A Irizar Brasil mantém seu forte foco nas exportações, atendendo mercados em regiões estratégicas, com 98% da produção destinada ao exterior. Além dos países da América Latina e do Caribe, a empresa comercializa seus ônibus em locais mais distantes, como Austrália e países da África. Esse processo envolve uma complexa cadeia logística não apenas para transportar os veículos, mas também para importar peças que vêm da Europa.
Segundo Abimael Parejo, diretor comercial da Irizar Brasil, embora compartilhem algumas etapas em comum com o mercado brasileiro, esses países apresentam particularidades significativas no transporte internacional que exigem um planejamento meticuloso. No caso da Austrália, que se tornou fundamental para a empresa, as exigências são extremamente rigorosas.
Atualmente, quase dois mil ônibus da marca produzidos no Brasil circulam pelo país. “Os clientes australianos demandam não apenas os mais altos padrões de qualidade e segurança, mas também dão grande importância às questões de sustentabilidade. Esse mercado utiliza a grande maioria de chassis europeus de última geração, o que por si só já representa um desafio logístico adicional”, comenta Parejo.
O processo comercial desenvolvido para o mercado australiano possui um ciclo de processamento de 12 a 18 meses. O primeiro passo é o lançamento do pedido, seguido pela produção e, finalmente, o embarque dos chassis. Logo que chegam no Brasil, os chassis entram em um processo de programação, ficando disponíveis para o início das preparações de exportação para os destinos finais.
Uma vez prontos para embarque, os ônibus são conduzidos por motoristas especializados em veículos com volante à direita até o porto de Santos, no litoral paulista. Nessa etapa, é realizada uma série de procedimentos críticos: vistorias finais detalhadas, desembaraço aduaneiro e um severo processo de lavagem fitossanitária (uma exigência específica do governo australiano para prevenir a introdução de espécies exógenas em seu ecossistema). Os veículos permanecem armazenados no porto aguardando o navio designado.
O momento do embarque é particularmente crítico. São realizadas múltiplas inspeções, incluindo a verificação com cães farejadores para descartar qualquer possibilidade de transporte de substâncias ilícitas, além de uma minuciosa avaliação da integridade física dos veículos. Essa dupla verificação, que inclui também a inspeção por parte do armador, serve como importante salvaguarda contra eventuais reclamações posteriores.
As linhas marítimas para a Austrália oferecem duas alternativas principais: a primeira segue pela rota do Cabo da Boa Esperança, com transbordo em Singapura, enquanto a segunda utiliza o Canal do Panamá, com transferência no porto de Manzanillo, no México. As duas opções apresentam tempos similares de trânsito, em torno de 60 dias, sendo a escolha determinada por fatores como disponibilidade de navios e custos operacionais.
Países africanos
Para o mercado africano, em especial a África do Sul, onde o grupo Irizar possui uma fábrica, o processo mantém similaridades, porém com algumas diferenças significativas. A lavagem fitossanitária não é exigida, simplificando parcialmente o processo. Além disso, os ônibus geralmente seguem diretamente para o porto de destino, sem necessidade de transbordo, reduzindo o tempo total de trânsito para uma média de 16 à 20 dias.
A unidade da África do Sul recebe produtos já finalizados do Brasil e também parcialmente prontos. “A gente entrega o PKD para ser montado na fábrica, que é uma planta pequena. E ainda enviamos ônibus prontos, diretamente para os clientes, e também para o estoque da própria fábrica. Dali, são vendidos para o sul da África, em países como Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue”, diz o executivo.
O grupo Irizar conta com uma planta no Marrocos, que atende mercados acima do Saara, na África Setentrional, e na África Subsaariana, ao sul do Saara, a demanda é atendida pela Irizar Brasil. “O atendimento é feito em parte por meio da unidade da África do Sul e em parte diretamente para os clientes. Por exemplo, embarcamos recentemente veículos para Camarões, produzidos no Brasil e sem passar pela África do Sul”, complementa. A empresa vai lançar, em maio, na África do Sul, o i6s Efficcient, apresentado ao mercado brasileiro e latino-americano durante a Lat.Bus 2024.
Outra diferença entre os mercados australiano e africano é relativa aos chassis. “No caso da Austrália, a maioria dos chassis que utilizamos é importada, sendo que por volta de 70% vêm da Suécia, principalmente fornecidos pela Scania e pela Volvo. Já para a África, assim como para a América Latina, a maior parte dos chassis é produzida no Brasil. São fabricantes variados, mas principalmente Scania, Mercedes-Benz e Volvo”, detalha Parejo. Além dos chassis, diversos produtos são importados da Europa, como equipamentos de climatização da Hispacold, do grupo irizar, e os tetos de alumínio, utilizados para os ônibus que seguem para a Austrália.

Boas práticas –
O executivo conta que essa operação logística complexa é fruto de 27 anos de experiência e aprimoramento contínuo. “Os embarques são feitos regulamente em lotes pré-definidos. Excepcionalmente em 2023, executamos uma operação diferenciada, com uma contratação de uma embarcação exclusivamente para o transporte das nossas carrocerias para a Austrália, sem registrar qualquer ocorrência de avaria, comprovando a eficácia de nossos processos”, destaca.
Parejo comenta que a capacidade de adaptação da Irizar Brasil às exigências específicas de cada mercado, combinada a parcerias estratégicas com os melhores operadores logísticos, permitem “manter um fluxo de exportação confiável e eficiente, reforçando a posição da marca como líder em mobilidade premium internacional. A complexidade logística das exportações criou vínculos fortes com os nossos clientes, muitos estão conosco desde o início.”
Confira a reportagem completa na edição 174 da Technibus

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