio do Ministério Federal Alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ), por meio da Cooperação Técnica Alemã (GIZ).

O conjunto de ações propostas nesse estudo, segundo o consultor, visa criar um ecossistema robusto e integrado que suporte o crescimento sustentável da cadeia produtiva de ônibus elétricos no Brasil. “As diretrizes apresentadas figuram-se como passos fundamentais para a difusão da eletrificação no transporte público brasileiro. No entanto, é importante reconhecer que esta proposta de plano nacional para a cadeia produtiva de ônibus elétricos aborda somente uma parte desse setor e seus desafios ante a jornada de eletrificação do transporte público. Outros aspectos, como a previsibilidade da demanda, a flexibilidade para a adoção de novos modelos de negócio e o desenvolvimento da infraestrutura de recarga, também desempenham um papel fundamental no sucesso dessa transição”, afirma o consultor.

Nesse estudo, Barassa destaca que a adoção de uma forte estratégia de nacionalização da cadeia de ônibus elétricos no Brasil poderá gerar 280.318 novos empregos até 2030 e aumentar em 0,4 ponto percentual o Produto Interno Bruto (PIB) do país, o que representará um adicional anual médio de R$ 3,1 bilhões.

Chun Fotografia Edgar Barassa, consultor

Mais de cem participantes

Para a elaboração desse estudo, a Barassa & Cruz Consulting contou com mais de cem participantes, que representam cerca de 70 instituições que atuam no setor da eletromobilidade, como o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a Associação dos Engenheiros Automotivos (AEA), como também empresas do setor produtivo, bancos e instituições de financiamento, acadêmicos e especialistas, sociedade civil e autoridades do poder público.

As recomendações indicadas pelos participantes incluem meta de nacionalização de componentes, que podem elevar para 80% o índice de conteúdo local dos ônibus elétricos em até dez anos, fortalecendo a produção local e reduzindo a dependência de importações.

Existem ainda os incentivos fiscais para promover a nacionalização gradual de produtos inicialmente montados em Completely Knocked Down (CKD), além de oferecer condições de crédito favoráveis para atrair novas empresas ao Brasil, para estabelecer a produção local de componentes atualmente não fabricados.

Os participantes pedem também ação integrada para implementar um programa de fiscalização de emissões para veículos pesados, enquanto padroniza os critérios de fabricação e homologação de veículos elétricos. Esta ação deve utilizar o estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus) e da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) para garantir segurança e qualidade, além de revisar a Resolução Contran 749/2018 para atualizar as normas de segurança e homologação, alinhando-as aos avanços tecnológicos.

Outro item indicado se refere à capacitação de mão de obra qualificada, com o desenvolvimento de um programa de capacitação para aprimorar habilidades técnicas em todos os níveis da cadeia produtiva de ônibus elétricos. E a facilidade ao acesso a linhas de crédito específicas para a produção de componentes estratégicos (como ímãs), fortalecendo a capacidade produtiva nacional.

Há indicação de desenvolvimento de uma plataforma de exportação para garantir a produção em larga escala de componentes e ônibus elétricos e assegurar sua competitividade internacional por meio de benefícios específicos da Câmara Setorial com a Apex-Brasil para exportação. Incluir também ônibus elétricos e infraestrutura de recarga no programa Caminho da Escola, assegurando que ambos utilizem produtos desenvolvidos no Brasil. Pede-se também a criação de subvenções para empresas e projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) focados em componentes de ônibus elétricos, utilizando recursos de instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A reutilização de componentes e matéria-prima incentiva práticas de economia circular para reduzir o impacto ambiental e o desperdício na cadeia produtiva, assim como a criação de incentivos fiscais para apoiar a produção local de baterias, com foco em células, módulos e pacotes, promovendo a nacionalização progressiva ao longo de cinco, dez e 15 anos.

Está na pauta também o monitoramento de State of Health (SOH), tornando acessível o parâmetro do estado de saúde nas baterias para facilitar o gerenciamento do ciclo de vida das baterias em primeira vida (em até dez anos). A atualização de  P&D para promover a reciclagem de baterias, alinhando-se com as políticas públicas de sustentabilidade e economia circular (em até dez anos), a padronização de plugues e conectores para o padrão tipo 2/CCS2, alinhando-se ao estágio de maturidade tecnológica no Brasil.

Segundo o consultor, o processo de eletrificação do transporte coletivo se encontra em ampliação no mundo. Em 2023, o estoque mundial de ônibus elétricos a bateria era de 635 mil unidades, representando cerca de 3% da frota global. Em 2024, quase 50 mil ônibus elétricos foram vendidos em todo o mundo.

Na América Latina, também há um crescimento da introdução das tecnologias de ônibus elétricos. Até junho de 2024, as frotas nas cidades latino-americanas eram de 5.449 veículos, dos quais aproximadamente 80% eram ônibus elétricos a bateria de diferentes tamanhos e os 20% restantes correspondiam a trólebus, que estão em cidades como São Paulo e Cidade do México. O Chile, com uma frota de 2.310 ônibus elétricos, e a Colômbia, com 1.590 veículos, lideram o mercado de ônibus elétricos a bateria.

Confira a reportagem completa na 174ª edição da revista Technibus

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