A eletrificação do transporte urbano de passageiros tem tudo para dar certo no Brasil. Mas ainda é preciso muito investimento, planejamento e, principalmente, que os agentes públicos repensem a lógica do uso da cidade. Especialistas, empresários e gestores falaram ao Podcast do Transporte durante Seminário da NTU, em Brasília, nos dias 08 e 09 de agosto.
Partindo da afirmação do presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco, durante o evento, de que “não há mais possibilidade de ficarmos fora da discussão sobre a transição energética no Brasil”, o panorama sobre a cadeia produtiva é animador e há otimismo sobre a rápida chegada do ponto de virada a partir do qual a escala de produção vai diminuir os preços, e atrair investimentos e empresas.
Existe no setor uma atenção para que não se repita a tentativa de transição do diesel para o gás, há alguns anos, que acabou em prejuízos por falta de planejamento e infraestrutura. As empresas tentam se garantir até em relação a um possível modismo eleitoral em torno do ônibus elétrico, com muito acompanhamento e conscientização sobre o melhor uso da tecnologia.
Milena Romano, da Eletra, fabricante da maioria dos ônibus elétricos em atividade hoje, conta que os empresários já tratam com o governo a garantia de mais recursos, porque o investimento inicial nos veículos é muito alto, mais de três vezes o preço do equivalente diesel. “De onde sai esse dinheiro, com os juros do jeito que estão altos no Brasil? Precisa haver uma participação muito forte do governo federal em relação aos créditos, incentivos, facilidade pra este crédito chegar aos municípios pra viabilizar esta conta”.
O Secretário do Meio Ambiente Urbano do Ministério do Meio ambiente, Adalberto Maluf, disse ao Podcast do Transporte que há interesse do governo no financiamento, mas que a eletrificação é também um meio de rediscutir as cidades: “Todo mundo fica encantado com aquilo, mas não adianta só comprar o ônibus e jogar lá no trânsito (e ele) ficar parado”.
O especialista Fernando Fleury está coordenando uma pesquisa para a ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, e apresentará brevemente as conclusões, concretizadas em esperadas planilhas de custos. Mas haverá também advertências de planejamento, para evitar casos como o de uma garagem encontrada numa cidade de porte que tinha ao fundo um gerador a diesel. O responsável se defendeu dizendo que ter uma subestação elétrica significaria derrubar a luz de todo bairro a cada recarga. “Simplesmente começou pela ponta errada”, conta Fleury
A indústria está preparada, mas ainda está com o freio de mão puxado para o elétrico sair, afirmou Danilo Feztner, diretor de operações comerciais da Iveco. “O primeiro objetivo é introduzir (os novos modelos da empresa) no Chile, Colômbia, Uruguai, Costa Rica, países que tem esta característica de comprar veículos elétricos e ao mesmo tempo não têm barreiras de importação como o Brasil”.
Flávio Pimenta, responsável pela área de e-mobilidade da Nansen está acompanhando o crescimento que os elétricos precisam para justificar o investimento dos fabricantes. E está otimista: “A gente está quase na curva e isso (o ônibus elétrico) vai deixar de ser protótipo e vai ser utilizado em grande escala”.
No bate papo final entre Alexandre Pelegi, apresentador do Podcast do Transporte e Adamo Bazani, editor-chefe do Diário do Transporte, a conclusão é de que “ainda falta energia” para os ônibus elétricos. O exemplo é o de São Paulo, maior cidade do país, que tem compromisso de entrega de entregar 2 mil e 600 veículos em um ano e meio e ainda não tem nenhum deles rodando pelas ruas, e nem prazo para definir ajustes de contratos e formas de financiamento.
Para ouvir, entre em www.podcastdotransporte.com.br.
O Podcast do Transporte é uma realização conjunta do Diário do Transporte e da OTM editora, com apoio da ANTP. A produção é da Toda Onda.