Sonia Moraes
Mesmo diante da fragilidade que se encontra o país, com o agravamento da doença infecciosa causada pelo coronavírus, a Mercedes-Benz, que há 64 anos lidera o mercado de ônibus, está confiante que o segundo semestre vai ser melhor. A estimativa da empresa é que o setor alcance neste ano 13% de crescimento, com o emplacamento de 16 mil veículos.
“O ano de 2021 também será muito difícil como foi 2020, mas com um pouco mais de esperança por conta da vacinação”, afirma Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.
Para o segmento de urbanos e rodoviário, no primeiro semestre ainda haverá dificuldades devido ao processo de vacinação estar muito aquém das expectativas. “Mas o segundo semestre tende a ter um crescimento contínuo para esses dois segmentos, quando as empresas começarão a ganhar um pouco de oxigênio, mas não haverá compras extraordinárias”, prevê o diretor da Mercedes-Benz.
De todo o mercado de ônibus, o segmento de urbanos foi o que apresentou o pior resultado em janeiro por ter sido muito prejudicado pela Covid-19 com a perda de passageiros. Este setor teve 328 veículos emplacados, o que representou queda de 52% sobre o mesmo mês de 2019.
O rodoviário, que também perdeu passageiros, principalmente do turismo, registrou retração de 67%, com 54 carros vendidos em janeiro e o segmento de micro-ônibus teve redução de 19%, com 241 veículos emplacados no país. “A queda na venda de micro-ônibus ocorreu porque esse modelo de ônibus é usado para o serviço urbano, rodoviário, turismo e fretamento de eventos, segmentos que foram muito impactados pela pandemia”, observa Barbosa.
Em compensação, os modelos escolares e para fretamento foram os que apresentaram melhores resultados no primeiro mês de 2021 e deverão manter a boa performance até o fim do ano, segundo Barbosa. “O escolar, que normalmente representa de 18% a 20% do total de ônibus vendidos, representou 30% em 2020. E em janeiro de 2021, este modelo teve 312 unidades emplacadas, de um total de 1.027 carros vendidos em todo o mercado de ônibus, 32% a mais que no mesmo mês de 2020. E este ano deverão ser emplacados três mil ônibus escolares referentes à licitação que ocorreu no começo de 2019”, prevê Barbosa.
O mercado de fretamento emplacou 119 ônibus em janeiro deste ano, crescimento de 26,6% na comparação com os 94 veículos vendidos no mesmo mês de 2020, e a Mercedes-Benz garantiu 69,7% de participação com 83 veículos comercializados no país. “Enquanto houver demora na vacinação e a manutenção do distanciamento das pessoas nas viagens de ônibus por parte das empresas, o mercado de fretamento vai continuar tendo bons resultados, que deverão avançar até o fim do ano”, avalia Barbosa.
O diretor da Mercedes-Benz esclarece que a queda de 30% nas vendas de ônibus em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2020, quando houve o emplacamento de 1.027 veículos a partir de oito toneladas, ocorreu porque, em janeiro do ano passado, o setor começou forte e não havia pandemia.
Agora, este mercado que foi muito prejudicado pela crise sanitária, enfrenta muitas dificuldades para manter a frota em operação. “No início da pandemia, as empresas de urbanos tiveram queda de 75% no número de passageiros. Hoje, a retração está entre 40% e 50% e as empresas estão operando com 50% de passageiros”, informa Barbosa. “Quando existe um colapso não há o que fazer. Por mais que o operador queira renovar a frota de ônibus, ele não consegue crédito. Então, somente a partir de 2022 vamos ter um volume enorme de renovação de frota que ficou represado neste ano.”
Os contatos com os clientes continuam normalmente, segundo Barbosa. “A necessidade e a vontade de renovar a frota existe, mas enquanto não houver horizonte e equilíbrio econômico financeiro para as operações vai ficar difícil comprar grandes volumes de ônibus, exceto para o fretamento”, afirma o diretor.
Novo cenário –
Quando a situação do país voltar à normalidade, a quantidade de pessoas que usarão o transporte público irá diminuir, com o grande número de demissões e a adesão ao home office pelas empresas. “Não acho que vamos ter 100% de passageiros que tínhamos em 2019, vamos atingir de 80% a 90%”, prevê Barbosa.
Após a pandemia, o transporte urbano também vai ter que se adaptar à uma nova realidade. “Este setor vai ter uma readequação da frota, como está acontecendo em São Paulo, que chegou a ter uma frota de quase 14 mil ônibus e tem um programa para reduzir a quantidade de veículos. É importante mencionar que o transporte público vem perdendo passageiros de sete anos para cá, seja para o Uber, para a bicicleta ou pelo deslocamento a pé. Agora, a pandemia acelerou a perda de usuários”, afirma Barbosa.
O segmento de rodoviários tende a voltar ao normal assim que avançar a vacinação, e deve se recuperar mais rápido. “Assim como o urbano, nos rodoviários teremos no primeiro semestre poucos grupos comprando. Serão compras pontuais, como ocorreu em Vitória e Cuiabá”, calcula o diretor da Mercedes-Benz.
Para o setor de fretamento, a Mercedes-Benz tem 200 ônibus encomendados pelas empresas que prestam serviço para a Vale. “É um programa de renovação de frota da mineradora, que exige que os ônibus sejam equipados com muita tecnologia e sistema de segurança”, informa Barbosa.
Parte das vendas dos modelos para fretamento foi realizada no ano passado e outra parte, neste ano, e os veículos serão entregues até maio deste ano. “Assim como mineração, o setor de energia e de agricultura são segmentos que estão muito aquecidos, e as empresas que prestam serviço de fretamento nestas áreas estão tendo bons resultados e estão comprando ônibus”, comenta Barbosa. Entre os vários modelos de ônibus que a marca oferece para fretamento, o chassi OF 1621 lançado no ano passado vem tendo grande aceitação dos clientes, segundo Barbosa.
A Mercedes-Benz também está confiante em recuperar a participação de mercado a partir do segundo semestre, além de se manter na liderança do setor, independente das condições que se encontrará o país. “No fretamento a empresa vem tendo uma performance muito boa e fechou com quase de 60% de participação no ano passado. Mas é o urbano, o qual tem 75% de participação, que vai fazer a diferença e a minha esperança é que, após a vacinação, esse segmento possa ter melhor desempenho no segundo semestre”, afirma Barbosa.