Technibus – Como a pandemia afetou as operações da Via?
Leandro Aliseda – Em um primeiro momento, o impacto imediato em vários de nossos parceiros foi a redução de pessoas transportadas e um consequente período de incerteza. Porém, rapidamente a Via percebeu que dentro desta redução também havia uma mudança nas necessidades de mobilidade da população, e imediatamente evoluiu sua solução para se adaptar a este novo cenário. Em várias operações, implementamos redução da capacidade máxima nos veículos, restrição do uso para somente trabalhadores de serviços essenciais, aumento da área de cobertura para atender hospitais, com pontos de parada virtuais em suas portas principais, além de horários diferenciados para transportar médicos e enfermeiros nos turnos noturnos. Chegamos até a desenvolver o serviço de entrega de alimentos, coordenando frotas próprias ou voluntários que levavam comida à população que não podia se deslocar para ter acesso a supermercados.
No Brasil, nossas operações em Fortaleza foram suspensas por algumas semanas, mas o sistema está em funcionamento e com perspectivas de crescimento. Em Goiânia, o serviço foi interrompido por alguns meses devido à pandemia e ainda não temos a confirmação de quando retornará. Em Brasília, estamos aguardando a melhora das condições para lançar os serviços. Passamos a atuar em Santiago, Chile, no ano passado e continuamos crescendo, apesar da pandemia.
Technibus – Poderia dar mais detalhes dos serviços da Via em Santiago?
Leandro Aliseda – Nossa operação no Chile se iniciou em outubro de 2020, com o objetivo de transportar pacientes assegurados pela Asociación Chilena de Seguridad para suas consultas e tratamentos médicos, e de volta a suas casas. Hoje, atuamos em uma área de 5,4 mil quilômetros quadrados na região metropolitana de Santiago, transportando cerca de 15 mil pacientes por mês, por meio de uma frota de mais de 50 veículos.
Technibus – Como as cidades em que a Via opera no mundo estão lidando com a pandemia neste momento?
Leandro Aliseda – Como temos clientes no mundo inteiro, é interessante ver o estágio de cada um em relação à pandemia. Ainda temos cidades e operadores que permanecem com restrições para o transporte público, para garantir a segurança dos passageiros no transporte compartilhado. Também estamos vendo novas necessidades específicas da pandemia, como por exemplo o transporte destinado exclusivamente a centros de vacinação, que é um caso claro de demanda que varia diariamente e que necessita de uma roteirização muito flexível. Adicionalmente, algo muito forte foi o aumento da necessidade de integração dos serviços sob demanda à rede de transporte pública tradicional, para oferecer uma maior facilidade e flexibilidade na locomoção das pessoas que contam com o transporte público no seu dia a dia.
Technibus – Qual o legado que esses impactos vão trazer ao transporte público sob demanda?
Leandro Aliseda – Primeiramente, como falamos acima, ficou claro o valor que um transporte coletivo dinâmico não deve ser somente destinado a serviços específicos, mas deve se conectar a linhas de ônibus, metrôs, trens e outros modais para que a população possa se locomover em rotas mais longas utilizando o transporte público da cidade. O transporte público sofreu não somente com a redução de locomoção das pessoas, mas também com uma migração ao transporte individual por um medo de contato. Mas isto não será sustentável para a cidade quando a população voltar aos padrões normais de mobilidade. E as pessoas somente voltarão ao transporte público se tiverem uma oferta que se acomode melhor ao que esperam em termos de flexibilidade e qualidade de serviço.
Outro ponto importante que vimos é que com a redução drástica de passageiros, os operadores de linhas de ônibus sofreram muito para conseguir se adaptar. Eles se viram obrigados a manter uma frota mínima que não se justificava economicamente, principalmente em itinerários que já tinham uma baixa demanda historicamente. Como resultado, vimos que em algumas cidades em que temos operações a municipalidade decidiu substituir estas linhas fixas por linhas dinâmicas, de forma a utilizar mais eficientemente sua frota para atender determinadas regiões da cidade.
Technibus – Quais as novidades da Via previstas para 2021?
Leandro Aliseda – A grande novidade do momento foi a aquisição da Remix, uma empresa que tem uma das melhores plataformas tecnológicas de planejamento de linhas de transporte público. Esta plataforma já é usada em vários países por mais de 350 operadores e agências de transporte público, e provou que é possível redesenhar linhas de transporte público de forma poderosa, intuitiva e colaborativa. As ferramentas da Remix incorporam diversas fontes de dados sobre a população e sua mobilidade, e oferecem uma plataforma em que é possível construir dinamicamente cenários de reprogramação de linhas e até de redesenho de itinerários. Para cada cenário construído, são fornecidos imediatamente resultados como número de pessoas transportadas, frota necessária, impacto nos custos e área abrangência da linha.
A plataforma também facilita a comunicação entre as agências de transporte, operadores de transporte e a população durante projetos de replanejamento da rede de transporte ou alterações emergenciais. Estamos muito empolgados com esta união, pois assim a Via está muito mais capacitada em suportar as cidades em uma visão mais completa de como desenhar a melhor rede de transporte público para a população, considerando diversos modais e suas integrações dentro do perímetro urbano.