Paulo Arabian, diretor comercial da Volvo Buses: “No segmento rodoviário, a perspectiva é de que o crescimento possa chegar a 40%”

Segundo Arabian, a Volvo começou 2022 com uma carteira muito positiva devido aos negócios realizados no final do ano passado, e já há vendas fechadas para o primeiro quadrimestre do ano, tanto no fretamento quanto no urbano e no rodoviário

Technibus – Como o senhor avalia o mercado de ônibus em 2022?

Paulo Arabian – O mercado de ônibus tem muitas oportunidades neste ano, pois há possibilidade real de compras em todos os setores.

Technibus – Quanto o mercado deverá crescer neste ano?

Paulo Arabian – A Volvo mantém a mesma previsão da Anfavea e espera crescimento de 10% a 15% para todo o setor. Isso é pouco diante de tudo o que perdemos, mas em alguns nichos o tamanho será diferente. No rodoviário, a perspectiva é de que o crescimento possa chegar a 40%.  

Technibus – Como estão as encomendas de ônibus para a Volvo?

Paulo Arabian – A empresa iniciou janeiro com muitos pedidos. A nossa carteira começou o ano muito positiva com os negócios fechados no final do ano passado, e já temos vendas fechadas para o primeiro quadrimestre do ano, tanto no fretamento quanto no urbano e no rodoviário.

Technibus – A falta de componentes preocupa a empresa?

Paulo Arabian – Preocupa sim, mas a Volvo está conseguindo administrar esse problema. Se uma peça a ser entregue just in time falhar, a equipe troca o modelo do ônibus ou muda o turno de produção, mas não deixa de produzir o veículo. Isso está sendo muito bem gerenciado pela equipe de compras e produção.

Technibus – Como está o mercado de rodoviários?

Paulo Arabian – O segmento rodoviário ainda não se recuperou na plenitude. A recuperação da frota está em um patamar médio de 85% a 90% do que foi na pré-pandemia e é melhor o melhor resultado do que vivemos nos últimos meses, mas ainda não nutriu os empresários a ponto de renovarem toda a frota que não foi trocada até agora. Mas há luz no fim do túnel, porque depois de dois anos de pandemia muitas frotas de ônibus não foram renovadas e a idade média dos veículos continua avançando, o que aumenta a depreciação do veículo e eleva o custo para as empresas.   

Technibus – Com a divisão em dois blocos como fica a operação do segmento de rodoviários?

Paulo Arabian – A linha regular, que representa 50% do total, é controlada por grandes empresários, e as linhas menores, que ficam com outros 50%, são representadas pelo varejo com o controle dos médios empresários para as operações de turismo de compra, religioso, negócios e lazer.  Então, a luz no fim do túnel para o rodoviário se inicia por esses dois fatores somados à antecipação de compra para fugir da migração para os modelos com motor Euro 6 a partir de 2023, que estarão mais caros.   

Technibus – Como estão as operações da linha regular?

Paulo Arabian – Com o aumento no custo de insumos no transporte aéreo, que ainda não se recuperou na totalidade, o ônibus de linha regular passa a ser uma oportunidade para a população se deslocar. Então, nesse primeiro passo de recuperação o ônibus de linha regular já tem uma ocupação mais saudável do que tinha na pandemia. 

Technibus – E as operações dos ônibus que atuam no setor de turismo?

Paulo Arabian – No verão deste ano, com o avanço da vacinação, o setor de turismo trouxe alívio para as empresas que foram impactadas pelas crises pandêmicas que o país viveu. Isso permitiu que quase a totalidade de ônibus que estavam parados voltassem a faturar, dando ânimo para os pequenos e médios empresários que atuam neste mercado, pois com a melhora na receita eles conseguiram dar sequência nas renegociações com os bancos referentes a folha de pagamento dos funcionários, com as estruturas que eles redimensionaram e adequaram.

Technibus – E o mercado de fretamento?

Paulo Arabian – No mercado de fretamento, dependendo da estrutura e da robustez financeira das empresas, a demanda é por ônibus com motor traseiro, equipado com ar-condicionado, com mais conforto e sofisticação para o transporte de funcionários, como é comum na cidade de São Paulo, em veículos que circulam na região da Berrini, no Itaim e na Avenida Paulista, por exemplo. Fora de São Paulo, a vocação do fretamento é para um carro com motor dianteiro, com quatro ou seis cilindros, que pode ter ou não ar-condicionado e sanitário, com tíquete médio mais espartano. Então, parte do rodoviário com motor traseiro para uso em fretamento segue parado porque o modelo de trabalho em home office tirou a necessidade de frequência das pessoas nos escritórios. Mas o fretamento que usa ônibus de motor dianteiro, seguiu muito forte em 2020 e 2021, e não mostra desaceleração em 2022.

Technibus – Então os negócios para o setor de fretamento estão aquecidos?

Paulo Arabian – Sim. Os negócios estão muito aquecidos no início deste ano como estavam ao longo de todo o ano passado. Parte disso também é antecipação de compra, pois por determinação de contrato, alguns empresários já vislumbram vantagem em antecipar compras para não correr o risco de comprar um carro com nova tecnologia de motorização, que vai custar mais caro.

Technibus – Qual a situação do mercado de urbanos? 

Paulo Arabian – O mercado de urbanos, diferente do rodoviário, não interrompeu a operação desde março de 2020 e precisou colocar mais ônibus nas ruas para garantir a ocupação baixa e preservar a saúde dos passageiros durante a pandemia. Isso acarretou aumento de custo e redução de receita com poucos passageiros pagando o transporte coletivo. Esse gap começou a incorrer na quebradeira, com os pedidos de reclassificação de crédito das empresas e de recuperação judicial. Algumas tiveram que devolver seus contratos ou se colocaram à disposição para serem adquiridas por outras e valor da dívida já ultrapassa os R$ 22 bilhões.

Technibus – Há perspectiva de melhora para este setor?

Paulo Arabian – Sim. O fim da postergação do prazo de renovação, que encerra este ano, e a chegada da Euro 6 em 2023 traz excelentes oportunidades de compra e renovação de frota para o setor urbano no Brasil. O agravante é a saúde financeira das empresas que está muito mais debilitada do que as que atuam no segmento rodoviário que conseguiram se adequar, enquanto o sistema urbano tem garagens e uma máquina mais robusta e custosa para administrar.

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