A descarbonização e a eletrificação foram os temas centrais do Fórum Transporte Sustentável, realizado durante a Lat.Bus 2024. O primeiro painel propôs o debate sobre a contribuição do transporte de passageiros na construção de cidades mais limpas e contou com a participação de Danielly Freire, gerente de Clima do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, como mediadora, além de Patrícia Acioli, diretora executiva de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Scania, e Sergio Avelleda, sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana.
Houve um consenso entre os palestrantes de que o transporte coletivo de passageiros é alicerce para o desenvolvimento econômico e urbano e deve ser percebido pelos gestores públicos como parte integrante de um sistema integrado de mobilidade urbana.
“Temos que acionar o freio de arrumação na gestão pública, porque de nada adianta termos uma frota eletrificada de ônibus parada em congestionamentos. Teremos um congestionamento verde, sim, mas tão prejudicial à cidade e aos usuários quanto os veículos a diesel. Além disso, é fundamental a integração dos entes que participam do planejamento e da gestão dos transportes coletivos”, alertou Avelleda.
Na visão dele, é mais importante implementar uma gestão eficiente do transporte coletivo, que garanta pontualidade, confiabilidade e qualidade no serviço à população, de forma a convencer quem hoje se desloca em veículos particulares a migrar para o transporte público. Avelleda aproveitou a Lat.Bus para autografar o livro de sua autoria, Nas trincheiras da mobilidade, recém-lançado.
Patrícia também alertou para o perigo de se recuar nos avanços conquistados, como corredores e faixas exclusivas, ao optar pela eletrificação. “Uma coisa não substitui a outra; são investimentos complementares. Temos que advogar com mais ênfase sobre o transporte coletivo e mudar a narrativa do transporte de passageiros, de modo a transformar a percepção do usuário e dos empresários. A coletivização do transporte é sempre bem-vinda e precisa ser incentivada”, disse.
ESG na mobilidade urbana e no transporte de passageiros foi tema do segundo painel do Fórum e se aprofundou na questão de integrar os princípios ESG no transporte de passageiros para uma mobilidade urbana mais sustentável e consciente, sob a moderação do Professor Marcio D’Agosto, presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS).
Fernanda Rezende, diretora executiva adjunta na Confederação Nacional do Transporte (CNT), abriu o painel com uma apresentação sobre a história da implementação da agenda ESG no mundo.
Francisco A. N. Christovam, diretor executivo da NTU, comentou que o setor opera sob a pressão dos custos, mas que o processo de adoção de normativas voltadas ao ESG é inexorável. “A renovação da frota, com ou sem a eletrificação, é uma grande oportunidade de sofisticar a relação com os passageiros e com os entes públicos. Mas precisamos rever os modelos e condições de financiamento para que essa mudança seja viável e não se transforme em um ônus para o passageiro, com aumento da tarifa, nem para os operadores, com o aumento de custos”, avaliou.
Letícia Pineschi Kitagawa, conselheira da ABRATI, comentou sobre as ações ESG dos associados da entidade, como iniciativas nas localidades em que atuam, e enfatizou que, como empresas de transporte que atuam fortemente no segmento rodoviário interestadual, o transporte acaba sendo o elo dessas populações com o resto do mundo.
Já Emerson Imbronizio, vice-presidente da ANTTUR, alertou para a necessidade de incluir o fretamento no contexto do transporte coletivo de passageiros. “Somos empresas privadas transportando pessoas, colaborando com a redução de emissões de gases poluentes e com a fluência do deslocamento das pessoas, mas não temos acesso aos corredores de ônibus e ficamos presos no congestionamento ao lado dos carros de passeio. Não faz sentido. Isso precisa ser revisto”, alertou.
Finalizando o painel, Ricardo Portolan, diretor de Operações Comerciais, Mercado Interno e Marketing da Marcopolo, comentou, sob a perspectiva da indústria, as diversas iniciativas da empresa na agenda ESG. “Esse é o nosso caminho: a mobilidade sustentável”, afirmou.
Para abordar o tema do papel da eletrificação no transporte sustentável, o evento contou com a participação de Adriana Taqueti, diretora de operações da TEVX Higer no Brasil. Ela reforçou o papel de um planejamento eficiente como crucial para o êxito dessa transição: “A transição energética demanda um olhar sistêmico e um planejamento de médio prazo para que os benefícios no campo da sustentabilidade, seja ela ambiental ou financeira, possam ser atingidos de forma estruturada e reflitam para a sociedade como um todo”.
Um exemplo citado foi a experiência recente em Cascavel, onde a montadora participou ativamente do processo de implantação de um complexo de eletromobilidade que é referência no país. O projeto, que durou três anos, contempla um eletroterminal com capacidade para carregar 14 ônibus simultaneamente, uma estação solar de geração de energia capaz de abastecer o eletroterminal com sobra de produção, que pode ser utilizada para prédios públicos, além de 15 ônibus elétricos da marca Higer, que equivalem a 12% da frota do município.
E fechando o evento, a temática teve como foco experiências práticas da eletromobilidade no transporte de passageiros, com a apresentação de cases, aprendizados e desafios futuros, apresentados pelos representantes das cidades em processo de implementação de frotas elétricas. A mediação foi feita por Mariana Batista, gerente da TUMI LATAM E-Bus Mission C40.
Participaram do painel Luis Felipe Vidal Arellano, secretário de Fazenda da Cidade de São Paulo, que detalhou o processo utilizado na cidade para a adoção do modelo de subvenção para a aquisição de ônibus elétricos; Ana Jayme, assessora de Investimentos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), que explicou como a cidade avança na eletrificação; e Fabrizzio Müller, secretário de Mobilidade Urbana de Salvador, que trouxe informações sobre os projetos em prática na capital da Bahia.