O compromisso com os transportes urbanos nas eleições

Francisco Christovam é diretor-executivo (CEO) da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (Fetpesp) e da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), bem como membro do Conselho diretor da Confederação Nacional do Transporte (CNT)

Por Francisco Christovam

Neste ano, os 5.568 municípios brasileiros terão eleições municipais para a escolha dos prefeitos e prefeitas, bem como dos vereadores e vereadoras que deverão conduzir o destino de suas cidades, no período de 2025 a 2028.

Nos meses que antecedem as eleições, equipes dos candidatos de todos os partidos trabalham na elaboração de programas de governo ou de uma lista de propostas e projetos que serve de base para a discussão com os eleitores e para a realização de comícios e de debates organizados, normalmente, pelos jornais ou pelas emissoras de rádio e de televisão locais.

Tradicionalmente, serviços públicos, emprego e zeladoria são os temas que mais interessam aos eleitores e, por consequência, acabam merecendo uma maior atenção por parte dos candidatos.

O transporte coletivo urbano, mesmo sendo um serviço público essencial, estratégico e fundamental para o desenvolvimento socioeconômico das cidades, não tem sido tratado com a devida importância, nas campanhas eleitorais. Vale destacar que o transporte público é, também, um dever do Estado e um direito social, como a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, entre outros, nos termos do artigo 6º da Constituição Federal.

É muito comum que, na área dos transportes urbanos, as propostas apresentadas pelos candidatos se restrinjam à redução ou manutenção de tarifas, aumento das gratuidades, aumento da frota de ônibus e do número de linhas e até a eventual substituição das empresas que operam, localmente, o transporte urbano. Infelizmente, na maioria dos casos, as propostas têm caráter eleitoreiro, não são factíveis e não possuem nenhum compromisso com as necessidades da população e, muito menos, com a possibilidade de melhorar a qualidade dos serviços prestados.  

Neste momento, o setor passa por uma relevante mudança de visão por parte das autoridades, das empresas operadoras e dos próprios passageiros, materializados, principalmente, na discussão da desoneração da folha de pagamento das empresas e da reforma tributária, que podem reduzir o custo do serviço e o preço da tarifa para o passageiro; na concessão de subsídios públicos às passagens, que podem chegar até a zerar a tarifa, como já acontece em 105 cidades brasileiras, número que vem aumentando a cada dia; e na descarbonização da frota de ônibus, com a substituição de ônibus convencionais por veículos novos que poluem menos. Parte dessas mudanças podem ser resolvidas, inclusive, com a aprovação do novo marco legal do transporte público, que tramita no Congresso, e que vai estabelecer novas regras na relação entre o poder concedente e as empresas privadas, que operam os serviços de transportes de passageiros.

Todas essas iniciativas precisam garantir a prestação de um serviço de qualidade, de baixo custo, com características de universalidade e de acessibilidade. Os futuros gestores das cidades brasileiras precisam introjetar as mudanças em andamento, incorporar os novos conceitos e enxergar o transporte urbano não como um negócio de empresa privada; mas, como um serviço público — dever do Estado e direito do cidadão — que garante, inclusive, o acesso aos demais serviços públicos. Sem um transporte adequado, o doente não chega ao hospital, o estudante não vai à escola, o trabalhador não se desloca até o local do seu emprego e a população não tem acessibilidade às outras atividades inerentes à vida nas cidades.

Assim, nas próximas eleições de outubro, é importante que os candidatos e candidatas não fiquem nas promessas vazias e demostrem reais compromissos com um transporte público de melhor qualidade. É preciso investir na modernização da infraestrutura necessária para a prestação de um melhor serviço, com efetiva prioridade ao transporte coletivo; respeitar os contratos de concessão ou permissão com as empresas operadoras, para que elas possam dispor de uma frota de ônibus, modernos, confortáveis e com baixa idade média; e, também, garantir uma tarifa pública módica aos passageiros, para que mais gente faça a opção por esse meio de transporte, em seus deslocamentos diários.

Veja também

Por