Sonia Moraes
Durante a apresentação dos resultados do mercado automobilístico no primeiro quadrimestre de 2021, Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) voltou a falar da baixa competitividade do Brasil como fabricante de veículos. O país é o sétimo mercado em vendas, o nono em produção e o 26º em exportação, segundo o levantamento feito pela Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Automotores (OICA) no período de 2011 a 2020.
“Até 2014, o Brasil era o quarto maior mercado automotivo, mas a crise econômica que enfrentou no governo Dilma, com queda de 3,5% do PIB em 2015 e 2016, levou o setor ao patamar de dois milhões de veículos (antes era 3,5 milhões), terminando o período de 2015 e 2016 na oitava posição no ranking mundial de vendas”, observou Moraes.
“Em 2017 e 2018, o setor automotivo começou a se recuperar e em 2019, estava voltando a ser o sexto maior mercado em vendas, quando enfrentou a pandemia, uma crise global, e todos os mercados caíram. Mas o Brasil caiu um pouco mais, de sexta para sétima posição em vendas e de oitavo para nono lugar em produção.”
Com base nos dados da OICA, o presidente da Anfavea comentou que no mundo a venda de veículos recuou 14% em 2020 com o total de 77,9 milhões, quando comparado aos 90,4 milhões emplacados em 2019. E a produção encolheu 16%, totalizando 77,6 milhões, ante os 92,1 milhões de veículos fabricados em 2019. “No Brasil, a venda caiu 26%, com 2,05 milhões de veículos, e a produção teve queda de 32%, com 2,01 milhões”, disse Moraes.
Como exportador de veículos, o Brasil está 26º lugar no ranking mundial, com US$ 5,8 bilhões arrecadados em 2019, segundo a OICA e o OEC (Observatório de Complexidade de Econômica). Esse resultado, segundo o presidente da Anfavea, é porque o Brasil produz para o seu próprio consumo e não consegue aumentar as exportações de forma substancial.
Em 2020, o país exportou 300 mil veículos. “Temos no Brasil montadoras com o mesmo padrão tecnológico e de eficiência das matrizes, com mão de obra qualificada, usando a indústria 4.0 e big data, tudo que é necessário para ter competitividade, mas quando sai da porta para fora há muitas dificuldades”, criticou Moraes.
“Se a indústria exportar de 15% a 20% do total produzido, acumulará créditos tributários que são absurdos”, salientou Moraes. “Isso tudo demostra que o Brasil precisa se reinventar, mudar a questão do custo e se tornar um país competitivo. Também é fundamental ter a indústria de transformação capaz de exportar e não se limitar somente a exportação de minério de ferro, soja e petróleo.”
Na avaliação de Moraes, a ampliação das exportações é crucial para o fortalecimento da indústria. “Para isso, é necessária a criação de uma política de exportação com medidas capazes de reduzir o custo Brasil, a ampliação dos acordos internacionais de comércio, a modernização e o fortalecimento do sistema de financiamento às exportações”.
Entre os países destacados no ranking mundial, a Alemanha está em primeiro lugar na lista de exportadores de veículos, com US$ 158 bilhões arrecadados com vendas externas em 2019. “A Alemanha é um país que tem vocação para exportação. Tem facilitação no comércio exterior, não tem burocracia e conta com uma logística eficiente”, observou Moraes.
O México, importante competidor do Brasil, exportou US$ 80,1 bilhões de veículos em 2019. “Além de ter os Estados Unidos como grande parceiro comercial, a indústria automobilística mexicana tem competitividade”, disse Moraes. Em 2020, produziu 3,2 milhões de veículos – 21% a menos que em 2019 –, consumiu 1 milhão e exportou 2,7 milhões. Foram importados 600 mil veículos.
A Coreia do Sul é outro país que se destaca no ranking mundial, com a exportação de US$ 43,2 bilhões de veículos. “A Coreia tem vocação de exportação muito forte. Produz mais do que precisa para o mercado interno”, comentou Moraes. Em 2020, produziu 3,5 milhões de veículos –11% a menos que em 2019 –, consumiu 1,9 milhão (6% a mais que em 2019) e exportou 1,9 milhão. A importação atingiu 300 mil veículos.
No ranking entre os 18 países em desenvolvimento, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Coreia está em primeiro lugar na classificação geral no período de 2019 e 2020, com destaque em infraestrutura logística (o Brasil está 15º lugar) e tecnologia e capacidade de inovação (o Brasil está em 8º lugar).
No ranking global de competitividade de 141 países, segundo estudo feito em 2019 pelo World Economic Forum _, que inclui instituições, infraestrutura, adoção de ICT (Tecnologia da Informação e Comunicação), estabilidade macroeconômica, saúde, habilidades, mercado de produtos, mercado de trabalho, sistema financeiro, trabalho de mercado, dinamismo de negócios e capacidade de inovação _, a Coreia do Sul está 13º lugar, o México em 48º, a Índia em 68º e o Brasil em 71º.
“Isso confirma a tese da Anfavea de que o Brasil precisa avançar substancialmente para sair dessa situação. E isso já era urgente antes da pandemia. A Anfavea fala sobre isso há mais de dois anos, para o governo aprovar a reforma estruturante que altere esse sistema para que a indústria, além de suprir o mercado interno nessa recuperação pós pandemia, possa participar do jogo global no setor automotivo”, disse Moraes.
Presença Global
Em todo o mundo, cujas vendas totalizaram 78 milhões de veículos em 2020, o Brasil tem 0,44% de participação. Na América Latina (exceto México, Argentina e Brasil), cujas vendas atingiram 900 mil veículos, a fatia é de 10,6%. No México, que teve um milhão de veículos vendidos, a participação é de 7%. Na Argentina (300 mil veículos), a fatia é de 51,6%; na União Europeia (14,1 milhões) é de 0,01%; na África (900 mil) de 0,3% e na Ásia (7,3 milhões) de 0,01%. “Fora do nosso quintal, a América Latina, o Brasil tem muita dificuldade de competir. Por isso, a Anfavea defende muito a exportação, que é importante para a economia do país”, disse Moraes.