João Paulo Ledur, diretor de estratégia e transformação digital da Marcopolo: “O próprio avanço das tecnologias fará com que a transição para os ônibus elétricos ocorra de forma natural”

O executivo informa que a receptividade do Attivi, o modelo elétrico da Marcopolo, tem sido bastante positiva. “Já há planejamento de testes em diversas cidades do país e a programação de produção de 30 unidades até o final de 2022”

Technibus – Em dezembro do ano passado, a Marcopolo apresentou o Attivi, seu primeiro modelo elétrico. Quais os maiores diferenciais do Attivi?

João Paulo Ledur – Os principais diferenciais do Attivi são vários em termos de eficiência, tecnologia aplicada e capacidade de produção. O Attivi é o modelo que oferece a maior capacidade de transporte entre os modelos já apresentados no mercado nacional. Isso é possível graças à expertise da Marcopolo no desenvolvimento da carroceria e melhor aproveitamento do espaço interno.

Outros diferenciais são a adoção de diversos fornecedores nacionais, o que eleva o índice de nacionalização do veículo e impulsiona o desenvolvimento da indústria brasileira, e as diversas parcerias em desenvolvimento pela Marcopolo para poder oferecer a melhor solução para cada mercado e região de atuação.

Technibus Como tem sido a resposta do mercado ao Attivi? A Marcopolo já foi procurada para iniciar testes com o modelo?

João Paulo Ledur– Sim. A receptividade tem sido muito boa. Já há planejamento de testes em diversas cidades do país e a programação de produção de 30 unidades até o final de 2022.

Technibus – A Marcopolo participou também de outros projetos de modelos elétricos, em parceria com a BYD, por exemplo. A empresa deve continuar a participar de parcerias deste tipo?

João Paulo Ledur – Sim. A Marcopolo tem como estratégia o desenvolvimento de parcerias com diferentes players globais para poder oferecer as soluções mais eficientes e adequadas para cada mercado. Temos parceria com a Volvo, na Austrália, e com outras empresas em diferentes países, como a China, por exemplo.

Continuamos parceiros da BYD e de outras empresas, mas para antecipar a oferta para o mercado, também decidimos pelo desenvolvimento de uma solução própria de veículo elétrico.

Technibus – Quais os próximos passos da Marcopolo no mercado de eletrificação? Quais os novos projetos ou ações?

João Paulo Ledur – Seguiremos com nossos projetos de desenvolvimento de soluções completas para o fornecimento de veículos elétricos, seja junto a nossos parceiros tradicionais, mas também com nosso produto integral. Importante ressaltar que não estamos apenas olhando o produto, mas todo o ecossistema de sinergias ao redor do veículo, com relação a infraestrutura de energia, carregadores, linhas de financiamento, gerenciamento de baterias e reciclagem e segunda vida das baterias. O sucesso da eletrificação das frotas de ônibus passará necessariamente por esse conjunto de fatores evoluindo de forma uniforme.

Technibus – Como a Marcopolo avalia o processo de eletrificação do transporte coletivo por ônibus no Brasil?

João Paulo Ledur – O processo de eletrificação no Brasil ficou estacionado em relação a outros países, inclusive da América do Sul, mas parece que, desde o ano passado, começou a engrenar. Desde o anúncio do nosso modelo Attivi, passando pela apresentação de veículos de outras fabricantes, até a posição de alguns governos estaduais e municipais em acelerar a eletrificação, tudo indica que o processo será mais dinâmico e rápido.

O compromisso, por exemplo, do governo da cidade de São Paulo de ter 20% de sua frota de veículos movidos a energia sustentável, poderá transformar o Brasil em um dos líderes mundiais na adoção dessa tecnologia.

Technibus – Quais as maiores dificuldades para que a venda de ônibus elétricos avance no país?

João Paulo Ledur – O custo inicial de investimento para a eletrificação ainda é o grande desafio. Certamente não o único, mas talvez o maior entrave para que os projetos possam acontecer de forma mais acelerada. Vivemos num país que ainda depende exclusivamente das receitas dos usuários pagantes do transporte coletivo para o financiamento dos sistemas de transporte. Em países onde essa transição já está acontecendo, existe apoio direto do poder público com linhas de crédito diferenciadas e formas de subsidiar a troca dos veículos. Afinal, estamos também falando de descarbonização das nossas cidades. No médio e longo prazo, esses investimentos quase proibitivos iniciais serão compensados com custos significativamente menores de operação, e o próprio avanço das tecnologias fará com que a transição para os ônibus elétricos ocorra de forma natural.

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